25/11/2013

Fortaleza não oferece internet gratuita nos espaços públicos

No ano passado, seis praças do Centro contavam com wi-fi através do projeto Praças Conectadas
Em junho do ano que vem, Fortaleza volta a ser palco de um evento mundial de futebol. No legado anunciado pelos governos municipal, estadual e federal, além da reforma e ampliação da Arena Castelão - primeiro estádio do Brasil a concluir as obras para a Copa do Mundo de 2014 -, estão obras de mobilidade urbana, com a construção de túneis e viadutos. No que diz respeito à conectividade, no entanto, a cidade ainda está muito aquém do esperado para um evento de grande porte. Prova disso é que não possui nenhum ponto de internet gratuita - via rede wi-fi - em espaços públicos.

Apesar de aparecer o sinal, não é possível navegar na rede. Foto: Bruno Gomes

No ano passado, seis praças do Centro contavam com internet liberada, através do projeto Praças Conectadas - Praça do Ferreira, Passeio Público, Praça da Estação, Praça Coração de Jesus, Parque da Liberdade/Cidade da Criança e Praça José de Alencar. Por considerar o projeto obsoleto, a nova gestão optou por interromper o serviço e fazer uma reformulação da iniciativa, que ainda não tem previsão de data para começar a funcionar.

Teste

Para testar a oferta do serviço, a equipe de reportagem percorreu as seis praças. Em todas elas, o sinal do Fortaleza Digital apareceu, mas não foi possível navegar. O teste foi feito mais de uma vez, em pontos diferentes dos logradouros. Em alguns, o sinal do wi-fi nem sequer apareceu. Apesar de não ter usufruído da tecnologia, o proprietário de uma banca de revista na Praça do Ferreira, Francisco Paixão, 65, confirma que na gestão anterior tinha internet gratuita na praça. "É necessário. Em tudo a internet está presente", frisa. Ele acrescenta que seria uma forma de atrair mais pessoas ao Centro.

Rosana Lins, proprietária do Café Passeio, diz que, durante a semana, o Passeio Público recebe um grande número de pessoas que acessam internet para trabalhar, mandar e-mail, se comunicar. Os turistas, quando estão de passagem e identificam que tem o sinal da rede wi-fi, também utilizam. Às vezes, passam a tarde inteira navegando, colocando a correspondência em dia. "Quando não tem internet, a gente sente o quanto ela é importante", destaca.

Outro ponto positivo que a internet gratuita proporciona é o fato de atrair jovens às praças. "Muitos deles não têm inclusão digital em casa, um local com acesso fácil, então procuram as praças, que têm esse acesso liberado", observa Rosana.

Rodrigo Cavalcanti, coordenador do Grupo de Pesquisa em Telecomunicações sem Fio (Gtel) da Universidade Federal do Ceará (UFC), diz que a internet gratuita tem o apelo da inclusão digital e do turismo, principalmente em Fortaleza, cidade com indiscutível vocação turística. Porém, destaca que é preciso ser feito um projeto sério. "Esse não é o tipo de serviço que você faz só para dizer que fez, tem que ter estrutura governamental para dar suporte. O difícil não é implantar um sistema desses, difícil é manter", ressalta.

Uma possível alternativa apontada pelo especialista seria a criação de um modelo de negócio no qual o governo faria uma concessão para que empresas privadas explorassem o serviço. Em princípio, diz o professor, elas teriam mais agilidade e facilidade de se manterem atualizadas tecnologicamente do que um departamento de governo. "É uma questão ideológica, se o governo deve ou não estar diretamente operando. Ele deve ser, sem dúvidas, aquele que patrocina esse serviço, mas operar exige certa agilidade e capacidade de atualização desses equipamentos. É preciso criar um projeto sério para que funcione a longo prazo, se não será desperdício de dinheiro público", alerta Cavalcanti.

Através da assessoria de imprensa, a Prefeitura esclarece que o método utilizado pela gestão anterior (via rádio) era instável, além de não ser o meio mais viável. Entretanto, garante que o projeto está sendo inteiramente reformulado para que seja posto em prática através de cabos de fibra ótica - mesma tecnologia utilizada pelo Cinturão Digital. Após concluído, deverá funcionar nas principais praças e pontos turísticos da cidade sendo, inclusive, ampliado. A Beira-Mar, por exemplo, segundo a Prefeitura, é um dos locais que deverá ter internet gratuita.

32 municípios disponibilizam wi-fi

O apelo da inclusão digital vai muito além da Capital e dos principais municípios cearenses. Em tempos de mundo globalizado, o acesso à internet torna-se um elemento quase que imprescindível. Apesar disso, no Ceará, apenas 32 dos 184 municípios oferecem internet em espaços públicos (via rede wi-fi), o que corresponde a 17,4%. Apesar do número reduzido, a média é a maior do Nordeste. Em seguida está Pernambuco (15,6%), Alagoas (12,7%), Bahia (10,7%), Paraíba (8,9%), Maranhão (8,7%), Rio Grande do Norte (8,3%), Sergipe (2,6%) e Piauí (2,6%).

Os dados são da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic), realizada em 2012, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em todo o País, dos 5.565 municípios da federação, apenas 744 oferecem internet de forma gratuita. Desse total, em 382 a área de cobertura se restringe a alguns bairros da área urbana e 181 à parte urbana e à rural.

Cinturão digital

No Ceará, cerca de 60 municípios utilizam o Cinturão Digital para acessar a internet. A conexão se dá através de uma rede de 3 mil quilômetros de fibra ótica, construída e operada pelo governo do Estado. A velocidade de é dez gigabytes por segundo.

"Chegando ao município, o gestor faz o que quiser: oferece via wi-fi, por vídeo conferência, para telefonia móvel, em hospitais, onde pode implantar o tele-medicina para que os profissionais não tenham que vir a Fortaleza. Tudo isso pode ser utilizado através do Cinturão Digital. O que nós fazemos é o transporte de dados", esclarece Fernando Carvalho, presidente da Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice). O projeto foi implantado em 2010, inicialmente para atingir os 50 maiores municípios do Estado. Hoje, abrange cerca de 60.

Nem todos, entretanto, oferecem internet gratuita em espaços públicos. "O governo projetou essa rede para que as pessoas maciçamente se conectem em todo o Estado. Isso não se faz da noite para o dia, mas a gente espera que até o fim do ano que vem maior parte dos municípios estejam conectados", frisa.

O gestor salienta a importância da oferta de internet pelos gestores em todos os municípios cearenses. "Grande parte das nossas atividades só podem ser realizadas se estivermos conectados. Hoje, a internet se tornou uma necessidade para tudo. Sem falar nas atividades de entretenimento, que também são muito importantes", destaca. Carvalho informa que Fortaleza possui 300 Km de cabos de fibra ótica através do Cinturão Digital, mas a rede será ampliada para 500 Km. "Vamos conectar todas as escolas da Capital".

LUANA LIMAREPÓRTER




Diário do Nordeste

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