05/10/2013

Brasil: país da hipocrisia

Fui distribuir panfletos para divulgação de uma instituição na porta de uma ‘rica’ escola, em que alunos ricos – em soberba e falta de educação – chegavam em belos carros com seus pais também ricos – em grosseria e ostentação.

As pessoas ficam clamando por mais saúde, postura do governo, menos corrupção e blá blá blá. Olha, eu vou começar a pedir também, sabe? Mas não por esses pedidos clichês e finalistas, mas pedidos que fundamentem a nossa base de relacionamentos. Vou pedir por menos hipocrisia e cinismo, por mais atitude social, por menos falso intelectualismo, por menos aparência e mais conteúdo, por mais reflexão... Vou pedir por mais senso crítico, por mais informação. 

Às vezes sinto como se estivéssemos na Idade Média, como se ainda fôssemos manipulados por algo maior, como se não fôssemos capazes de aceitar novas informações. Ampliamos nossas capacidades lógicas, mas somos os mesmos em essência. O homem, infelizmente, não consegue evoluir. Pelo contrário, a cada geração pioramos. As crianças nascem com tablets nas mãos, mas crescem com ‘Rei na barriga’. Cada vez mais se iludem com as suas certezas criadas: de que seus achismos são verdades absolutas. E os pais e professores e escolas aumentam essa certeza, e os fazem virar adultos que, quando veem uma pessoa tentando fazer o seu trabalho, ou são grosseiros e te olham com desdém ou então pegam o seu panfleto e jogam no chão, com o lixo há poucos metros de distância. 

O ser humano é, de fato, complexo: tem potencial para tantos feitos, mas se deixa ludibriar por um terno ou jaleco branco ou o que mais lhe dê o mínimo de status. Não nos assumimos, não assumimos nossos problemas, não tomamos posicionamento, estamos sempre colocando a culpa dos nossos problemas em alguém ou algo superior. Adoramos transferir nossas frustrações para alguém que nos represente, e é por isso que sempre buscaremos um pai ao invés de um presidente, um super-herói ao invés de policial, um mãe ao invés de um professor e, pior, uma monarquia mascarada de república ao invés de um governo onde realmente possamos assumir todos os direitos que foram conquistados para termos uma vida mais digna. É como disse Laurentino Gomes: ‘Somos uma peculiar república sem povo’, e pior, somos um aglomerado de pessoas que se dizem orgulhar de sua ‘mesticidade’ quando na verdade não suportamos diferenças. 

É lindo falar que o Brasil é o país das misturas, das cores, das muitas raças e crenças. Mas é bem frustrante saber que isso não passa de uma tentativa de dar algum sentido para a frase ‘povo brasileiro’.

Não somos simpáticos, não somos acolhedores, talvez no exterior seja pior, mas pelo menos não tentam passar uma imagem que não os representa de fato: pobres que ostentam riqueza e ricos que esbanjam pobreza. No fim, somos todos seres humanos parados no tempo e, pior, brasileiros.

Brígida Rodrigues Coelho é graduanda em Direito pela Escola Superior Dom Helder Camâra. Começou a escrever com 15 anos no jornal filosófico Conhece-te a ti mesmo e, atualmente, tem uma coluna no jornal o Baruc, de Congonhas e região. Vencedora de muitos concursos literários nacionais e internacionais gosta de focar em assuntos críticos os quais possa relacionar à filosofia. 

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