16/08/2013

Dorival Caymmi: cinco anos sem o Poeta do Mar

Caymmi deixou como herança uma obra única, marcada pela espontaneidade
Há cinco anos, completos nesta sexta-feira (16), o Brasil perdia aquele que foi um de seus maiores artistas. Dorival Caymmi, aos 94 anos, faleceu em sua casa, no Rio de Janeiro, depois de lutar durante nove anos contra um câncer renal.
Caymmi deixou como herança uma obra única, marcada pela espontaneidade de quem cantava o que sentia pelo mundo ao redor. "Cantador não escolhe o seu cantar / canta o mundo que vê", diz uma de suas canções. As letras do compositor retratam o mar e a natureza, os pescadores, o povo negro, sua vida na Bahia e no Rio de Janeiro.
Pessoas ´musicais´
Nascido em 30 de abril de 1914, em uma casa de pessoas "musicais", como ele mesmo descrevia, Caymmi cresceu assistindo aos saraus promovidos pelo pai, Durval Henrique, em que ouvia a mãe, Aurelina, cantar músicas de variados estilos.
Foi ao lado de seu amigo de infância, José Rodrigues de Oliveira, o Zezinho, que Dorival se aventurou pelas ruas de Salvador e teve o primeiro contato com o rádio, cantando na Rádio Clube da Bahia. Nessa época eles formaram o grupo Três e Meio, com os irmãos Deraldo e Luiz no tambor e pandeiro, respectivamente, Zezinho no cavaquinho e Dorival ao violão. Luiz era o irmão menor de Dorival, por isso o nome do conjunto.

O trio "e meio" se divertia reproduzindo músicas de Noel Rosa e Carmem Miranda, que eram sucesso na época. Mas mesmo fazendo apresentações e recebendo alguns cachês com seu trabalho, Caymmi não enxergava a música como atividade profissional, e resolveu viajar ao Rio de Janeiro para cursar direito.
A capital fluminense foi palco para a descoberta definitiva do artista Dorival Caymmi. Na rádio Tupi, Teófilo de Barros Filho se impressionou com o jovem baiano recém-chegado à cidade e logo o apresentou à cantora Carmem Miranda - que daria projeção internacional a algumas de suas canções. Em pouco tempo, Dorival passou a integrar a elite dos cantores que faziam sucesso no rádio nos anos 1930 e foi, mais tarde, influência para artistas como João Gilberto, Caetano Veloso e Tom Zé.

 Dorival Caymmi se casou com a também cantora Adelaide Tostes, que gostava de ser chamada de Stella e acabou apelidada de Stella Maris (do latim estrela do mar) pelo radialista César Ladeira. Os dois formaram uma família que carrega o talento como herança: os três filhos, Nana, Dori e Danilo Caymmi, também são músicos. Mesmo com o sucesso, Caymmi permaneceu com suas características de tranquilidade e simplicidade até o fim da vida. Suas canções seguem como um grande legado representante da cultura baiana e da música brasileira.
Agência Brasil
Artigo:
Dorival Caymmi na doçura de viver e morrer
Padre Geovane saraiva*
Morre o grande brasileiro Dorival Caymmi, que nasceu em Salvador – BA, no dia 30 de abril de 1914, foi chamado para o seio do Pai no dia 16 de agosto deste ano de 2008. Homem de vida tranquila, que como ninguém, soube descrever a vida dos pescadores, cantada de maneira poética, suave, pura e simples, às vezes trágica.
A vida deste homem talentoso se desenvolveu, proporcionando ao povo brasileiro o que é mais belo e agradável aos sentidos. Compositor da melhor qualidade, responsável, em grande parte, pela a imagem da Bahia, com seu estilo inconfundível de compor e cantar, causando uma enorme alegria, e ao mesmo tempo influenciando às diversas gerações de músicos brasileiros.
Dorival Caymmi foi extraordinário em tudo. Viveu longe de todo e qualquer melancolia e sempre guardou na memória os melhores acontecimentos da vida e não abriu mão de ser feliz e passar essa felicidade para todo povo brasileiro. Mostrou, com sua longa vida, a doçura de viver e morrer. É o que diz a sua belíssima canção: “É doce morrer no mar, nas ondas verdes do mar”.
A canção: “Eu vou pra maracangalha eu vou, Eu vou de uniforme branco eu vou, Eu vou de chapéu de palha eu vou, Eu vou convidar Anália eu vou...”, descreve um grande sonho, numa realidade ou lugar ideal e fantástico, de uma extrema profundidade. Canção que está na alma de todo povo brasileiro. É um retrato pitoresco, jovial e radiante da nossa querida gente, em todas suas classes sociais, raças, culturas e ideologias, penetrando em todos os lares e rincões deste imenso Brasil.
Dorival nos ensinou a gostar de viver e amar a vida, a dizer que essa mesma vida, embora dura, exigente e desafiadora, tem que está dentro do contexto de pessoas que desejam viver de um modo harmônico e civilizado. De pessoas que descruzam os braços e lutam, sonhando com a realização pessoal: “Pequei um Ita no norte, Pra vim por Rio morar, Adeus meu Pai, minha mãe, Adeus Belém do Pará. Mamãe me deu um conselho na hora de viajar, Meu filho ande direito, que é pra Deus lhe ajudar”.
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, Escritor, Membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE), da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal
Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com

Nenhum comentário :

Postar um comentário