23/07/2013

Redes sociais, palco dos anônimos

Carlos Alenquer

Paranoia às vezes faz bem. Nos últimos tempos, mais e mais e-mails com ares de agressão pura e simples – ou mais sofisticados, com citações sutis a respeito de algumas figuras da República – circulam pela web com intensidade que permite, a qualquer observador mais atento, dizer que são feitas com um objetivo específico: desqualidficar a atuação dos políticos de uma maneira geral – e de alguns, de maneira particular.
Não é preciso dizer que, a partir do momeno em que a política fica desmoralizada – e os exemplos históricos são muitos – perde a sociedade o único canal de comunicação que tem com o poder; e a consequência é óbvia.
Agora mesmo, há uma mensagem circulando por aí, dizendo claramente: “Na época da ‘chamada’ (sic) dita dura podíamos namorar dentro do carro sem perigo de sermos mortos por bandidos e traficantes, usar um plano de saúde sem morrer à míngua, comprar armas e munições à vontade, embora não pudéssemos falar mal do presidente”.

Como se falar mal do presidente não significasse ser preso, torturado, exilado, eventualmente – já que ninguém é perfeito – morto numa das celas da “dita dura”. Saudades do Barão de Itararé, que lembrava haver mais coisas no ar do que aviões de carreira. [23/jul/2013] 

Cada macaco no seu galho. O artista plástico – e também professor da Guignard – Marcos Venuto, preocupado com a situação do País, sugere em simpósio informal numa das mesas da livraria Quixote: a única forma de realizar uma reforma política de base, que realmente atenda aos interesses da nação, pressupõe que cada um dos brasileiros assuma sua verdadeira posição no cenário nacional. 

Em construção menos barroca, Venuto explica que só tem um jeito de dar um sentido menos apolítico, apocalíptico e apartidário às manifestações anônimas: sair todo mundo do Centro, a chamada área de conforto, e dizer, para quem quiser ouvir, que é de Esquerda ou de Direita. 

Como a Esquerda está presente em todo o espectro político do País (e em todas classes, segmentos e partidos, incluindo sociais democratas, peemedebistas, socialistas, alguns trabalhistas e democratas propriamente ditos), resta à Direita preencher o seu nicho – mesmo porque ela atualmente só conta com as bancadas dos ruralistas, evangélicas e apartidários. 

Daí, a única forma possível de se fazer política no Brasil, hoje, é voltar ao Fla-Flu velho de guerra: quem é a favor dos carecas que batem em homossexuais, dos fazendeiros que plantam soja em reservas indígenas, dos que acreditam que mendigo bom é mendigo queimado e que lugar de mulher é na cozinha, bem que poderia assumir uma posição firme (como os seguidores da bela Le Pen, na França) e botar pra quebrar sem se esconder no meio dos centroativistas. 

Numa palavra, o que Venuto defende – interpretando livremente suas palavras – é que, para o bem de todos e felicidade geral de Pindorama, a Direita deve sair imediatamente do armário. [22/jul/2013]
Carlos Alenquer começou como jornalista (repórter e redator de rádios e jornais) em Fortaleza, depois no Rio e em Belo Horizonte. Migrou para a propaganda, mas continuou colaborando em vários jornais e revistas. Tem dois livros publicados: Anúncios (Achiamé, Rio) e 21 Poemas (Mazza, BH).

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