19/09/2013

Precisamos ser pássaros e não devemos ser rei ou imperador

Por Gilmar Passos*

Dentro da história da humanidade, há grandes relatos sobre grandes reinos e impérios. Duas dimensões que ganham destaque e encantam a muitos. O encanto vem da imagem que ficou dentro da história e na psicologia das pessoas. Reis e imperadores são apresentados como aqueles que se fixavam numa região geograficamente estratégica, de onde partiam para conquistar terras e pessoas, de um modo ambicioso e sem limites.

São vários os impérios e imperadores registrados na memória da humanidade. O Império Romano, como tantos outros, ambicionou conquistar todos os territórios, todos os lugares. Foi potencialmente rico em expansão territorial, rico em privilégios e regalias. Ele tem deixado no mundo sua marca.

Os modelos de impérios e reinados provocam uma ânsia de poder, criando uma cultura de escravos. A partir disso, as consequências são trágicas para as pessoas. Isso acontece porque elas passam a focar todas as atividades da vida na busca insistente para conseguir o poder de domínio.

Na atualidade, a busca intensiva pelo domínio e poder já não se estabelece tanto pela busca em conseguir o maior território avançando as linhas de fronteiras, também os números de escravos não estão fixados ou distribuídos ao longo das terras conquistadas. Assim como esses modelos mudaram, também houve mudança no modelo de busca pelo poder, pelo domínio. 

A maneira de alcançar os territórios está fixada de um jeito novo, acompanhando as mudanças do tempo. As conquistas territoriais não são feitas avançando os limites das regiões de fronteiras, mas conquistando o maior número de bens materiais e do aumento da conta bancária em todo o planeta. É assim que vemos crescer as empresas nacionais e multinacionais.

Assim sendo, os ambiciosos pelo poder e domínio, continuaram na história provocando transtornos pela ganância de poder e de escravidão. O que vemos na atualidade é ser desenvolvida uma política internacional institucionalizada que agride a consciência das pessoas sem limites de fronteiras.

Os cidadãos de hoje já não são mais de uma determinada localidade geográfica, vivendo sobre o domínio de um determinado imperador ou rei. A cidadania tem se internacionalizado, ficando as pessoas originadas de uma nacionalidade e abertas aos limites internacionais. É através disso que os habitantes das cidades ficam livres para transitar em toda a parte do planeta, desde que sejam seguidos os acordos e as orientações dos parâmetros internacionais ditados pelos donos dos lucros.

Quem legisla as leis internacionais são os detentores da economia, os imperados e reis do nosso tempo. São eles que detêm a grande concentração das riquezas mundiais e carregam os nomes e marcas de seus produtos em todo o mercado internacional. Eles criam e sustentam uma falsa cultura da busca pelo poder. Algumas pessoas não conseguem ter o poder em mãos, no entanto, participam das regalias, dos privilégios oferecidos pelos reis e imperadores da atualidade.

Quem participa do grupo dos privilegiados mantém a postura de proteger o seu rei ou seu imperador dos possíveis ataques dos agressores. Hoje, os agressores são aqueles que tiveram seus direitos roubados e, por não se contentarem, exigem os seus direitos e lutam por eles. Também eles recebem o nome de subversivos, baderneiros, etc.

Mas os reis e imperadores ficam escravos da ganância em lucrar, em obter mais bens, em aumentar sua conta bancária...

Os reis não são livres, também são escravos. Ficamos, pois, numa sociedade de muitas pessoas escravas e poucas pessoas livres. Umas são escravas em lucrar mais, outros em estarem submetidas às leis dos ambiciosos e donos dos lucros, outras são escravas em criar mecanismos que regulem as leis ou em manipular pessoas para se curvarem perante elas e diante dos seus patrões, coronéis, reis, imperadores.

Uma coisa não se discute: essas histórias de impérios e reinados, imperadores e reis chamam a atenção da pessoa que prioriza a ambição na própria vida. O modelo psicológico de projeto imperial causa euforia, efeito de concorrência, e os concorrentes entram para disputar. Esse modelo é uma das causas das brigas, das intrigas e dos atropelos na sociedade. 

O bom em saber é que, embora tudo isso aconteça, há enraizada a presença e atuação de pessoas livres. As pessoas que alcançam a liberdade são aquelas que conseguem sobrevoar todo o sistema opressor, vendo e analisando as suas fraquezas e desce para o meio dos escravizados para apontar as vias de liberdade. Essas pessoas são pássaros, águias que sobrevoam livremente em todo o território internacional.

Os pássaros, nós já sabemos como vivem na natureza. Sabemos que eles vivem e respeitam as leis da natureza. Eles são capazes de migrar de um lugar para outro para buscar alimentos. As águias se destacam pela esperteza em buscar o alimento, elas sobrevoam ao alto, quando veem o alimento param ao longe, e de lá ficam observando o momento certo de descer e capturar-lo.

A liberdade dos pássaros também fica evidente na ajuda que eles prestam à natureza. Eles espalham as sementes das plantas, contribuindo para o nascimento de novas árvores. Eles ajudam e protegem os indefesos, voam longe para buscar o alimento para seus filhotes. Realmente eles são solidários, companheiros e protetores do meio ambiente.

Essas características não estão presentes nos reis e imperadores ou naqueles que carregam a imagem psicológica de rei e imperador. Estes não são solidários, não são companheiros e não protegem a vida dos mais fracos. Mesmo quando eles passam por momentos de fraquezas eles querem que tudo ao seu redor esteja a sua disposição, continuam querendo dominar o ambiente.

É por essas questões analisadas que eu sou levado a proclamar: “Precisamos ser pássaros e não devemos ser rei ou imperador”. Devemos querer a liberdade e ter a coragem em promovê-la.

Não devemos ser rei ou imperador porque a história nos mostra que todo reino e todo império tiveram um fim. Muitos imperadores e reis tiveram um fim trágico. Nenhum reino ou império sobrevive eternamente, significando que quando se elege tanto um como em outro se investe tempo e energia numa coisa frágil. Mas, o ser humano vive para sua realização pessoal e o que lhe traz essa realização são coisas sólidas e não as que facilmente se destroem, como os impérios e reinos.

A liberdade é algo sólido e que não se desfaz. Por isso, nos asseguramos que são de pessoas livres que precisamos. Por outro lado, precisamos destruir, primeiro em nossos pensamentos e em seguida em nossas ações, a imagem psicológica de rei e imperador. A imagem e modelo que mais se divulgada na sociedade são dos imperadores e reis, no entanto, são os pássaros quem têm muito conteúdo bom a nos ensinar. Precisamos conhecê-los mais a fundo.
* Gilmar Passos é sacerdote da Diocese de Estância (SE) e tem uma formação cristã ampla. Estudou Filosofia no Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição, Aracaju-SE e Teologia no Seminário Diocesano Rainha das Missões. Obteve a validação do Curso de Teologia pelo MEC na Faculdade Católica de Fortaleza. Atualmente cursa Pós-Graduação em Docência do Ensino Superior no Instituto de Ciências Humanas João Paulo II (IJOPA). Passos é autor de dois livros: Identidade cristã no século XXI (2012) e Miopia humana e mensagem cristã: uma leitura de fé em tempos de crise (2013), ambos publicado pela Fonte Editorial.
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