01/05/2013

Visita a Israel: possibilidades concretas de firmar parcerias


Empresários do Estado já articulam a formação de joint-ventures nas áreas de medicamentos, plásticos e energia solar

O país visitado transformou sua geografia árida ao investir em inovação Fotos: divulgação

Tel Aviv. Em meio ao verde e à modernidade do deserto de Israel, país que conseguiu transformar a realidade de sua árida geografia através de forte investimento em inovação e tecnologia de ponta, um grupo de empresários cearenses inicia contatos com o objetivo de trocar experiências e de fazer negócios. Oportunidades de constituir joint-ventures já estão sendo costuradas, e há possibilidades concretas de fechar parcerias nas áreas de energia solar, indústria de plásticos e de medicamentos.

Liderados pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), empresários, reitores de universidades cearenses e representantes do governo se encontram, desde o último dia 25 até o dia 6 deste mês, em Israel, onde veem o que tem sido feito na área de inovação tecnológica no país do Oriente Médio.

Um deles é o diretor presidente da Alpha Metalúrgica, José Sampaio Filho, que possui um projeto de inovação em energia solar, com financiamento federal da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Durante as visitas, já agendou encontro com a empresa israelense Alsoreg, especializada em produção de placas fotovoltaicas.

"Nosso projeto é para implantar placas solares em prédios, sejam eles comerciais, corporativos ou residenciais. Daí, soubemos da expertise dessa empresa e vamos buscar fazer uma joint-venture de transferência de tecnologia para o projeto", diz Sampaio, que é diretor do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Ceará (Simec). O investimento no projeto é de R$ 480 mil, a serem gastos no desenvolvimento do protótipo, e está sendo tocado em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).

Liderados pela Fiec, empresários, reitores de universidades e representantes do governo se encontram, desde o dia 25 e até o próximo dia 6, no país asiático

Ao todo, serão levados 24 meses nesse processo, já tendo avançado por seis meses até agora. A empresa israelense possui uma tecnologia inovadora de instalar painéis solares dentro de vidros, materiais translúcidos. Daí, será possível implantar este tipo de gerador de energia em janelas de prédios. "É um projeto inovador no Brasil. Vamos fazer esse protótipo e estamos confiantes. Depois, vamos gerar negócio. Vamos requerer a patente e comercializar", explica o diretor.

Setor Químico

Outro empresário que encontrou no solo israelense uma terra fértil para parcerias tecnológicas foi o presidente do Sindicato das Indústrias Químicas do Ceará (Sindiquímica) e sócio proprietário das empresas Fortsan do Brasil Indústria Química e Inopro Indústria de Embalagens, Marcos Ferreira Soares. O setor químico e plástico participa hoje com 22,3% do valor adicionado da indústria israelense, o que representa, segundo ele, um vasto campo de oportunidades de parcerias para o seu setor.

"A gente espera aproveitar alguma inovação deles, formando uma joint-venture com uma empresa cearense. Nós trabalhamos com empresas pequenas, grandes e médias, e vamos olhar aqui as possibilidades de fazermos essa transferência de tecnologia", afirma, informando que o setor químico possui 1.274 companhias no Ceará, sendo o Estado o maior produtor de pequenos volumes destes produtos no Brasil, a exemplo dos de uso hospitalar - os mais significativos.

Uma dessas oportunidades, aponta Soares, já está em prospecção. Uma indústria de plásticos de Israel, cujo nome ele mantém em confidencialidade, já buscava parceiros no Brasil e, com a vinda do empresário cearense, resolveu analisar as opções no Estado.

"Nós já marcamos uma reunião para este mês de maio, em São Paulo, onde discutiremos a possibilidade de uma parceria", adianta. Outra chance de negócio é na área de medicamentos. "Nós estamos em contato com uma empresa, e vamos mandar um e-mail para os diretores apresentando um pré-projeto de joint-venture, que eles vão analisar", informa Soares.

Instalação de empresa israelense no CE é proposta

A comitiva cearense em Israel também está de olho em grandes negócios. Em visita a uma unidade, localizada na cidade de Petach Tikva, da israelense Teva – indústria que possui o maior portfólio farmacêutico do mundo –, o grupo lançou a proposta de instalação de uma unidade da empresa no Estado. 
A Teva possui fábricas em 25 países, com 54 sítios farmacêuticos e, na América do Sul, está presente fisicamente na Argentina e Chile, mas não no Brasil. “Nós vamos conversar mais com eles, e vamos tentar trazê-los”, afirmou o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Roberto Macêdo.

Mercado estratégico

De acordo com Arik Ya’ari, representante da Teva, o Brasil é um mercado estratégico para a empresa, uma vez que possuía o décimo maior mercado farmacêutico do mundo em 2006, e deverá chegar à quarta posição em 2016. “Isso é muito significativo, e a presença da Teva no Brasil é muito pequena. Queremos ampliar isso”, destaca.

Em visita à Associação das Indústrias de Israel, em Tel Aviv, os empresários ouviram do diretor-geral da instituição, Amir Hayek, o interesse de ampliar os negócios entre o Estado e o país. “Podemos encontrar muitas áreas de cooperação com o Ceará. Várias companhias israelenses têm joint-venture no Brasil, e podemos fazer mais. E a cooperação com a Fiec é importante, é o começo da cooperação entre nossas economias”, afirma.

Possíveis parcerias

Após a reunião, onde representantes da associação mostraram o potencial industrial e tecnológico de Israel, os empresários cearenses apresentaram suas demandas, com o objetivo de direcionar as possíveis parcerias a serem construídas por meio da associação.

Interesse em exportar

“Eles (os israelenses) estão muito interessados no Ceará, uma vez que metade do que produzem aqui é para exportação”, analisa o diretor corporativo do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Ceará (Indi), Carlos Matos. De acordo com ele, as indústrias cearenses têm muito o que aprender e a buscar negócios com as empresas de Israel, que já investem há bastante tempo em inovação. “Precisamos nos sintonizar com isso, para não ficarmos obsoletos. A nossa indústria precisa inovar”, comenta ainda o diretor. (SS)

Elo com academia é exemplo

Haifa. Na cidade de Haifa, uma das mais modernas de Israel, a comitiva de empresários e acadêmicos do Ceará informou-se que a Fundação de Desenvolvimento de Pesquisas da Universidade de Technion - um dos maiores centros acadêmicos do mundo - investiu US$ 56,2 milhões em projetos de inovação em 16 companhias privadas.

Uma das mais modernas de Israel, a cidade de Haifa abriga o centro acadêmico Technion, de onde saíram três dos dez prêmios Nobel recebidos por Israel

A parceria entre as universidades e o setor produtivo é algo que já vem sendo desenvolvido há vários anos no país, mas que, no Brasil, ainda está em fase bastante embrionária. Entretanto, a Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) e as universidades cearenses deverão institucionalizar um convênio no qual se comprometem a buscar uma maior interação, unindo o conhecimento acadêmico às demandas da indústria cearense.

A Technion completou 100 anos de história no ano passado e é um celeiro de prêmios Nobel, de onde saíram três das dez comendas recebidas por Israel. Ao redor de seu campus, as maiores companhias internacionais, como Intel, Microsoft, HP, Google e IBM, criaram seus centros de pesquisa e desenvolvimento, tendo estas também patrocinado pesquisas na universidade. Essa interligação entre os meios acadêmico e produtivo vem dando certo no país, e está sendo vista como exemplo pelos cearenses.

Presença da Unifor

O diretor do Centro de Ciências Tecnológicas da Universidade de Fortaleza (Unifor), Jackson Sávio de Vasconcelos, afirma que universidade assumiu o compromisso de estreitar essa relação com a indústria, e já vem mantendo encontros com a Fiec, buscando entender quais são as demandas do setor produtivo.

"Estamos vendo como fazer essa aproximação. Queremos colocar laboratórios, alunos e professores para buscar soluções para as necessidades da indústria cearense, direcionando os trabalhos de graduação e pós-graduação nestas demandas do mercado", afirma Vasconcelos, que participa da missão da Fiec em Israel, juntamente com os reitores da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jesualdo Farias, e do Instituto Federal de Educação Tecnológica do Ceará (IFCE), Virgílio Araripe.

"Nós, das universidades cearenses, iremos fazer um grande convênio com a Fiec para selar institucionalmente a parceria, e trabalharmos em áreas específicas", informa Jesualdo Farias.

Segundo ele, a UFC já está firmando um convênio com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) para pesquisa e aplicação, no qual a Fiec já está se aproximando, mas uma parceria específica entre a federação e as universidades ainda está sendo construída. O financiamento para esta parceria está sendo discutida e, segundo Farias, poderá ter recursos da federação das indústrias, do governo estadual e também do governo federal.

"Nós somos muito dependentes da tecnologia de fora, mas já temos corpo científico preparado, com condições de realizar novas descobertas. E isso tem que ser incentivado", defende o reitor do IFCE, Virgílio Araripe.

"O desejo de fazer isso está bem explícito de ambas as partes. O IFCE sempre teve uma relação mais próxima com o setor produtivo, por conta do nosso corpo técnico, e agora vamos fortificar mais essa relação", destacou, afirmando que o estreitamento institucional será feito através de um programa que dará suporte à inovação que as empresas cearenses necessitam.

Objetivo central

Segundo o presidente da Fiec, Roberto Macêdo, incentivar a interação entre o meio acadêmico e a indústria é o principal objetivo dessa missão à Israel. "A academia produz peças hoje que não são usadas pelas empresas. Não há um retorno do investimento que o governo faz, muitas vezes, porque não tem aplicabilidade. É importante que o desenvolvimento do País tenha seja voltado para a indústria e, para isso, é preciso o apoio das universidades, trazendo conhecimentos, inovação", reforça. (SS)

SÉRGIO DE SOUSA *REPÓRTER

*O jornalista viajou a convite da Fiec

Diário do Nordeste

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