21/06/2013

Em meio a violência e caos, solidariedade entre moradores e comunidade em Fortaleza

“Numa coisa daquela, a gente vendo que ir haver morte, tinha que socorrer mesmo”, diz a dona de casa Lindoílma Soares, ao ser perguntada o que a fez abrir a porta para oito manifestantes, que corriam dos policiais no final do ato “+Pão – Circo”, na última quarta-feira (19), dia jogo Brasil X México pela Copa das Confederações em Fortaleza.

Na manifestação, a expressão de jovens e adultos por um ‘Brasil melhor em todas as áreas” foi iniciada com cores, criatividade e alegria. As barreiras policiais nas avenidas Alberto Craveiro e Paulino Rocha geraram clima de tensão que desencadeou em confronto. Para dispersar os milhares de manifestantes foram atiradas bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. No clima de guerra, jovens e adultos se ajudavam na correria e moradores da comunidade abriram suas casas para socorrer manifestantes.

Mãe de um adolescente de 16 anos – que foi para a manifestação – e uma criança de dois anos, Lindoílma Soares mora na Rua Jornalista Antonio Pontes Tavares, no Barroso, e também está indignada. “É uma vergonha! Muito gasto no Castelão e as ruas aqui destruídas, acabadas”.


Mesmo sem participar dos protestos, ela viveu momentos de muita tensão quando helicópteros, sobrevoaram a comunidade, soltando bombas de gás e balas de borracha. Os policiais em ação por pouco não invadiram a casa dela, em busca de manifestantes. “O rapaz (que estava nos protestos) foi colocar uma camisa branca na porta pedindo paz e a polícia só não quebrou minha porta porque meu marido disse que a casa ali tinha dono”, conta.

Ela sonha com um Brasil melhor e dá sua receira. “Primeiro, deveria o governo dar mais educação porque os políticos, nas eleições, prometem sempre educação, saúde e moradia e, depois, não fazem nada disso. Também, é preciso emprego para os jovens porque tem muitos sem trabalhar”.

Mesmo sem participar dos protestos, ela viveu momentos de muita tensão quando helicópteros, sobrevoaram a comunidade, soltando bombas de gás e balas de borracha. Os policiais em ação por pouco não invadiram a casa dela, em busca de manifestantes. “O rapaz (que estava nos protestos) foi colocar uma camisa branca na porta pedindo paz e a polícia só não quebrou minha porta porque meu marido disse que a casa ali tinha dono”, conta.

Brasil melhor
Quem foi às manifestações e enfrentou correria, gás lacrimogêneo e balas de borracha teve sorte de encontrar pessoas da comunidade como a D. Lindaílma. Entre os manifestantes, quem estava em situação melhor, também foi solidário, ajundando  quem estava em piores condições em decorrência dos efeitos do gás lacrimogêneo. Panos molhados com vinagre – para atenuar os efeitos do gás – foram passados de mão em mão.

 Orientações sobre como respirar com calma, massagens em quem perdia as forças, apoio para quem não conseguia ficar de pé e desmaiava. Quem se perdia dos amigos, acabava amparado por desconhecidos que se tornavam amigos. “Qual é o seu face?”, “qual é seu e-mail?”, “me dá o número do tem celular” foram frases ouvidas nas ruas quando o clima voltou a ficar mais calmo.
 
Quem foi, tem depoimentos mais positivos que negativos:

“Fui pra manifestação movida pela alegria de ver nossa juventude indo pras ruas pra mudar o sistema. Fui cara pintada no Fora Collor e hoje acompanho meu filho em mais um momento histórico do nosso país. Foi uma experiência maravilhosa, emocionante. Acreditamos em um Brasil sem corrupção com o povo nas ruas. Ver tanta gente cansada do silêncio e tão solidárias. Mesmo com a "hospitalidade" do governo do Estado, que nos recebeu com bombas de gás, a solidariedade foi o que mais me impressionou. Compartilhar vinagre, toalhas e camisas. É bom sentir que uma força maior nos une por um propósito que vai muito além das reivindicações pontuais. Queremos um país livre da corrupção. Só assim teremos mais pão e menos circo! E pão de qualidade pra todos!!!!” - Gilda Barroso, jornalista

“Seguimos ontem (quarta-feira) por uma Fortaleza melhor, por um Brasil melhor, por um mundo melhor. Seguimos com desejo de paz e humanidade. Seguimos firmes pela defesa do direito de cada um hastear sua bandeira, sua causa, num proposição de mudança e melhoria para os povos. Mas, em meio à paz dessa marcha, sofremos os abusos vis e covardes da polícia, com balas de borracha e gás lacrimogênio. Haja vinagre para resistir! Fomos atingidos quando estávamos sentados - o que representa uma orientação fascista de atuação policial. Somos radicalmente contra isso. Eu e meus amigos sofremos os efeitos do gás, mas, num sentido amplo, isso só nos deu gás para continuar, prosseguir, caminhar, agir em torno de nossas causas.” -Urik Paiva, escritor, 

“Quero um Brasil com melhoria da saúde, educação e serviços básicos. Tal como a proporção dos gastos públicos condizentes com o que a população necessita. Não sofri. A má gerencia do dinheiro de nosso trabalho, assim como o aproveitamento das empresas que são as verdadeiras beneficiadas. Um país onde boa parte dos recursos naturais e arrecadações públicas sejam revertidos em prol da população e a não priorização do pagamento de dívidas públicas externas na frente do interesse popular.” - Osmar Pereira, 21, estudante de História (licenciatura) UECE

A insatisfação com a falta de transparência e participação popular na administração da cidade, e também do evento Copa do Mundo foram a mola mestra da minha ida a manifestação +pão – circo, copa pra quem . A manifestação pra mim foi muito positiva, como educadora vi jovens de todos os pontos da cidade reunidos em harmonia com o sonho de um futuro melhor pra todos. A comunidade abriu suas portas, acolheu os manifestantes de braços abertos ajudando-os e também dialogando, vi no interior de casas pessoas debatendo a cidade, a violência, e a escassez de dignidade pra nossa população como um todo. Vi pessoas interagindo sem armas, sem medos. No que diz respeito a polícia toda a sua truculência nos leva a refletir se queremos perpetuar esse modelo de policia repressiva. Se essa policia está a serviço ou contra o povo?
No Brasil dos meus sonhos não há corrupção, não há desigualdade social, e todos estamos unidos por uma unica idéia a PAZ.” - Rosiane Pereira de Freitas, 42, Henrique Jorge, funcionária pública - educadora.
 
Boa Notícia

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