03/10/2013

«As cercas do Vaticano foram cortadas»

A apresentação do livro «Quando a Igreja Desceu à Terra - Testemunhos de memória e futuro nos 50 anos do Concílio Vaticano II» reuniu na passada quarta-feira, 3 de outubro, em Fátima, o autor da obra, os dois entrevistados, e três gerações de cristãos. O lançamento da publicação, que resulta de uma entrevista do jornalista António Marujo aos sacerdotes António Rego e Ramón Cazallas, contemplou um debate dedicado ao tema «O catolicismo do Concílio Vaticano II ainda tem futuro?», no qual intervieram Carlos Camponez, Maria da Conceição Moita e Joana Rigato. Para o jornalista António Marujo, «a proposta do Concílio ainda tem lugar no tempo atual».

Na Cova da Iria, o padre António Rego recordou as alterações provocadas pelo Concílio. «Ordenei-me em 1965. Estava o Concílio Vaticano II a emergir. Posso dizer que a minha primeira missa foi em latim, com o rito ainda antigo, e dali a seis meses já estávamos a fazer uma peça de teatro na minha terra natal para conseguirmos dinheiro para ter um altar voltado para o público», disse o sacerdote, exemplificando algumas das «mudanças quase repentinas» desencadeadas pelo Concílio.

Para o padre Ramón Cazallas, missionário da Consolata, «o mais importante do Concílio Vaticano II é que a Igreja saiu para o povo e o povo entrou na Igreja». Através deste acontecimento, «as cercas do Vaticano foram cortadas», afirmou o sacerdote, destacando que «houve gente que cortou os arames para que a Igreja saísse de si mesma». Segundo o missionário, o Papa Francisco está a levar a sociedade «para esse espírito pós-conciliar de pobres e de pobreza, através do diálogo com aquelas pessoas que nos últimos anos estavam um pouco afastadas da Igreja».

Das consequências do Concílio Vaticano II, Carlos Camponez, professor de jornalismo na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, recordou a «mutação da linguagem» e destacou as «profundas alterações na vida da Igreja». Já Maria da Conceição Moita, professora da Escola Superior de Educação de Lisboa, lamentou o desinteresse e desconhecimento dos cristãos em relação a este acontecimento. «Há cristãos que desconhecem o que essencial ocorreu no Concílio. As pessoas devem saber o que se passou», referiu.

Para Joana Rigato, professora de Filosofia e doutoranda em Filosofia da Ciência, o novo livro expõe o «fervor e o entusiasmo com que os jovens seminaristas e os jovens padres da altura viviam este ‘vento’ transformador e tão promissor de uma nova teologia, pastoral e uma nova forma de ser Igreja». «Tudo isso prometia uma transformação tão radical na Igreja. Mas essa transformação, até agora, ainda ficou muito aquém», disse.

Fátima Missionária

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