Há meio século uma geração de jovens artistas protagonizou um movimento que sacudiria o mundo
"Nada tenho a oferecer, além da minha confusâo" (Foto: Arquivo) |
Marco Lacerda*
Os beatniks foram protagonistas de um movimento literário originado em meados dos anos 1950 do qual faziam parte de jovens intelectuais cansados do modelo careta de comportamento que se estabeleceu nos EUA depois da II Guerra Mundial. Com o objetivo de se expressarem livremente e contarem sua visão do mundo e suas histórias, esses escritores começaram a produzir aos borbotões, muitas vezes movidos a drogas, álcool, sexo livre e jazz – o gênero musical que mais inspirou os beats. Mais do que escrever, esse grupo de amigos tinha interesse em estar sempre junto, compondo, viajando, bebendo e, por vezes, transando em grupo.
Bebiam como cossacos, faziam sexos como animais e escreviam como loucos. Assim, há meio século, revolucionaram a literatura norte-americana e, de quebra, influenciaram de modo decisivo as mudanças de comportamento que acabaram dando à luz o movimento hippie que viraram os Estados Unidos de ponta cabeça na década de 60.
No momento em que o mundo lamenta a falta de uma contracultura genuína, artisticamente intrépida e de espírito indomável, a fauna beat, atendendo a pedidos, está de volta, em pleno século 21, a um mundo cansado de se repetir.
A mais recente ode à memória da troupe boêmia foi a recente adaptação para o cinema de ‘On the road’, o livro do guru do movimento beatnik, Jack Kerouac, concebido há mais de 30 anos por um hippie de San Francisco chamado Francis Ford Coppola. Coube ao cineasta brasileiro Walter Salles (‘Central do Brasil’, ‘Abril despedaçado’) dar forma visual ao romance autobiográfico de Kerouac, escrito em 1951 e publicado em 57. Fiel a suas origens, o filme traz de volta os elementos que caracterizaram aquela geração de malucos: perigo, estradas que não levam a parte alguma, literatura, jazz, sexo e um grupo de rebeldes que desafiam tudo na busca desesperada de experiências memoráveis.
Sexo, drogas e rock´n roll
Outro filme beat está previsto para este ano, a adaptação da novela ‘Kerouac Big Sur’, já apresentado no último Festival Sundance. Igualmente autobiográfica, a narrativa se passa nos anos 60 dando destaque especial a integrantes do movimento como os poetas Philip Whalen e Lawrence Ferlinghetti. Ainda sem estréia prevista, o filme é uma recriação fiel do livro que mostra um Kerouac finalmente em paz, vivendo às margens do oceano Pacífico.
Beatnik de boa cepa, William Burroughs inspira a exposição ‘Uma possibilidade de escapada’, que a galeria Espai d´Art Contemporani de Castellón, em Valencia, na Espanha exibe até o final de setembro. A mostra coletiva aborda envolve artistas de várias partes do mundo que abordam a fascinação de Burroughs com estados alterados de consciência, psicodelismo e realidades paralelas.
O jazz foi a trilha sonora que embalou os anos beat, particularmente o bebop. A atual retrospectiva do movimento é marcada ainda pela reedição de um dos discos canônicos da época, gravado ao vivo por Thelonious Monk e John Coltrane em Nova York, 1957, precisamente o ano em que foi publicado ‘On the road’. Acaba de ser reeditada também o romanece ‘Queer’, William Burroughs, escrito em 1950, mas só publicado em 1985 devido a seu conteúdo explicitamente homossexual intolerável na época. Hoje o livro não passa de um conto da carochinha. A volta à cena da geração beat coincide com a invenção, há exatos 70 anos, do LSD, droga que inspirou boa parte da literatura produzida pelos protagonistas do movimento.
The Beat Generation - Veja o vídeo
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor-Especial do DomTotal
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