Atualizada às 8h43
Dezenas de milhares de brasileiros participaram de manifestações nesta segunda-feira nas maiores cidades do país para protestar contra o aumento das tarifas dos transportes e os gastos com a Copa do Mundo de 2014 em detrimento dos serviços públicos.
Em São Paulo, ao menos 65 mil pessoas participaram dos protestos, que ocuparam dois pontos distintos da cidade, e em Brasília, manifestantes invadiram o teto do Congresso Nacional.
No Rio de Janeiro, outro grande protesto tomou conta de toda a avenida Rio Branco. Especialistas da Coppe/UFRJ avaliaram em 100 mil o número de participantes.
Confrontos foram registrados em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Manifestantes que tentaram invadir o local jogaram pedras, coquetéis Molotov e disparavam rojões em direção a policiais acuados no prédio, alvo de pichações.
Na tentativa de entrar no Palácio Tiradentes, os manifestantes utilizaram rojões para destruir os cadeados e fizeram uma fogueira em uma das portas da Alerj, enquanto funcionários e cerca de 20 policiais feridos permaneciam dentro do prédio.
Durante o confronto, alguns jovens conseguiram escalar o prédio e entrar na Assembleia por uma janela lateral.
No final da noite, o Batalhão de Choque da Polícia Militar retomou o controle da Assembleia Legislativa e das ruas na região, permitindo o socorro dos 20 PMs feridos e libertando os funcionários da Casa.
Na operação, os policiais utilizaram balas de borracha e bombas de efeito moral, e os manifestantes se dispersaram rapidamente.
Em São Paulo, os manifestações fecharam a Marginal Pinheiros e seguiram para o Palácio dos Bandeirantes. Outra multidão ocupou a Avenida Paulista.
No final da noite, um grupo de manifestantes tentou invadir o Palácio dos Bandeirantes e foi reprimido pela polícia com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Em Brasília, manifestantes marcharam pela Esplanada dos Ministérios e centenas ocuparam o teto do Congresso Nacional.
"Brasil se fodeu, o povo apareceu", "sou brasileiro com muito orgulho", cantavam os manifestantes. Ao menos 5 mil pessoas protestaram em Brasília, segundo a polícia local.
"Chegamos à Casa do Povo. É o primeiro passo para demonstrar que não somos um povo morto. Pensavam que pararíamos para ver futebol, mas não foi assim", disse Bruno Pastrana, um estudante de 24 anos, sentado no teto do Congresso.
A presidente Dilma Rousseff reagiu afirmando que "as manifestações pacíficas são legítimas e próprias da democracia".
"É próprio dos jovens se manifestar", estimou Dilma em um comunicado divulgado pelo blog da Presidência.
Belo Horizonte, Fortaleza, Salvador, Porto Alegre e Curitiba também tiveram protestos nesta segunda-feira.
As manifestações reúnem diversos movimentos de contestação, que vão daqueles que protestam contra o aumento das tarifas dos transportes coletivos aos que condenam os gastos com os eventos esportivos sediados no Brasil.
Em Belo Horizonte, onde o protesto reuniu cerca de 30 mil pessoas, segundo seus organizadores, a polícia disparou bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes para impedir que o movimento chegasse ao Mineirão, onde Nigéria e Taiti jogavam pela Copa das Confederações.
Em Porto Alegre, a polícia dispersou manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo após grupos destruírem um ônibus e incendiarem lixo no centro da cidade.
Convocadas através das redes sociais, as reivindicações não têm vínculo político. Com gritos de "não tenho partido", a maior parte dos manifestantes é composta por jovens da classe média.
"Eu vim porque quero que o Brasil acorde. Não é apenas contra a alta dos preços dos transportes, mas pela educação e pela saúde", disse à AFP Diyo Coelho, 20 anos, que participava de uma passeata junto a um grupo de amigos em São Paulo, que levavam flores brancas nas mãos.
"Vem, vem, vem pra rua, vem!", gritavam os manifestantes no centro histórico e financeiro do Rio.
Do alto dos prédios comerciais, pessoas jogavam papéis brancos em apoio aos manifestantes.
"Estou aqui para mostrar que o Brasil não é apenas o país do futebol e do carnaval. Aqui nós temos outras preocupações, como a falta de investimentos em coisas realmente importantes, como saúde e educação", disse Daiana Venâncio, 24 anos, formada em direito.
"Isto é muito bom. No Brasil as pessoas não costumam sair às ruas para protestar, é uma imagem bonita", disse à AFP outro manifestante no Rio de Janeiro.
"Que sentido tem fazer uma festa para os gringos quando o Brasil está mal?" - perguntou Priscila Parra, estudante de física de 20 anos.
A onda de protestos começou em São Paulo na semana passada. O motivo inicial era contestar o aumento das tarifas dos transportes coletivos, que passaram de R$ 3,00 para R$ 3,20. Rapidamente as manifestações se espalharam para outras cidades.
Na ordem do dia dos protestos estão os gastos colossais com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo -- 15 bilhões de reais -- em detrimento de outras áreas, como saúde e educação.
Estas são as maiores manifestações de rua no Brasil em 21 anos, desde os protestos de 1992 contra a corrupção do governo do então presidente Fernando Collor de Melo, que renunciou durante o processo de impeachment.
AFP
Dom Total
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