03/01/2014

Economia e ecologia não devem ter conflitos



Passamos a valorizar mais o som da buzina dos automóveis ao som do canto dos pássaros. (Foto: Divulgação)
Marcus Eduardo de Oliveira
Na busca desenfreada pelo bem-estar, pelo conforto, o homem se fecha numa visão míope e rompe seus laços para com a Mãe Natureza.

Em nome de um pseudo “progresso econômico” a agressão ambiental em escala mundial não deixa espaço para dúvidas: o forte desequilíbrio ambiental decorrente do manuseio humano que responde aos ditames do deus-mercado precisa ser freado. 

À medida que o consumo ganha, pela ordem macroeconômica tradicional, maior proporção e torna-se, pois, sinônimo de prosperidade material, os recursos naturais vão sendo dilapidados de forma assustadora e o meio ambiente, eixo de todo o sistema-vida, sofre as consequências: desequilibra-se o sistema de chuvas, altera-se radicalmente o clima, desmata-se, polui-se, agridem-se os lençóis freáticos, chove onde deveria fazer sol, há seca onde deveria ter água. A “salada química” é intensa: monóxido de carbono, dióxido de enxofre, eutrofização (degradação do ambiente aquático), pesticidas e tantos outros. 

Na busca desenfreada pelo bem-estar, pelo conforto, o homem se fecha numa visão míope e rompe seus laços para com a Mãe Natureza. Que espécie de bem-estar é esse que degrada o ambiente? Que tipo de melhoria de vida é possível num ambiente natural caótico e desequilibrado? Será isso mesmo o dito e propagado progresso? 

Em nome da expansão industrial, o ritmo alucinado do crescimento da economia somente fez violentar a natureza. Passamos a valorizar mais o som da buzina dos automóveis ao som do canto dos pássaros. A fumaça das fábricas passou a ter mais valor que o cheiro do mato. E do deus-mercado vem a palavra de ordem: CRESCER. Pouco importa se a consequência disso seja DESTRUIR.

Urge inverter-se esse procedimento. O relacionamento entre a Terra e a Economia tem de ser harmonioso, visto que a segunda é parte da primeira. A economia – rainha das ciências sociais - nada mais é que um subconjunto do meio ambiente. 

É sempre oportuno reiterar que crescimento econômico (crescimento físico de bens) não pode acontecer sobre as ruínas do capital natural. Metaforicamente, isso é o mesmo que dar um tiro no pé. Vejamos que de 1950 a 2000, a economia global foi multiplicada por sete – um espetacular crescimento. Nesse mesmo período, a produção de bens e serviços saltou de US$ 6 trilhões para US$ 43 trilhões (dados de 2000). 

No entanto, ainda não foi respondido com o devido cuidado a que “preços” ecológico e social esse elevado crescimento foi alcançado. 

Enquanto a economia (atividade produtiva) que sustenta essa produção/consumo tem sido feita em benefícios de poucos, na outra ponta, essa mesma economia é sustentada (em termos de produção, mas não de consumo) por muitos que jamais terão as mesmas oportunidades dadas aos primeiros. 

Disso advêm, certamente, as gritantes distorções no sistema de distribuição/consumo de bens “condenando” a economia (também enquanto ciência) a se desviar de seu objetivo essencial: buscar alternativas para melhorar a condição de vida das pessoas. 

Definitivamente, a economia e a natureza não nasceram para condenar alguém à humilhação, à exploração, à pobreza material. Economia e Natureza, juntas, podem, sim, representarem uma via de acesso às melhorias que levam ao almejado padrão de bem-estar social, desde que caminhem juntas, numa “parceria”, numa sintonia de contemplação. A esse respeito, Jean-Michel Cousteau assim ponderou: “a economia e a ecologia não devem ter conflitos porque hoje são exatamente a mesma coisa”. 

O curioso é que no passado não muito distante, a ecologia chegou a ser chamada de “a economia da natureza”, dada a íntima relação entre o ato de “produzir” e o de “retirar” recursos da natureza.

Desse argumento citado por Cousteau, resulta afirmar a título de reiteração que a economia e o meio ambiente devem caminhar juntos, pois um é o complemento do outro, apesar de ser a economia um subconjunto do meio ambiente. Para tanto, a ideia em torno do crescimento econômico (tema esse quase que sagrado para a economia tradicional) deve ser revisto, pois o mesmo não pode ser praticado à custa de uma total dilapidação (exaustão) dos recursos naturais. Por sinal, a própria palavra exaustão (na origem: extremo cansaço) já determina como serão as coisas no futuro: será algo que vai acabar. 

Portanto, é necessário moderação, uma vez que é impossível crescer além dos limites. O certo é que há limites e esses devem ser respeitados. A Terra não aumentará de tamanho, estejamos certos disso. Na prática, continuar explorando sem respeitar os limites implicará em sérias perdas para todos. Em outras palavras, isso significa perdas irrecuperáveis, visto que há recursos que são finitos. A mensagem é única: usou, esgotou, não teremos mais. 

Dessa forma, essa história entre a economia e a natureza em conflito pode assim ser resumida: mais economia (crescimento) é sinônimo de menos ambiente (degradação). Logo, crescimento sem regras e sem ponderações aponta para profundos impactos ambientais. Ambiente (ecossistema) degradado é, essencialmente, vida mal vivida. 

Nas palavras de Lester Brown, essa história fica assim: “A economia global atual foi formada por forças de mercado e não por princípios de ecologia. Infelizmente, ao deixar de refletir os custos totais dos bens e serviços, o mercado presta informações enganosas aos tomadores de decisões econômicas, em todos os níveis. Isso criou uma economia distorcida, fora de sincronia com os ecossistemas da Terra, uma economia que está destruindo seus sistemas naturais de suporte”.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO (São Paulo). Especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela (USP). 
 prof.marcuseduardo@bol.com.br

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