A maior retrospectiva do artista passou Beaubourg de Paris, de onde seguiu para Madri
Por Marco Lacerda*
Uma das exposições mais aguardadas em Paris ficou em cartaz desde novembro no Centro Cultural Georges Pompidou, também conhecido como Beaubourg, onde permanece até 25 de março, de onde seguiu para o Museu Reina Sofia, de Madri. Trata-se da maior retrospectiva da obra de Salvador Dali em 30 anos, que inclui pinturas, desenhos , objetos, instalações e filmes produzidos entre 1920 e 1980, num total de 200 obras procedentes de museus e coleções particulares do mundo inteiro. A outra mostra de Dali no Beaubourg aconteceu em 1979 e foi a exposição mais visitada em toda a história do museu.
O curador da exposição, Jean-Humbert Martin, informa que a mostra capta os diversos talentos de Salvador Dali: "Ele não era apenas um pintor e um escultor genial, como se autodefinia, mas também se interessava por cinema, teatro e até ciências". Pela primeira vez, o lado "performer" de artista também é valorizado em algumas obras efêmeras.
Entre as 120 pinturas expostas, encontramos quadros célébres como o "O Grande Masturbador", de 1929, onde são expressas as angústias sexuais do artista, e "A persistência da Memória", de 1931, com os famosos relógios moles, criados numa époc a em que Dalí fez do queijo camembert um dos principais ingredientes da sua dieta diária.
Mestre das imagens duplas - dentro de uma cena descobre-se outra – a exposição apresenta ainda objetos surrealistas míticos como o famoso "Telefone Afrodisíaco" ou ainda o "Busto de Mulher Retrospectivo", em que uma mulher tem uma espiga de milho em volta do pescoço e a cabeça penteada com uma baguete. A atriz norte-americana Mae West, que brilhou nos anos 20, virou uma grande instalação pelas mãos do criador, que transformou seus traços em elementos de mobiliário. O famoso sofá vermelho em forma de boca, por exemplo, foi inspirado nos lábios carnudos da estrela.
As opiniões políticas de Dali escandalizavam a Espanha e o mundo. “Franco era um santo” ou “A liberdade é uma merda”, dizia em alto e bom som esse gênio nascido em 1904 em Figueras, onde morreu em 1989. Sua obra se sobrepunha às canalhices verbais que era capaz de proclamar, causando admiração e repulsa em doses iguais.
Dali se antecipou aos grandes marchands nas técnicas de publicidade e venda. Antecipou-se a Andy Warhol em vender-se como produto em si mesmo, frequentando as estrelas do mundo da fofoca internacional e foi um precursor da perfomance capaz de apresentar-se em público como uma caricatura de si mesmo. A mostra de Paris que segue para a Espanha não deixa escapar o lado farsesco do inimitável Salvador Dali.
"Salvador Dali e sua obra". Veja o vídeo:
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do DomTotal
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