No horizonte, surgem novas ideias. Mas a graça divina encontra sempre novas soluções.
Agricultura familiar: "O fundamento da prosperidade se deslocou mais para frente". (Foto: Arquivo) |
Por Dom Aloísio Roque Oppermann*
Ninguém deve ocultar as raízes de sua existência. Não se pode esquecer sua própria história, nem seus percalços, e muito menos os fatos marcantes da infância e da adolescência. As férias “coletivas” do mês de janeiro proporcionam esse mergulho no passado, para cada um se conhecer melhor. Neste mês de janeiro de 2014, pude retornar às minhas origens, passando uns bons dias no meio do povo do interior do Rio Grande do Sul.
Nessa região aludida, vige o sempre próspero regime de pequena propriedade rural. Nela, a criação de "sua majestade o porco", permitiu a quase todos uma boa casa, com água encanada, energia elétrica, e automóvel à disposição. (O cavalo desapareceu do horizonte). Isso traz como resultante um ser humano muito criativo, independente e de fortes convicções. A prosperidade – com razoáveis exceções - é bastante comum. Parece que o ideal do papa Leão XIII ("Rerum Novarum"), de cada família possuir o seu pedaço de terra, se concretizou plenamente.
Mas no horizonte surgem novas ideias. O fundamento da prosperidade se deslocou mais para frente. A base da riqueza, conforme nos ensina o próprio papa João Paulo II, agora está se tornando o conhecimento, o estudo. Não mais só a terra. No município de Nova Candelária, onde o ideal de pequena propriedade alcançou pleno êxito, foi feita uma pesquisa entre os colonos, e se chegou à conclusão de que em 83% das propriedades, não há sucessor para tocar a lavoura. Os filhos desses agricultores, que tem a vida rural no sangue, foram todos estudar, e ninguém mais quer voltar à roça. Todos querem entrar na vida urbana, que evita o ardor do sol, e contorna as secas e as enchentes. Além de proporcionar as vantagens da vida moderna...
Tudo vai mudar. Inclusive a beleza da vida religiosa. Outrora essa região era um celeiro de vocações sacerdotais. Hoje vários bispos venderam o seminário, por não haver facilidade de encontrar vocacionados. É que os pais hoje tem um, no máximo dois filhos. E a disposição de entregar um filho para o serviço da comunidade, se torna muito difícil. Não que não exista mais espírito religioso e de fé. As circunstâncias tornaram a entrega de um vocacionado para o sacerdócio, ou de uma filha para a vida Religiosa, simplesmente proibitiva. Mas como a graça divina encontra sempre novas soluções, o que diz o salmista é verdade perene: “O Espírito renovará a face da terra” (Sl 103).
CNBB, 13-01-2014.
*Dom Aloísio Roque Oppermann é arcebispo Emérito de Uberaba (MG).
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