21/09/2013

Senhor Jesus nos recomenda o cuidado que devemos ter com o uso das coisas materiais

Padre José Fernandes De Oliveira*
XXV domingo do tempo comum - ano C
Mais uma vez o Senhor Jesus nos recomenda o cuidado que devemos ter com o uso das coisas materiais. É impressionante a preocupação do nosso Salvador com esse tema, porque ele sabe o quanto nos atrai o dinheiro, o que pode comprometer o nosso encontro definitivo com Deus Pai, para onde são chamados no término da nossa estadia nesse mundo. E, para que sempre estejamos atentos para esse perigo que constantemente nos rodeia, na celebração eucarística deste domingo, o evangelista Lucas nos faz o relato de uma de suas parábolas, que se costuma chamar do administrador infiel.
Trata-se de um homem, acusado de incompetência na administração dos bens de seu patrão. Chamado à prestação de contas, corre o grave risco de ser despedido. Mesmo sabendo da sua indisposição para o trabalho e, menos ainda, para mendigar, age rapidamente para superar a situação em que se vê envolvido, mesmo com o preço da desonestidade, e assegurar-lhe um futuro tranquilo. E o encontra se valendo do favorecimento dos próprios devedores diminuindo-lhes a carga de suas dívidas, dispensando parte da comissão que lhe cabia por direito. Com isso, diante de tanta generosidade de sua parte, eles lhe seriam gratos e haveriam de socorrê-lo quando privado de suas funções. 

Na verdade, quando se trata de viver e, sobretudo, de sobreviver, estamos prontos a tudo que nos pareçam bons, mesmo por caminhos avessos. O relato de Jesus à primeira vista provoca em todos nós uma reação de espanto. Com efeito, pode parecer que Jesus, ao louvar o comportamento do administrador, esteja fazendo um elogio à astúcia e ao procedimento desonesto do administrador. Mas não é bem assim. O Senhor não faz o elogio da desonestidade do administrador, mas da sua habilidade na busca de uma solução rápida para o gravíssimo problema que lhe poderia ocorrer: a perda do emprego. Na verdade, o que o administrador faz é entender que o dinheiro tem um valor relativo e o troca por outros valores mais significativos: a amizade, a gratidão. 

Por isso, o objetivo da parábola é nos fazer refletir a respeito da nossa disposição para procurar o essencial. Desse modo, assim como os filhos deste mundo estão dispostos a sacrificar tudo em favor da aquisição de bens materiais, precisamos, os filhos da luz, aprendermos a ver os bens materiais não como um fim em si mesmo, mas para conseguir algo mais importante e mais duradouro, que é o Reino de Deus. Se soubermos utilizar bem os materiais, ainda que necessários para a nossa vida neste mundo, tendo em conta as exigências do "Reino", seremos dignos de receber o verdadeiro bem, quando nos encontrarmos definitivamente com o Senhor ressuscitado. O valor positivo da riqueza se encontra no seu valor simbólico de instrumento para criar relações de uma verdadeira fraternidade, porque somente esta tem raiz de eternidade. 

Sempre que o dinheiro nos leva a criar desigualdades, geradas pela ambição em ter sempre mais e somente para o nosso próprio benefício, ele se tornará em coisa iníqua e fonte de pecado. Na verdade, encontrar o valor positivo do dinheiro na sociedade em que vivemos nem sempre é fácil. O mundo decidiu que o dinheiro é a razão de ser da existência humana e, por isso, viver para ele é uma necessidade tão imperiosa que tudo o mais deixa de ter importância, até mesmo a própria dignidade, até mesmo Deus. Por dinheiro, se preciso for, há de se sacrificar a própria consciência, a vida do irmão, a justiça, que é o exercício do respeito aos direitos dos outros e de pouco se importar que a miséria bata à porta de quem quer que seja. É possível que haja cristãos e não cristãos que não cheguem a esses extremos, mas o ensinamento do Divino Mestre deve nos levaar a nos perguntar até onde seríamos capazes de ir por causa do dinheiro.

Por isso, Jesus nos lembra que a busca obssessiva pelo dinheiro não é o caminho mais seguro para se construir valores duradouros, geradores de vida plena e de felicidade. Vale, portanto, nos perguntar: O que nos move na nossa atividade profissional, o dinheiro ou o serviço que podemos prestar aos nossos irmãos? O que nos torna mais livres, mais humanos e mais felizes, a escravidão dos bens materiais ou o amor e a partilha? Não precisa dizer que a busca e o uso dos bens materiais deva ser algo desprezível e imoral, do qual devamos fugir a todo custo. Não é isso que o Senhor está a nos dizer neste domingo. O dinheiro é algo imprescindível para vivermos neste mundo e para termos uma vida com qualidade e dignidade. O que Jesus nos recomenda é que o dinheiro não se torne uma obsessão, uma escravidão a ponto de nos afastar do bem maior que é Deus. Se usarmos com sabedoria e diligência evangélica os bens materiais, estaremos adquirindo um tesouro bem maior que somente pode ser encontrado na comunhão eterna com Deus.

O Senhor Jesus conclui seu ensinamento nos dizendo que não se pode servir a dois senhores, porque isso pode nos levar a sermos mais fiel a um que ao outro. Não se pode servir ao mesmo tempo a Deus e ao dinheiro. É para Deus que devemos orientar a nossa vida; é para Deus que devemos orientar tudo que somos e tudo que fazemos. Sabemos todos nós que não podemos viver sem o dinheiro, mas devemos aprender a não nos utilizarmos dele egoisticamente. Nada levaremos deste mundo, a não ser o bem que tivermos feito uns aos outros. Este bem é a única chave que poderemos conduzir conosco depois de sairmos deste mundo, a única que nos abrirá a porta para a nossa comunhão eterna com Deus, a razão de ser de toda nossa vida. Amém.

*Doutor em Direito Canônico, Presidente do Tribunal Eclesiástico do Ceará e professor da Faculdade Católica de Fortaleza

Nenhum comentário :

Postar um comentário