Bispo da Diocese Leiria-Fátima afirma que visita ao Vaticano da imagem venerada na Capelinha das Aparições sublinha a dimensão mundial do santuário
O bispo da Diocese Leiria-Fátima, afirma que a viagem ao Vaticano da imagem venerada na Capelinha das Aparições vai reforçar a ligação do papado à mensagem de Fátima e a dimensão mundial do santuário. Segundo D. António Marto esta escolha é “uma homenagem” e um “motivo de alegria e de honra” que se deve facto de Nossa Senhora de Fátima ser “um ícone representativo para todo o mundo cristão”
Agência ECCLESIA (AE) – Que significado tem esta terceira viagem da imagem ao Vaticano, colocando Nossa Senhora de Fátima no centro desta jornada mariana? D. António Marto (AM) - Em primeiro lugar foi uma surpresa, foi um telefonema que recebi de Roma, da parte do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, monsenhor Rino Fisichella, em meados de janeiro de 2013, a fazer o pedido em nome do Santo Padre, Bento XVI, na altura, para permitirmos a deslocação da imagem até Roma, neste dia 13 de outubro. A primeira reação foi dizermos: “Bom, mas nós também temos a peregrinação internacional nessa altura”. Depois D. Rino Fisichella disse: “Foi o Santo Padre que pediu” e diante disso, respondi que ao Santo Padre nunca se diz que não. Entretanto o Santo Padre pediu a resignação e depois em maio veio uma carta a confirmar que o Papa Francisco também manifestava o mesmo desejo. A ida insere-se no Ano da Fé: foi organizada uma grande peregrinação de todos os movimentos marianos a Roma e para surpresa nossa foi então escolhida a imagem original de Nossa Senhora de Fátima, porque segundo as palavras mais ou menos textuais “é o ícone mais representativo para todo o mundo cristão”. Isso para nós é motivo de alegria e até de honra. AM - Em primeiro lugar pois é uma homenagem, uma presença de Nossa Senhora como ícone da fé, aquela que é a testemunha por excelência e o modelo por excelência da fé. Depois é a imagem de Nossa Senhora de Fátima que veio aqui, trazendo uma mensagem do céu à terra, num momento histórico da humanidade em que corria o risco de uma autodestruição e a Igreja também corria o risco do aniquilamento por parte da perseguição de poderes ou das potencias ateias. Nossa Senhora veio despertar a fé do mundo e a fé da igreja nestes novos tempos e agora no início do novo milénio, o ano da fé, foi também para chamar os cristãos a redescobrir a beleza, a alegria e o entusiasmo e a coragem. AE - A consagração ao mundo, que já foi feita por João Paulo II, poderia ser feita por outra imagem, não faltam ícones marianos no Vaticano… AM - Sim, naturalmente, e isso acentua exatamente a ligação à Mensagem de Fátima e a Fátima. O Santuário existe por causa da mensagem, para a difundir e por conseguinte também para a atualidade da mensagem. E um dos atos significativos, depois da Jornada Mariana, é a consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria, que já foi feita pelo Papa Pio XII, por Paulo VI, depois por João Paulo II e agora é repetida mais uma vez no início do milénio, para confiar o mundo neste momento de escuridão e de ameaças de guerras, como acabamos ainda de presenciar, são guerras regionais mas que envolvem hoje praticamente o mundo. Depois, confiar o mundo a Maria, à sua proteção materna, englobando, isto é, envolvendo toda a Igreja, todos os cristãos, sobretudo, quer dizer, que todos se sintam unidos neste empenhamento, quer através da oração para os levar também à ação na causa da paz, portanto, não é uma fuga à realidade. Nossa Senhora também nos quer envolver nesta causa da paz a todos. AE - O mundo ainda está a tentar perceber que ligação tem o Papa Francisco ao Santuário de Fátima e a Maria. AM - A devoção mariana do Papa Francisco é conhecida e foi dada a ver a toda a gente, quer logo no início do pontificado, quando foi no dia seguinte tomar posse do seu ministério foi à Basílica de Santa Maria Maior, foi confiar o ministério a Nossa Senhora, e depois no Brasil, no Santuário de Aparecida. Mas o interessante é que o Santo Padre também se referiu a Fátima num dos Angelus. Esperemos que um dia o possamos receber aqui também no Santuário, quanto mais não seja sobretudo nessa data, em 13 de maio de 2017, no centenário das aparições. AE - A vinda do Secretário de Estado, D. Tarcisio Bertone, para presidir às celebrações de 12 e 13 de outubro, no Santuário de Fátima, assume também uma importância especial? AM - Sim, nós quisemos fazer desta última peregrinação aniversaria internacional como que o cume da celebração do Ano da Fé e quisemos também manifestar a nossa comunhão particular e especial com o Santo Padre nesse momento em que a imagem está em Roma, também num momento em que faz a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria. Tivemos a felicidade de poder contar com a presença do cardeal secretário de Estado, que vem realçar esta comunhão e esta sintonia do Santo Padre com o Santuário. AE – O cardeal Bertone também tem uma ligação a Fátima, teve ligação à irmã Lúcia, o que é que isso pode significar? AM - Sim, ele deve ser das pessoas que tem mais proximidade e conhece mais por dentro a Mensagem de Fátima e todas estas vicissitudes que a foram acompanhando sobretudo a partir do pontificado de João Paulo II, foi o enviado especial do Papa João Paulo II para dialogar com a Irmã lúcia acerca da interpretação da 3ª parte do segredo, acerca da consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria. O cardeal secretário de Estado escreveu um livro muito lindo sobre a última vidente, que também foi traduzido para português, que se lê com todo o gosto; mesmo agora, em relação à celebração do centenário acerca de iniciativas que ainda vamos tomar, manifestou sempre toda a abertura e toda a disponibilidade para nos ajudar. Nesse sentido, é também uma gratidão para nós em relação à sua pessoa por tudo o que tem feito por Fátima. AE - podemos esperar um anúncio de beatificação ou canonização com a sua vinda, dada a proximidade com a mensagem e a Irmã lúcia? AM - Para já não. Nós não podemos ultrapassar os acontecimentos, quer dizer que é preciso seguir todos os passos. O processo está a andar, refiro-me a um processo de canonização dos pastorinhos – o processo de beatificação da Irmã Lúcia decorre pela diocese de coimbra onde viveu e morreu, está a andar mas com um ritmo próprio, não podemos apressar só porque vem cá o cardeal. AE - De alguma forma, o cardeal encerra as suas funções no santuário, uma vez que dias depois vai ser substituído no cargo. Tem um significado importante, vir a Fátima? AM - Sem dúvida, ele vem na qualidade de secretário do Santo Padre, podia até já ter resignado e vinha como ex-secretário de Estado. Aqui tem maior peso, significado e maior alcance, quer a vinda dele, quer a coincidência da sua vinda com a ida da imagem a Roma, isso manifesta e põe em relevo a dimensão mundial da mensagem e a dimensão mundial do Santuário de Fátima, é uma graça e uma honra para Fátima. AE – É isso que estará no centro nos dias 12 e 13? AM - Sim mas enquadrada portanto agora dentro do Ano da Fé e desse gesto da consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria. AE - De que forma as pessoas daqui se vão unir ao Vaticano nesses dias? AM - Não vamos fazer nada de especial, mas colocamos essa intenção e já demos a sugestão naturalmente para o cardeal também se referir a isso numa das suas homilias. AE – A mudança do secretário de Estado é uma das que o Papa está a iniciar dentro do Vaticano. Poderá esta ida da imagem ser de alguma forma inspiradora para essas mudanças? AM - Pode ter sido inspiradora já para João Paulo II, naquele exame de consciência e no pedido do perdão dos pecados da Igreja no ano 2000, no ano da redenção. Eu penso que a Mensagem de Fátima foi um grande convite à Igreja a fazer um exame de consciência e também a penitência. É possível que tenha inspirado também o Bento XVI quando aqui esteve numa altura difícil da Igreja e aplicou a Mensagem de Fátima o na viagem de avião desde Roma, ao afirmar que o grande inimigo da Igreja não são os de fora, mas o pecado que está dentro da Igreja e possivelmente pode ter inspirado também para tomar aquela atitude de dar o lugar a outro (renúncia), dizia ele para o bem da Igreja. AE – Nos dias 12 e 13 vai estar a acompanhar o cardeal Bertone. Fica alguma pena de não se deslocar ao Vaticano a acompanhar a imagem? AM - Creio que toda a gente compreende que tenho muito pena de não poder acompanhar a imagem de Nossa Senhora para estar presente no Vaticano num ato tão único e tão solene e significativo, para poder estar lá com o Papa pessoalmente. São ocasiões únicas que a gente não sabe se se repetem mais, pelo menos durante o meu episcopado - já não são muitos anos que me restam, tenho 66, no máximo 9 anos -, não sei se durante esses nove anos terei outra oportunidade, de qualquer modo é uma questão de sentimento, do ponto de vista da fé a união e a comunhão exprime-se mesmo estando aqui e a imagem lá. AE – De qualquer forma, caminhamos para que o Papa possa estar aqui em 2017? AM - Espero bem, o convite oficial da Conferência Episcopal Portuguesa já foi enviado, nestas ocasiões tem de o fazer com tempo dada a agenda de um Papa, todos compreendem. Também sabemos que a reposta nunca vem imediatamente, na melhor das hipóteses, um ano antes dessa data. Quando foi da vinda de Bento XVI, em 2010, foi cerca de 9 meses antes. AE - Nessa altura é que se começará a preparar a visita? AM – Se o Papa vier não será só a Fátima, naturalmente. Fátima é a ocasião e o motivo, depois dependerá da saúde dele, mas irá a outros lugares de Portugal. Nós aqui em Fátima já estamos habituados a receber os Papas, por conseguinte não é difícil montar a máquina, se assim se pode chamar, para preparar a visita, isso é fácil, quer da parte do Santuário de Fátima quer das autoridades civis, até porque tem sido feito sempre numa coordenação muito harmoniosa e eficiente. LS Agência Ecclesia |
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