07/08/2013

Negociar o que já foi prometido?

De início achei elogiável a iniciativa do governador Cid Gomes (PSB) em ter com os ocupantes do Parque do Cocó. Foi pra lá, fez questão de repetir, de caso não pensado e quase por acaso. Um cidadão que, passando por ali, de repente se deparou com o acampamento do #ocupeococó e resolveu descer para conversar sobre o tempo e vento.

Pois bem, também de início, achei corajosa a postura de ele chegar por lá e se dispor a dialogar com jovens cibernéticos e lideranças de outras gerações que se entrançam há 27 dias na margem do rio Cocó. Um ambiente leve e, ao mesmo tempo, tenso. 

Típico dos lugares de resistência e sua diversidade personagens.


Mas fui amofinado com o discurso do governador. Cheguei a acreditar que Cid Gomes, experiente que é, teria mais habilidade política que o prefeito Roberto Cláudio (PSB) e resolveria, fácil, a pendenga Cocó X viadutos.


Não foi bem assim e, até agora, não entendo o motivo da visita ao acampamento do #ocupeococó. Ele fez de conta que fez uma proposta irrecusável e se chateou com a falta de convencimento e arrogância dos que estão “morando” debaixo das castanholeiras.

Propôs na última segunda-feira o que já havia garantido no dia 21/5/13. Está no O POVO, na primeira página, manchete principal do jornal: “Parque do Cocó: Governo vai oficializar área até o fim do ano” (leia no http://bit.ly/12VkGJq).

Por meio do secretário-executivo do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), na época, João Paulo Cavalcante, mandou dizer que se comprometia em resolver a situação que se arrasta desde o primeiro governo de Tasso Jereissati (1986).

O secretário de Cid afirmou ao repórter Bruno de Castro que havia “uma ordem do governador para não se chegar a janeiro (de 2013) sem isso (a legalização das poligonais do parque)”.

Certo, naquela semana, Cid Gomes estava pressionado pelo Ministério Público Federal e precisava neutralizar o impacto de um novo ajuizamento pela legalização definitiva da área. O MPF, baseado em estudos, trazia fato novo. A maior parte das áreas indenizáveis estaria em terreno de marinha. Portanto, com grande possibilidade de estarem ilegais. Para pobres e ricos.

A proposta que Cid teve a coragem de fazer, apresentada como “vitória” para os acampados do Cocó e a Cidade, na verdade, é sinal de que sua palavra é volátil. Joga para a opinião pública a falsa impressão de que o governador tentou uma solução pacífica com os “radicais” do parque. Agora, lavou as mãos.

Sim, também propôs reflorestar dois hectares de mangue, caso se desfaça o acampamento. Outro absurdo. Independente do #ocupeococó e os viadutos, isso já deveria ter sido tocado. E preocupante: a legalização, agora, está atrelada à saída dos acampados? 



Demitri Túlio

demitri@opovo.com.br 

Repórter Especial do O POVO

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