22/05/2013

Postos não têm estrutura para atender à atual demanda


Além da falta de médico, os pacientes ficam sem remédio; Câmara votará crédito de R$ 600 mil para novo posto

Mesmo com as promessas de maiores investimentos na área de saúde em Fortaleza, um dos principais focos da atual gestão municipal, os postos de atenção básica espalhados pela Cidade continuam sofrendo com velhos problemas, e quem sai perdendo é a população carente. Enquanto reformas pontuais são realizadas nas infraestruturas para sanar falhas de caráter emergencial, faltam médicos, remédios e vagas para consultas e exames. Contudo, sobra demanda.

Por dia, o CSF Carlos Ribeiro, um dos mais movimentados, recebe cerca de 400 pessoas em busca de atendimento, o que gera dificuldades FOTO: JL ROSA

Diariamente, o Centro de Saúde da Família (CSF) Carlos Ribeiro, um dos mais movimentados da Capital, recebe cerca de 400 pessoas em busca de atendimento médico. Houve dias, no entanto, que apenas oito profissionais, dentre clínicos gerais e especialistas, estavam presentes no local, como informou a direção da unidade, situada no bairro Jacarecanga. "Esse é o limite. Conseguimos dar conta porque as consultas e visitas são agendadas", afirma Rejane Belém, coordenadora do posto.

Entretanto, marcar um horário com os médicos não é tão simples e alguns dos maiores prejudicados são os idosos. Mesmo necessitando de mais atenção, eles precisam disputar as cinco fichas que são distribuídas para fazer o agendamento de consultas. "Se não vier cedo, não arranja vaga. O atendimento só começa às 13h, mas cheguei aqui às 10h. A gente só consegue marcar exame para três, quatro meses e, quando chega, não consegue fazer", reclamou a costureira Marlene Chaves, 68.

Precariedade

Além da ausência de profissionais e da carência no atendimento, o posto também já passou por graves deficiências estruturais. Conforme a coordenadora da unidade, o setor de odontologia voltou a funcionar neste mês, após quase um ano parado, e, até alguns dias atrás, a esterilização de aparelhos tinha de ser feita em outra unidade, pois o equipamento responsável pela função quebrou e permaneceu sem conserto por dois meses.

A falta de médicos também acontece com frequência no CSF Guiomar Arruda, localizado no bairro Pirambu. No local, não são raras as vezes em que quase todas as equipes ficam desfalcadas, permanecendo apenas um médico durante o dia. Segundo Roberto Guedes, coordenador da unidade, a carência é ocasionada pela grande rotatividade. Ele explica que isso ocorre por motivos pessoais ou porque eles passam em alguma residência. "Não é constante, mas precisamos de outros profissionais".

Se agendar e receber auxílio médico é difícil, conseguir a medicação necessária torna-se ainda mais complicado diante da grande procura pelos postos de saúde. Atualmente, estão em falta cerca de dez tipos de medicamentos, incluindo antibióticos, vermífugos e remédios destinados a pessoas hipertensas.

A aposentada Rosa Vírginia Gomes, 70, esteve na unidade em busca de seis medicamentos, mas apenas metade estava disponível, na semana passada. Ela, que sofre de colesterol alto e problemas de pressão, ficou sem três comprimidos receitados.

No CSF Irmã Hercília Aragão, na região do bairro São João do Tauape, a aposentada Teresinha das Neves passou pela mesma situação. Embora tenha sido atendida, não conseguiu obter, na própria unidade, a medicação recomendada.

O cancelamento do terceiro turno nos postos, determinado pela Prefeitura no último dia 13, também desagradou alguns usuários. "É um horário que o pessoal procura muito, mas agora não vai ter mais", diz a costureira Lourdes Moura.

O gerente da Célula de Atenção Primária à Saúde de Fortaleza, Rômulo Fernandes, explica que, a partir de junho, a assistência farmacêutica será feita por uma empresa contratada, a exemplo do modelo que já ocorre nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Assim, essa instituição ficará responsável por fornecer diretamente os medicamentos às unidades de saúde, portanto, ele garante que "vai se quebrar a questão do fornecimento burocrático".

A instituição funcionará prestando serviços de apoio ao diagnóstico, como os exames laboratoriais e encaminhamentos para médicos especialistas. O médico esclarece que a atenção básica de saúde do município, conta, hoje, com 331 médicos, 316 enfermeiros, 286 auxiliares de enfermagem, 271 dentistas e 205 auxiliares de saúde bucal. A meta, diz, será obter 331 profissionais em cada uma das áreas, para que a equipes de saúde da família estejam niveladas.

Além disso, ontem, chegou à Câmara Municipal mensagem da Prefeitura de Fortaleza autorizando a abertura de crédito especial no valor de R$ 600 mil para construção de Centro de Saúde da Família no bairro Parque Santa Filomena, localizado em área da Regional VI.

ENQUETE

O que mais falta nas unidades de saúde da Capital?

"Não tem vaga e material nem para fazer exame de sangue. Quando conseguimos, só recebemos o resultado dois meses depois. Só venho nesse posto porque é mais perto de casa".

Rosiane Rodrigues
Autônoma

"As estruturas poderiam ser melhores porque a carência dos bairros é muito grande. A gente contribui, paga imposto, então precisa melhorar. Mas esse é um problema nacional"

Jovane SobralAposentado

VANESSA MADEIRAESPECIAL PARA CIDADE 
Diário do Nordeste

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