17/05/2013

Um a só língua

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)

Todos recebemos o tesouro da vida, sendo criaturas e filhos adotivos  do único Deus.  O Filho de Deus nos outorgou essa adoção, que veio nos irmanar a Ele e dar a graça de chamarmos e termos Seu Pai como nosso também. Mas temos a incumbência de vivermos como imagem e semelhança divina, cuidando da terra e da irmandade humana, assim como Deus faz com todo o universo e vive a maior identidade de amor entre as pessoas divinas, que têm a mesma natureza trinitária.
Depende do como vivemos na terra para atingirmos a finalidade da vida, com o encontro definitivo com Deus. Para isso, vivemos como num vôo espacial. Assim como astronautas que foram e voltaram do satélite da terra, precisamos obedecer a dois princípios fundamentais: estar sintonizados continuamente com o comando da terra e viver em perfeita harmonia entre os tripulantes.  Tais princípios são violados com as conseqüências de não voltarmos e morrermos no espaço. O ser humano desde o início quebrou a sintonia com o Criador. Caiu na tentação da autossuficiência, não aceitando as coordenadas dEle. Quando nos endeusamos, julgamos ser capazes de tudo, mas nosso orgulho nos faz de falsas divindades. Adoramos nossa ambição, as coisas materiais, colocamos os prazeres como finalidade de vida e sem os parâmetros da ética e da moralidade, usamos os poderes para massacrar, a política para injustiçar e com pequenez de caráter... Enfim,   arruinamos o vôo espacial. Quebramos também a harmonia entre os viajantes. Uns acumulam para si o fruto do desenvolvimento, sem solidariedade com os outros, usando a lei do mais forte e espezinhando os mais frágeis. O egocentrismo exacerbado danifica as relações de justiça e fraternidade. Massacram-se os valores da família e se droga a juventude, matando-se seu futuro promissor. A espaçonave da vida fica avariada, com seus instrumentais quebrados. Parece não haver possibilidade de salvação.
Nesse contexto de verdadeira torre de Babel, há propostas diferenciadas para a salvação de todos. Já não se fala a mesma língua. Surgem até as mais diversas religiões. Mas, quem está dentro da nave, apesar da boa vontade não tem apetrechos adequados para o conserto do que está quebrado. A religião humana é um esforço da criatura a voltar-se ao divino. Mas sua sintonia com a origem de sua vida está rompida. Só o poder divino tem condição de restaurar a ligação. Por isso, o Verbo de Deus foi enviado pelo Pai à nossa espaçonave, feito um de nós, mas com o poder regenerador da união homem-Deus. A ressurreição de Jesus mostra seu poder para tanto. Ele veio restabelecer a compreensão de uns para com os outros, falando uma só língua, a do amor. Quando aprendemos bem essa língua vamos nos unir para fazer a nave espacial um convívio de entendimento, respeito, promoção da vida digna, solidariedade e paz. O Pentecostes acontece.
Sozinhos não somos capazes, mas, com a ação do Espírito Santo isso é possível. “Também o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza” (Romanos 8,26). O esforço das religiões tem efeito com a força divina. Não custa nos unir para pedir ao Criador força e efeito da boa vontade de todos para se compreenderem mais como irmãos.    Aproveitemos esta Semana de Oração pela unidade dos cristãos para reforçarmos a compreensão nas diferenças, mas, acima de tudo, a promoção da força do amor!
CNBB

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