Após uma década, Francisco pode mudar forma como a Igreja trata casais separados.
Por Elizabeth Scalia*
Trinta e tantos anos atrás, dois amigos muito queridos casaram-se em uma missa nupcial, e para a leitura do Evangelho eles escolheram Mc 10, 2-9, que inclui o seguinte trecho:
"Mas, desde o início da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, e os dois serão uma só carne. Portanto, eles já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar".
Mesmo nos dias de Jesus, o divórcio era um desafio teológico.
Para a noiva e o noivo, a leitura era uma promessa de determinação,. Um deles ainda estava se recuperando do divórcio recente de seus pais, casados há mais de 20 anos, e do novo casamento da mãe.
O divórcio criou ansiedade antes do casamento: iria a mãe apresentar-se para a comunhão? Nós, em nossos brilhantes 20 e poucos anos, meditávamos sobre isso com vinho e queijo, observando que, a partir de uma visão puramente legalista, a mãe tinha se excomungado a si mesma por se casar novamente fora da Igreja e antes de obter a anulação. Finalmente, in vino veritas, um fato pertinente veio à tona: "Ela nunca amou meu pai", disse o nosso amigo. "A família dela queria o casamento, e ela foi obediente, mas ela nunca o amou."
Ah... Isso é importante no grande esquema das coisas - onde o pecado e os sacramentos estão sendo considerados, intenções importam.
Antes do divórcio, essa tinha sido uma família de católicos praticantes. Três décadas mais tarde, a mãe sente-se completa em seu saudável e amoroso segundo casamento, mas ainda removida da Igreja, assim como todos os seus filhos e netos. Se você perguntar a eles, eles vão lhe dizer que são católicos, mas apenas nominalmente. Todo mundo foi batizado e crismado, mas ninguém vai à missa ou observa dias santos - nem mesmo o Natal. Não sabemos se os netos vão se sentir compelidos a batizar seus filhos, mas podemos arriscar um palpite.
Em quatro gerações, essa família, anteriormente fiel, experimentou uma mudança categórica, distanciando-se do catolicismo, tendendo para o "nenhunismo" do século XXI (a crença em não muita coisa) e essa trajetória pode ser atribuída a um divórcio civil, que aconteceu, provavelmente, devido a um serviço de acompanhamento e a uma catequese inadequados.
É precisamente por causa de histórias como essas que o Papa Francisco pediu a realização de um Sínodo Extraordinário dos Bispos sobre a Família. Neste mês, na expectativa desse evento, o papa se reunirá com os oito cardeais que lhe aconselham para discutir o cuidado pastoral da família moderna, que tem sido assolada pelo divórcio, redefinida por interesses seculares e pela revolução sexual, e está na extrema necessidade de uma direção espiritual e grandes fatias do "V" maiúsculo da Verdade, servido com uma cobertura generosa de misericórdia.
Eles vão analisar os dados selecionados a partir de um questionário enviado recentemente às dioceses ao redor do mundo, o qual incluía perguntas específicas sobre assuntos como o divórcio, parcerias de pessoas do mesmo sexo e as crianças que estão sendo criadas por eles, em preparação para o Sínodo de outubro. Segundo consta, a questão do divórcio e da anulação serão o foco principal.
O cardeal Joseph Ratzinger - embora enfaticamente tenha declarado a necessidade de obedecer os ensinamentos de Jesus Cristo sobre o assunto do casamento - observou que "a Igreja tem autoridade para esclarecer as condições que devem ser cumpridas para um casamento ser considerado indissolúvel, de acordo com o sentido dos ensinamentos de Jesus".
Em 2005, ainda como papa Bento XVI, ele reeditou esse texto com notas adicionais, tocando na forma como o Concílio de Nicéia e as práticas da ortodoxia oriental, juntamente com uma fundamentada consciência, podem expandir a nossa compreensão atual do casamento - especialmente nos casos envolvendo um "batizado-mas-descrente".
Particularmente em sua entrevista à La Civiltà Cattolica, o papa Francisco indicou que ele está pensando em moldes semelhantes, e isso não é surpreendente. Ele chamou a Igreja de "um hospital de campanha" que está fazendo a triagem e o tratamento de um mundo ferido, e ele parece seguir com a intenção de levar o remédio da Santa Eucaristia aos seus pacientes:
"A Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prémio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos. Essas convicções têm também consequências pastorais, que somos chamados a considerar com prudência e audácia."
Esses católicos cujo primeiro casamento estava condenado por razões de coerção, ignorância ou imaturidade têm estado na sala de espera por um longo tempo. Eles têm esperado que suas feridas possam ser tratadas com algo penitencial e eficaz (e menos oneroso do que a cirurgia completa, esse exigente e complicado processo de anulação), para que eles e seus filhos possam chegar em casa e receber a cura poderosa que é inerente à Eucaristia e à plenitude da comunidade.
Estamos vivendo dias de esperança.
Trinta e tantos anos atrás, dois amigos muito queridos casaram-se em uma missa nupcial, e para a leitura do Evangelho eles escolheram Mc 10, 2-9, que inclui o seguinte trecho:
"Mas, desde o início da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, e os dois serão uma só carne. Portanto, eles já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar".
Mesmo nos dias de Jesus, o divórcio era um desafio teológico.
Para a noiva e o noivo, a leitura era uma promessa de determinação,. Um deles ainda estava se recuperando do divórcio recente de seus pais, casados há mais de 20 anos, e do novo casamento da mãe.
O divórcio criou ansiedade antes do casamento: iria a mãe apresentar-se para a comunhão? Nós, em nossos brilhantes 20 e poucos anos, meditávamos sobre isso com vinho e queijo, observando que, a partir de uma visão puramente legalista, a mãe tinha se excomungado a si mesma por se casar novamente fora da Igreja e antes de obter a anulação. Finalmente, in vino veritas, um fato pertinente veio à tona: "Ela nunca amou meu pai", disse o nosso amigo. "A família dela queria o casamento, e ela foi obediente, mas ela nunca o amou."
Ah... Isso é importante no grande esquema das coisas - onde o pecado e os sacramentos estão sendo considerados, intenções importam.
Antes do divórcio, essa tinha sido uma família de católicos praticantes. Três décadas mais tarde, a mãe sente-se completa em seu saudável e amoroso segundo casamento, mas ainda removida da Igreja, assim como todos os seus filhos e netos. Se você perguntar a eles, eles vão lhe dizer que são católicos, mas apenas nominalmente. Todo mundo foi batizado e crismado, mas ninguém vai à missa ou observa dias santos - nem mesmo o Natal. Não sabemos se os netos vão se sentir compelidos a batizar seus filhos, mas podemos arriscar um palpite.
Em quatro gerações, essa família, anteriormente fiel, experimentou uma mudança categórica, distanciando-se do catolicismo, tendendo para o "nenhunismo" do século XXI (a crença em não muita coisa) e essa trajetória pode ser atribuída a um divórcio civil, que aconteceu, provavelmente, devido a um serviço de acompanhamento e a uma catequese inadequados.
É precisamente por causa de histórias como essas que o Papa Francisco pediu a realização de um Sínodo Extraordinário dos Bispos sobre a Família. Neste mês, na expectativa desse evento, o papa se reunirá com os oito cardeais que lhe aconselham para discutir o cuidado pastoral da família moderna, que tem sido assolada pelo divórcio, redefinida por interesses seculares e pela revolução sexual, e está na extrema necessidade de uma direção espiritual e grandes fatias do "V" maiúsculo da Verdade, servido com uma cobertura generosa de misericórdia.
Eles vão analisar os dados selecionados a partir de um questionário enviado recentemente às dioceses ao redor do mundo, o qual incluía perguntas específicas sobre assuntos como o divórcio, parcerias de pessoas do mesmo sexo e as crianças que estão sendo criadas por eles, em preparação para o Sínodo de outubro. Segundo consta, a questão do divórcio e da anulação serão o foco principal.
O cardeal Joseph Ratzinger - embora enfaticamente tenha declarado a necessidade de obedecer os ensinamentos de Jesus Cristo sobre o assunto do casamento - observou que "a Igreja tem autoridade para esclarecer as condições que devem ser cumpridas para um casamento ser considerado indissolúvel, de acordo com o sentido dos ensinamentos de Jesus".
Em 2005, ainda como papa Bento XVI, ele reeditou esse texto com notas adicionais, tocando na forma como o Concílio de Nicéia e as práticas da ortodoxia oriental, juntamente com uma fundamentada consciência, podem expandir a nossa compreensão atual do casamento - especialmente nos casos envolvendo um "batizado-mas-descrente".
Particularmente em sua entrevista à La Civiltà Cattolica, o papa Francisco indicou que ele está pensando em moldes semelhantes, e isso não é surpreendente. Ele chamou a Igreja de "um hospital de campanha" que está fazendo a triagem e o tratamento de um mundo ferido, e ele parece seguir com a intenção de levar o remédio da Santa Eucaristia aos seus pacientes:
"A Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prémio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos. Essas convicções têm também consequências pastorais, que somos chamados a considerar com prudência e audácia."
Esses católicos cujo primeiro casamento estava condenado por razões de coerção, ignorância ou imaturidade têm estado na sala de espera por um longo tempo. Eles têm esperado que suas feridas possam ser tratadas com algo penitencial e eficaz (e menos oneroso do que a cirurgia completa, esse exigente e complicado processo de anulação), para que eles e seus filhos possam chegar em casa e receber a cura poderosa que é inerente à Eucaristia e à plenitude da comunidade.
Estamos vivendo dias de esperança.
The Guardian, 05-02-2014.
*Elizabeth Scalia é escritora e editora do canal católico do website Patheos.com.
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