17/07/2013

Lucros dos Bancos

Revolta-nos ver a sociedade apertar os cintos da austeridade, sofrer o doloroso desemprego e o poder público arrancar do povo o dinheiro para encher a burra poderosa de bancos nacionais e estrangeiros. Não se trata, infelizmente, de nenhuma anomalia nas regras do sistema. Está aí o cerne do mundo financeiro atual. Se se cerceiam os bancos, eles ameaçam o país com um caos de tal monta que os governantes preferem deixá-los sugar o sangue de todos a correr o risco de taxá-los.

Em muitos momentos, uma medida justa traz consequências perigosas, inibindo-a. O caso dos bancos parece ser paradigmático. Em qualquer situação, e, às vezes, nas piores crises econômicas para a maioria das pessoas, eles sobrenadam triunfantes com gigantescas arcas, mais bem construídas que a de Noé.

Só a consciência coletiva mundial e a reformulação radical das leis que regem o sistema econômico neoliberal vigente conseguem modificar tal situação. Não se espera evidentemente que algum banco pratique a lipoaspiração dos excessivos lucros adiposos. Quanto mais, melhor. Venham tais lucros de onde vierem. 

A inocente taxa Tobin sobre transações financeiras, que salvaria bilhões de pessoas da miséria, não consegue adesão ou força política de imposição, embora a mais comezinha lógica o aconselhe.

As forças medem-se no ranking do poder. Os bancos jogam com o peso econômico no interior do sistema. Quanto mais avança e moderniza o capitalismo, menos importante fica o capital de investimento industrial e mais poderoso o financeiro especulativo. O primeiro produz. O segundo joga com os lucros. O ser humano prefere entrar na gigantesca loteria das bolsas, do dinheiro fácil e abundante da especulação a investir em bens produtivos e menos ainda em atividades solidárias.

De Masi em obra de prospectiva da sociedade futura abre-nos rasgo de esperança utópica. Aposta que na sociedade do futuro, pós-industrial, mais que o dinheiro e o poder - os dois mestres maiores da fase industrial - reinariam a estética, a solidariedade, o ócio criativo.

O ser humano do futuro deslocaria o acento da ênfase sobre o afã de possuir, de ganhar, de acumular bens e dinheiro cujo montante  nem sabe nem consegue gastar para  vida de qualidade humana superior. Esta se manifestaria na valorização da solidariedade, da alegria, do gozo de estar-com. Começaria a considerar  como loucura - o que de fato é - a vida atormentada dos humanos que se matam de tanto trabalhar, assolados por terrível ganância. Os bancos seriam des-bancados dos tronos de poder. Poderiam continuar com a dinheirama que então se encarreiraria para melhorar a qualidade de vida de todos e não para manter montanhas de notas de louca ilusão.

Obviamente todos seriam mais felizes se com menos dinheiro não tivessem tanto medo de possuir fortunas, transformando-as em educação, em vida sadia para as multidões de excluídos, sementeira remota do crime e da violência. Os terríveis contrastes entre a riqueza abusiva de alguns e a miséria escandalosa de outros alimentam a dupla infelicidade dos que possuem e devem esconder-se e dos que não a têm e a buscam à custa do risco de vida pela via dos assaltos, sequestros e outras violências. O noticiário dizia que os donos de limusines já não querem sair às ruas para não provocar a volúpia dos assaltantes. Vejam que burrice espantosa: tê-las guardadas nas garagens. Para quê? E por que não transformá-las, diria o profeta Isaías, em pão para os famintos e em educação para a felicidade própria e dos outros?!

João Batista Libânio é teólogo jesuíta. Licenciado em Teologia em Frankfurt (Alemanha) e doutorado pela Universidade Gregoriana (Roma). É professor da FAJE (Faculdades Jesuítas), em Belo Horizonte. Publicou mais de noventa livros entre os de autoria própria (36) e em colaboração (56), e centenas de artigos em revistas nacionais e estrangeiras. Internacionalmente reconhecido como um dos teólogos da Libertação.

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