O Papa Francisco afirmou hoje no Vaticano que o “ateísmo prático” da sociedade contemporânea limita os horizontes da vida e pediu aos cristãos que sejam solidários com os que sofrem, sem medo da morte.
“Existe um ateísmo prático, que é um viver só para os próprios interesses e as coisas terrenas. Se nos deixarmos apanhar por esta visão errada da morte, não temos outra escolha a não ser ocultar a morte, negá-la ou banalizá-la, para que não nos assuste”, declarou, na audiência pública semanal, perante dezenas de milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro.
A intervenção destacou a importância da caridade e da solidariedade, frisando que “quem pratica a misericórdia, não teme a morte”, uma frase repetida pelo Papa e a assembleia.
Francisco, que começou por cumprimentar os presentes e gracejar com o frio que se fazia sentir, falou da “caridade cristã” e da “partilha fraterna”, do cuidado com as “chagas corporais espirituais” dos outros, como um caminho seguro para a vida.
“Se abrirmos a porta da nossa vida e do nosso coração aos irmãos mais pequenos, então também a nossa morte se tornará uma porta que nos levará ao céu, à pátria feliz, para a qual caminhamos, desejando ficar para sempre com o nosso Pai, com Jesus, com Maria e os santos”, prosseguiu.
A catequese foi a penúltimo do Papa sobre o Credo, um ciclo iniciado pelo seu predecessor, Bento XVI, por ocasião do Ano da Fé, que se concluiu este domingo.
Francisco dedica estas intervenções conclusivas ao tema da morte, que “diz respeito a todos” e interroga o ser humano “de modo profundo”, em especial quando atinge os mais pequenos e indefesos.
“Sempre me tocou a pergunta: porquê sofrem as crianças, porquê morrem as crianças?”, referiu.
Antes da audiência pública, o Papa tinha-se encontrado na sala Paulo VI com meia centena de crianças atingidas pela síndrome de Rett, uma patologia do foro neurológico, e cumprimentou-as uma a uma.
Segundo Francisco, se a morte for vista como “o fim de tudo” transforma-se numa “ameaça” que destrói tudo.
“Isso acontece quando consideramos a nossa vida como um tempo fechado entre dois polos: o nascimento e a morte; quando não acreditamos num horizonte que vá para além da vida presente; quando se vive como se Deus não existisse”, explicou.
O Papa afirmou que esta conceção de morte é “típica do pensamento ateu” que interpreta a existência como um acaso no mundo e um caminho “para o nada”.
Pelo contrário, sublinhou, “há um instinto poderoso” dentro de cada pessoa que lhe diz que a vida “não acaba com a morte”.
“Esta sede de vida encontrou a sua resposta real e fiável na ressurreição de Jesus Cristo: a ressurreição de Jesus não dá apenas a certeza da vida para lá da morte, mas ilumina também o mistério da própria morte de cada um”, sublinhou.
Francisco convidou os católicos a preparar-se bem para a morte “estando próximos de Jesus com a oração, nos Sacramentos, e também na prática da caridade”.
“Lembremo-nos de que Ele está presente nos mais fracos e necessitados”, declarou.
Após a catequese, o Papa saudou os peregrinos de língua portuguesa: “Queridos amigos, buscai ser sempre solidários com aqueles que sofrem, na certeza de que compartilhar a dor e infundir esperança é premissa e condição para receber em herança o Reino dos Céus preparado para nós. Que Deus vos abençoe”.
OC
Agência Ecclesia
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