07/08/2013

Kirchner pede Conselho de Segurança em sintonia com ‘novo mundo‘

Kirchner cumprimenta Moon na sede da ONU em Nova York, nesta terça-feira (6).
A presidente argentina, Cristina Kirchner, reclamou nesta terça-feira no Conselho de Segurança da ONU da falta de "eficácia" do órgão e pediu que a cooperação entre organismos regionais e as Nações Unidas seja fortalecida.
A sugestão foi feita em um debate organizado pela presidência temporária da Argentina no Conselho, em Nova York, que contou com a presença do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chanceleres e várias organizações do mundo emergente, como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), a União Africana e a Liga dos Estados Árabes.
"Temos um novo mundo. Não se pode enfrentar um novo mundo e uma nova realidade com velhos métodos, porque não vão nos dar uma resposta", disse Cristina, ao pedir uma "revisão" do funcionamento das instituições da ONU em geral e, "em particular, o Conselho de Segurança".
O Conselho de Segurança é composto por 15 estados-membros. Desses, cinco são permanentes e têm poder de veto - caso de Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China. Os outros dez são rotativos, com um mandato temporário de dois anos distribuído geograficamente.
Segundo a Argentina e muitos outros países, entre eles o Brasil, esse formato com veto originado na Guerra Fria impede uma resolução consensual dos conflitos, já que basta a rejeição de um único membro para bloquear uma iniciativa.
Hoje, os membros permanentes com poder de veto "obstruem a verdadeira solução dos conflitos", afirmou Kirchner, contrapondo essa estrutura aos resultados da Unasul, onde se trabalha por consensos.
Durante seu discurso, no qual voltou a apresentar a reivindicação argentina pela soberania das ilhas Malvinas, a presidente lembrou como a Unasul, criada em 2008, resolveu problemas entre países da região (entre Colômbia e Venezuela, por exemplo), assim como conflitos internos (entre Bolívia e Equador).
Nesse sentido, Cristina Kirchner disse que se deve explorar "ações para fortalecer as relações bilaterais entre as Nações Unidas e essas associações".
Unasul e Celac, pela primeira vez no Conselho de Segurança
Na abertura das discussões, o secretário-geral Ban Ki-moon destacou a importância de "trabalhar juntos para evitar e administrar crises" e lembrou a "longa história" de cooperação entre a ONU e organizações latino-americanas em missões para solução de conflitos e a manutenção da paz.
Ki-moon admitiu que "sempre há espaço para melhorar", mencionando, por exemplo, a necessidade de desenvolver uma "resposta mais rápida" para prevenir conflitos.
Já o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, cujo país exerce a presidência rotativa da Celac, destacou o trabalho da América Latina para buscar um "equilíbrio entre a unidade e a diversidade" de seus povos. É a primeira vez que a Celac participa do Conselho de Segurança.
"É hora de a nossa região se juntar ao equilíbrio do mundo com todo o peso de seus quase 600 milhões de habitantes", disse Rodríguez, manifestando o compromisso da América Latina com "a construção de uma ordem internacional mais harmônica".
Pela Unasul, a ministra das Relações Exteriores do Peru, Eda Rivas, lembrou do "importante papel" do organismo na prevenção de conflitos e resolução de controvérsias. O Peru exerce, atualmente, a presidência rotativa da Unasul.
Rivas afirmou também que o convite à Unasul para participar do Conselho de Segurança é um "reconhecimento" do trabalho da organização regional, que busca uma "estreita cooperação com as Nações Unidas" e estabelecer um "vínculo fluido com o Conselho de Segurança".
Americanos mais otimistas que britânicos
A nova embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Power, afirmou que a administração do presidente Barack Obama "intensificou a cooperação com todas as organizações regionais", consideradas "sócios valiosíssimos, pois também têm a responsabilidade de manutenção da paz".
"Os vizinhos costumam ter urgência na hora de resolver os conflitos regionais", disse Samantha, lembrando que foi a Liga dos Estados Árabes a primeira a alertar para os excessos do regime do ex-líder líbio Muamar Khadafi.
Já o embaixador do Reino Unido na ONU, Lyall Grant, foi mais crítico, com um discurso que se concentrou nas "dificuldades", mencionando as situações em que as "posições de diversas organizações podem diferir", ou "vão contra" as Nações Unidas. Esse foi o caso, segundo ele, da Costa do Marfim, em 2010 e 2011. Grant também se referiu à questão da "capacidade" dos organismos regionais, ressaltando que "têm, às vezes, a vontade política, mas não os meios financeiros" para agir.
AFP

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