06/11/2013

A viúva do ex-bispo que falava ao telefone com o papa

            Foto: Reprodução Internet

Por Andrea Tornielli


Morreu na segunda-feira (4) à noite, em um hospital de Buenos Aires, a viúva do ex-bispo Jerónimo Podestá. Como arcebispo de Buenos Aires, em 2000, Jorge Mario Bergoglio havia assistido Podestá no leito de morte. E desde então permanecera em contato com a viúva, telefonando-lhe também como papa. Em 1966, Podestá, com 45 anos de idade, bispo da diocese de Avellaneda, havia encontrado Clelia, na época com 39 anos, separada e mãe de seis filhos – iniciando com ela uma relação que o levaria a abandonar o episcopado no ano seguinte. Em 1972, fora dispensado do estado clerical e em seguida, casou-se com a mulher.

A senhora Luro, poucos dias após a eleição do papa Francisco, havia contado numa entrevista: “Um mês antes de morrer, Jerónimo (Podestà) me disse: “´Clelia, quero ir falar com o arcebispo´". A mulher lhe pediu porque o predecessor de Bergoglio não o havia recebido. “É um jesuíta muito inteligente, e irá me escutar”, tinha sido a resposta do ex-bispo. “Ficaram falando por duas horas e Jerônimo ficou muito contente”.

Quando Bergoglio soube que Podestá se recuperara, “me telefonou perguntando-me se podia chamá-lo. Respondi-lhe: certo, ficará contente. Disse-lhe qu4e estava no hospital San Camillo e falamos. Quando o levaram para reanimação, Bergoglio estava empenhado numa audiência, e a Irmã o advertiu. Ele encerrou a audiência e veio”. O arcebispo foi levando o óleo para a unção dos enfermos. O ex-bispo não estava consciente “mas me apertou com força a mão”, havia contado Bergoglio à mulher. 

“Eu sei o que significou para Jerónimo, enquanto estava partindo desta vida, a presença de Bergoglio. O arcebispo disse ás Irmãs: ´Não tireis Clelia da sala de reanimação, deixai-a até o fim´. Antes me deixavam ficar junto dele por apenas quinze minutos. Desde então nasceu minha simpatia e minha gratidão por Bergoglio... É um homem de gestos, e a gente crê pelos gestos”. A mulher, nos meses passados, havia contado das telefonadas ocorridas também após a eleição ao papado. 

A propósito do celibato sacerdotal, o então cardeal Bergoglio, no diálogo com o rabino Abraham Skorka, publicado no l viro “Il cielo e la terra” (O céu e a terra), havia dito: “É um tema que está sendo discutido no catolicismo ocidental, por solicitação de algumas organizações. Por ora se mantém firme a disciplina do celibato, Há quem diz, com certo pragmatismo, que estamos perdendo mão de obra. Se, por hipótese, o catolicismo ocidental devesse rever o tema do celibato, creio que o faria por razões culturais (como no Oriente), e não tanto como opção universal”. 

“Para o momento – continuava Bergoglio – eu sou a favor da manutenção do celibato, com todos os prós e contra que comporta, porque são dez séculos de experiências positivas mais do que de erros. A tradição tem peso e tem validade. Os ministros católicos escolheram gradualmente o celibato. Até 1100 havia quem o escolhia e quem não... é uma questão de disciplina e não de fé. Se pode mudar. A mim, pessoalmente, jamais passou pela cabeça a ideia de desposar-me”. 

O que o futuro papa não tolerava era a vida dupla dos sacerdotes. “Se um deles vem a mim e me diz que engravidou uma mulher, eu o escuto – dizia Bergoglio no diálogo com o rabino – procuro tranquilizá-lo e pouco a pouco lhe faço entender que o direito natural vem antes do seu direito enquanto padre. Consequentemente, deve deixar o ministério e encarregar-se do filho, também no caso em que decida não desposar a mulher. Porque, como aquele bebê tem direito a ter uma mãe, também tem direito a ter um pai com uma fisionomia real. Eu me empenho a regularizar todos os seus documentos em Roma, mas ele deve deixar tudo. Agora, se um padre me diz que se deixou arrastar pela paixão, que cometeu um erro, o ajudo a corrigir-se. Há padres que se corrigem, outros não. Alguns, infelizmente, não vêm sequer dizê-lo ao bispo”. 

Corrigir-se significava, para Bergoglio, “fazer penitência, respeitar o celibato. A vida dupla não nos faz bem, não me agrada, significa dar substância à falsidade. Às vezes eu lhes digo: “Se não estás em condições de suportá-lo, toma uma decisão”.
Vatican Insider, 05-11-2013.

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