20/06/2013

Protestos com açúcar, com afeto

Carlos Alenquer*

Reprodução/ Douglas Magno

Em cima do muro. Esta coluna solidariza-se em gênero, número e grau, com a sociedade civil, a polícia militar, a TV Globo, o governo federal, os editoriais dos jornalões e todas as ONGs que defendem manifestações pacíficas, ordeiras e organizadas. Acredita, outrossim, que é preciso separar o joio do trigo, a crítica construtiva do xingamento desabusado e a força dos cidadãos da força das tropas de choque; em razão disso deplora, com veemência, o vandalismo registrado em alguns momentos de desatino nas capitais brasileiras.

Em consequência, deplora também, veementemente, as aleivosias postadas no Facebook dando conta de que este Diário teria incentivado, mesmo que indiretamente – dado as ácidas críticas feitas à ampulheta –, a insidiosa depredação do trambolho da Coca-Cola na praça da Liberdade. Nenhuma correlação. Além de ser a favor de passeatas com pessoas uniformizadas, trazendo crachá com nome, número da identidade, data de nascimento e classe social à qual julga pertencer, é também favorável à retirada pacífica da trapizonga com a qual o errático marketing do xarope patrocinador da Copa imaginou enriquecer a eclética arquitetura da Praça.

Finalmente, e acima de tudo, rejeita solenemente a assertiva segundo a qual “há males que vêm para o bem”. [20.06.2013]


Pequena colagem. Sem muita conversa: Ninya de Aragão, doce artista plástica que transformava em delicadeza pedaços de papéis coloridos, nos abandonou na madrugada desta terça, deixando tristes filhos, netos, amigos, admiradores e mais uma meia dúzia de pessoas que a conheciam bem. Ou achavam que a conheciam bem. Seria doloroso falar mais do que isso – e Ninya certamente abriria um sorriso em vez de lamentar a perda. No máximo um abraço carinhoso para todos estes que estiveram em sua volta esses anos todos. Rindo, conversando, brindando, comemorando, brincando, celebrando a vida, tinindo-trincando. [19.06.2013]

Paradoxos. Existem muitos especialistas infestando os canais a cabo que transmitem, diretamente das capitais, as manifestações contra o preço das passagens, a Fifa, a corrupção, a carestia, a PEC 37, a cabeleiira do Marin etc. etc. etc. Mas saiu de um jornalista espanhol a melhor pergunta para essa quantidade de gente engarrafando as ruas das cidades. É meio óbvio, pois tudo é mesmo muito difícil de entender – ou como dizia, de outro jeito, Jobim, o Tom, ao lembrar que o Brasil não é para amadores.

De qualquer forma, o jornalista Juan Árias, do El País, foi quem chegou mais perto da realidade ao perguntar ¿Por qué Brasil y ahora? Talvez porque os pobres, “chegados a uma nova classe média que deu um salto quantitativo na esfera do consumo, agora querem mais”. Querem confortos de primeiro mundo: escolas, hospitais como o da série House MD, o fim das filas, uma policia que não atue como fazia na ditadura, uma democracia mais madura – e todo o modo de vida que eles assistem nas novelas de TV. (Mesmo porque os que protestam contra o aumento de vinte centavos nos bilhetes, contraditoriamente, têm carros – 1.0, mas com quatro rodas e ainda o estepe).

O espanhol, mesmo perplexo, arrisca-se a dizer que o Brasil, agora reconhecido internacionalmente, vive – como diria Freud – “uma espécie de esquizofrenia”.

Repita-se a frase do nosso maestro: não é mesmo para amadores, este País. [18.06.2013]

Falta de comunicação. A PM mineira não entendeu o recado da polícia paulista. O slogan a ser adotado era paz e amor. [18.06.2013]
*Carlos Alenquer começou como jornalista (repórter e redator de rádios e jornais) em Fortaleza, depois no Rio e em Belo Horizonte. Migrou para a propaganda, mas continuou colaborando em vários jornais e revistas. Tem dois livros publicados: Anúncios (Achiamé, Rio) e 21 Poemas (Mazza, BH).
Dom Total

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