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Os protestos nas grandes cidades brasileiras são reveladores de contrastes ainda vigentes no país no tocante às desigualdades sociais (Foto: Reuters) |
Em sua obra intitulada “Pedagogia do oprimido”, Paulo Freire destaca a segregação da sociedade em dominantes e dominados, defendendo um método educacional bem eficaz assentado no diálogo e, tendo em vista a autodeterminação e a libertação por meio de um ato revolucionário.
Constata-se, na atual sociedade, uma onda de manifestações cujo objetivo é provocar mudanças radicais contra a dominação de consciências que, por décadas, adormecidas, se tornaram acessórios de corpos dóceis maltratados, profanados e execrados pelos discursos políticos centrados no crescimento econômico e na aquisição de novas tecnologias para incentivar o consumo em detrimento de aspirações mais profundas do ser humano em seu processo de dever-ser.
Os protestos nas grandes cidades brasileiras são reveladores de contrastes ainda vigentes no país no tocante às desigualdades sociais, fruto de relações de poder entre dominadores e dominados. Chegou, então, a Era do oprimido se libertar e quebrar as algemas das injustiças sociais perpetuadas por uma classe política insensível aos gritos dos excluídos e marginalizados da sociedade brasileira.
As manifestações abrem uma nova era, como se pode observar, a era de novas oportunidades para os marginalizados, vítimas de medidas econômicas rigorosas e desumanas, tomadas para atender as exigências do mercado e, sobretudo, das Instituições de Bretton Woods. Trata-se de um momento histórico para (re) localizar os manifestantes na sociedade em que vivem por ter sido, durante anos, inseridos no rótulo político, como diria Victor Hugo, dos “miseráveis” que não têm acesso à educação, à saúde, à moradia e à Justiça. São vozes daqueles e daquelas que clamam por Justiça e fim da corrupção e da impunidade.
Uma séria análise dos fatos revela o resgate do direito de ser cidadão comprometido com as profundas causas sociais ignoradas pelos governantes eleitos pelo povo, detentor da soberania, um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, além da cidadania, dignidade da pessoa humana, dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e do pluralismo político (Art. 1°, da CR/88). Há de ressaltar-se, ainda, o próprio Preâmbulo da CR/88 em que os “representantes do povo brasileiro” se comprometem a instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias [...]
O medo da liberdade nas ruas levou os legisladores a engavetar a PEC 37 sem aprofundar a discussão, sem promover, retomando Paulo Freire, ações dialógicas abarcadas na reflexão, no ativismo, na participação, na transformação, na revolução e no humanismo. Não há mais espaço para os demagogas e fisiologistas que hipnotizaram as consciências dos cidadãos, mantendo-as alienadas.
Sem embargo, as manifestações vão alterar, doravante, o cenário político brasileiro e o modo de pensar e de fazer política nas próximas eleições porque não se trata mais de um povo adestrado para aplaudir os políticos mesmo quando é desviado o dinheiro público. Acabou, com certeza, a era de montar palco cênico onde os eleitos oriundos do voto popular recebiam simpatia e admiração dos oprimidos. É hora de “Vigiar e Punir” os corruptos e arvorar a bandeira da Justiça com ações dialógicas, libertadoras e transformadoras da Pátria Amada, por décadas, espoliada pelas classes dominantes. A certeza que se tem é que com o grito do povo traído e oprimido nas ruas, acaba de nascer a ESPERANÇA de um Brasil Novo, legado das novas gerações e leitmotiv de uma verdadeira DEMOCRACIA.
Sebastien Kiwonghi "é advogado e professor de Direito Internacional e Metodologia da Pesquisa na Escola Superior Dom Helder Câmara. Padre Verbita graduado em Filosofia pelo Institut de Philosophie Saint Augustin, IPSA, Zaire (África). Graduado em Teologia pelo Institut de Théologie Eugène de Mazenod, ITEM, Zaire (África). Graduado em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Vianna Júnior de Juiz de Fora (MG). Especialista em Direito Civil e Processo Civil, em Direito do Trabalho e Previdenciário, licenciatura em filosofia na UFJF. Mestre e doutor em Direito Internacional pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais."
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