O jornal italiano «La Reppublica» publica hoje uma entrevista do Papa ao fundador da publicação, Eugenio Scalfari, na qual Francisco insiste na necessidade de uma Igreja Católica pobre “entre os pobres” e em diálogo com a “cultura moderna”.
“Temos de devolver esperança aos jovens, ajudar os idosos, abrir o futuro, difundir o amor. Pobres entre os pobres: temos de incluir os excluídos e pregar a paz”, disse, durante um encontro que decorreu na Casa de Santa Marta, no Vaticano, no último dia 24.
Francisco considera que o desemprego dos jovens e a solidão dos idosos são os “males mais graves” do mundo atual e que a Igreja não pode ficar indiferente aos que foram “esmagados” pelo presente, advertindo para as consequências do "liberalismo selvagem".
“É possível viver esmagado pelo presente, sem memória do passado e sem desejo de se projetar no futuro, construindo um projeto, um futuro, uma família?, questiona, antes de afirmar que, do seu ponto de vista, “este é o problema mais urgente que a Igreja tem diante de si”.
Scalfari, que se assume como ateu, revela que foi o próprio Papa que lhe telefonou e marcou o encontro, na sequência de uma troca de cartas entre os dois sobre o papel da Igreja no mundo e o diálogo entre crentes e não crentes.
Francisco coloca-se na linha de João XXIII, que vai proclamar como santo em abril de 2014, e de Paulo VI, os Papas que presidiram ao Concílio Vaticano II (1962-1965), a última grande reunião mundial de bispos católicos.
Segundo o atual Papa, é preciso retomar a decisão de “olhar para o futuro com espírito moderno e abrir-se à cultura moderna”.
Os participantes no Concílio, acrescenta, “sabiam” que este esforço implicava “ecumenismo religioso e diálogo com os não crentes”.
“Desde então foi feito muito pouco nessa direção. Eu tenho a humildade e a ambição de querer fazê-lo”, revela.
No dia em que o Papa se reúne pela primeira vez com o novo conselho consultivo de oito cardeais, dos cinco continentes, a entrevista deixa elogios ao grupo de pessoas “sábias”.
“Isto é o início da Igreja com uma organização não só vertical mas também horizontal”, refere, processo que exige “prudência, firmeza e tenacidade”.
Francisco admite que ao longo da história houve responsáveis da Igreja que foram “narcisistas” e mal aconselhados pelos seus “cortesãos”, falando mesmo da corte como uma “lepra do papado”.
A intervenção distingue esta realidade da atual Cúria Romana, centrando as críticas no "defeito" que reside numa ação “vaticanocêntrica” e prisioneira de “interesses temporais”.
“Esta visão vaticanocêntrica descura o mundo que nos rodeia: não partilho desta visão e farei tudo para a mudar”, assinala.
Em relação ao diálogo com quem não tem fé, o Papa diz que o objetivo da Igreja não é o proselitismo – “um absurdo solene, que não tem sentido” -, mas conhecer, ouvir e entender o que a rodeia.
“O mundo é percorrido por caminhos que aproximam e afastam, mas o importante é que levem ao Bem”, precisa.
Nesse sentido, Francisco afirmou que cada pessoa tem a sua “ideia de Bem e de Mal” e deve “escolher seguir o Bem e combater o Mal”, o que “bastaria para melhorar o mundo”.
“Eu creio em Deus, não um Deus católico – não existe um Deus católico, existe Deus”, declara ainda.
A entrevista apresenta o ideal de uma Igreja “missionária e pobre”, como foi desejada por São Francisco de Assis, há 800 anos, que permanece “mais do que válido”.
OC
Agência Ecclesia
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