Acompanhei toda a XXVIII Jornada Mundial da Juventude, que foi realizada na cidade do Rio de Janeiro no período de 23 a 28 de julho passado.
Incontestável o poder de comunicação do papa Francisco: comunicação breve, descontraída, o conteúdo da mensagem é claro, é extremamente transparente. E nas entrevistas, além de tudo isto, não é homem de meias palavras, mesmo quando as perguntas são provocativas e envolvem temas delicados.
Fascinou a todos com os seus gestos e com a sua coerência e se apresenta com um poder de comunicação midiático extraordinário. A juventude ficou apaixonada pelo papa.
O conteúdo de suas mensagens tem um direcionamento predominantemente de cunho pastoral e de fato é um papa pastor. Destaco dois momentos deste direcionamento. Logo no encontro com os bispos do Celam (28/7/13), apesar de termos o Documento de Aparecida como orientativo, não dispensou dar orientações sobre o caminho que a Igreja Latino-Americana deve seguir. Salientou que a Missão Continental está projetada em duas dimensões: uma programática e outra paradigmática.
A dimensão programática consiste na realização de atos de índole missionária e a dimensão paradigmática implica colocar em chave missionária a atividade habitual das Igrejas Particulares (as dioceses) e, em consequência disso, deve-se verificar toda uma dinâmica de reforma das estruturas eclesiais. Ressaltou que uma reforma das estruturas eclesiais (de caducas a novas) não é fruto de um estudo de reorganização estática, mas é consequência da dinâmica da missão.
Papa Francisco neste momento faz uma reflexão que, no meu entender, questiona sutilmente a mentalidade de cristandade ainda presente em nosso e que resiste à renovação paroquial. Quando ainda falando para os bispos do Continente, afirmou que “o que derruba as estruturas caducas, o que leva a mudar os corações dos cristãos é justamente a missionariedade” e, destarte, a importância da dimensão paradigmática da missão.
No contato com a juventude, o tema da Jornada esteve sempre presente: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt. 28,19), mas teve um momento em que o papa disse aos jovens: “Quero que saiam, quero que a Igreja saia pelas ruas, pelas estradas, quero que nos defendamos de tudo o que é imobilismo, do que é comodidade, do que é clericalismo, de tudo aquilo que é viver fechados em nós mesmos. As paróquias, as escolas, as instituições são feitas para sair... Que me perdoem os bispos e os sacerdotes, se alguns depois lhes criarem confusão. Mas este é o meu conselho. Obrigado pelo que vocês puderem fazer” (Encontro com os jovens Argentinos, 25.7.13).
Esta reflexão, cruzada com outra em que ele afirma que o discípulo de Cristo não é uma pessoa isolada em uma espiritualidade intimista, mas uma pessoa em comunidade para se dar aos outros, completa o sentido da sua ideia, ou seja, a Igreja não deve ser uma instituição voltada para si mesma, mas servidora do mundo, ideia bem conhecida do Concílio Vaticano II.
Finalmente, o convite feito aos jovens na missa de envio: o papa falou aos jovens dizendo que eles puderam fazer uma bela experiência de encontrar Jesus e de encontrá-los juntos, sentido a alegria da fé e pediu aos jovens que a experiência da Jornada não podia ficar trancafiada na vida de cada um, num pequeno grupo da paróquia, do movimento, da comunidade. Seria como que cortar o oxigênio a uma chama que arde. A fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada, transmitida.
Importante agora é que cada paróquia consiga reunir os jovens que participaram da JMJ e reorientar rumos a partir da experiência vivida. Também em nível diocesano, a Coordenação da Juventude possa repensar a PJ.
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, diretor e professor da Faculdade Católica de Fortaleza
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