06/11/2013

Medicina alternativa - João Batista Libânio



(Foto: Reprodução)
A ciência moderna nasceu protestando neutralidade, objetividade. Pretendeu ganhar a confiança de todos demonstrando com clareza e exatidão suas descobertas. Esse mito desabou. Aproximamo-nos da realidade já com uma série de perguntas e conhecimentos prévios subjetivos que impedem a pura objetividade. Mas o mais grave da nossa desconfiança a respeito da objetividade das ciências vem do lado dos gigantescos interesses que financiam as pesquisas científicas.

O tema que nos ocupa nessa coluna está no foco de tal discussão. Ninguém hoje consegue confiar na ciência farmacêutica que está sob o domínio de verdadeira máfia da indústria dos remédios. Quem tem certeza hoje de que o remédio que compra responde realmente às verdadeiras exigências científicas ou não passa de escandaloso roubo da indústria farmacêutica? A discussão sobre os famosos “genéricos” mostra muito bem de que se trata. Criam-se novos remédios que cumprem praticamente a mesma função que outro antigo só que se acrescentam alguns elementos inócuos para poder-se aumentar o preço. Onde está a objetividade da ciência farmacêutica?

Nesse vácuo de confiança, surge a medicina alternativa que também nos deixa perplexos. Muitas vezes ela consegue realmente os mesmos efeitos que a medicina dos remédios caros a preços enormemente mais em conta. Nesse momento, cumpre papel social considerável ajudando a economia das pessoas. Mas quem garante que tais propostas têm aquele mínimo de seriedade e confiabilidade? E, no fundo, não estão embusteiros aproveitando da desconfiança merecida dos produtos dos grandes laboratórios? Em nome da economia e da volta à medicina caseira, podem-se facilmente introduzir terapias não confiáveis.

Esse deveria ser o campo para intervenções do Estado, seja evitando os abusos da indústria farmacêutica seja o surgimento de picaretagem no campo da medicina alternativa à custa da saúde do povo. Mas a confiança no Estado está profundamente minada. Rolam o suborno, a corrupção em todos os escalões de tal maneira que nunca se sabe se certas campanhas que parecem tão bem respaldadas não passam de fogo de artifício para enganar-nos o visual. E há outras que iniciaram com toda verdade e, de repente, são silenciadas como que milagrosamente.

Viver num país em que o Estado facilmente engana o povo é doloroso, sobretudo quando o poder judiciário também se deixa corromper. No entanto, não adianta simplesmente criticar. Fica sempre aberta a possibilidade de a sociedade civil intervir.  Isso significa que nos toca caminhar na linha da organização de instituições civis que assumam o papel de controle do campo da medicina alternativa e da produção farmacêutica. Médicos, químicos, farmacêuticos e cientistas dessa área prestariam enorme serviço à sociedade brasileira se interviessem mais diretamente nesse mundo com denúncias, propostas de alternativas. Hoje há recursos fáceis de comunicação que escapam ao controle direto e imediato dos poderosos. A internet está-se tornando veículo extremamente democrático de informação. Estamos nos seus albores. Sonhamos com sistemas informativos na internet de confiabilidade que orientem qualquer pessoa a respeito do jogo mafioso tanto da indústria farmacêutica quanto de charlatães da medicina alternativa. Apressemos esse dia com capacidade criativa!

É teólogo jesuíta. Licenciado em Teologia em Frankfurt (Alemanha) e doutorado pela Universidade Gregoriana (Roma). É professor da FAJE (Faculdades Jesuítas), em Belo Horizonte. Publicou mais de noventa livros entre os de autoria própria (36) e em colaboração (56), e centenas de artigos em revistas nacionais e estrangeiras. Internacionalmente reconhecido como um dos teólogos da Libertação. 

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