22/02/2014

Abelhas domésticas podem estar levando doenças

As populações de abelhas, tanto em cativeiro quanto selvagens, estão em declínio na Europa.
O principal veículo da infecção foi a visita às flores.

Abelhas domesticadas portadoras de doenças podem estar infectando suas primas silvestres, responsáveis pela polinização, um trabalho vital para agricultores de todo o mundo, alertou um estudo.

As populações de abelhas, tanto em cativeiro quanto selvagens, estão em declínio na Europa, nas Américas e na Ásia por razões que os cientistas ainda lutam para entender.

Em artigo publicado na revista Nature, pesquisadores europeus afirmam ter encontrado evidências que apoiam a teoria de que abelhas silvestres "Bombus terrestris", excelentes polinizadoras, estão sendo afetadas por vírus ou parasitas de abelhas produtoras de mel domesticadas nas colmeias.

"Há razão para nos preocuparmos", declarou a jornalistas Matthias Fuerst, da Universidade Royal Holloway de Londres.

Em um experimento de fase três, a equipe expôs abelhas silvestres em laboratório a dois patógenos, o vírus de asa deformada e o parasita "Nosema ceranae", para ver se também podiam pegar doenças já conhecidas por afetar abelhas melíferas (produtoras de mel), criadas em cativeiro.

"Nós encontramos uma redução significativa de sua longevidade, então estes patógenos realmente são contagiosos" para as abelhas silvestres, disse Fuerst.

As operárias silvestres normalmente vivem cerca de 21 dias, mas quando infectadas têm sua expectativa de vida reduzida de terço a um quarto.

Em seguida, os cientistas foram a campo capturar "Bombus terrestris", também conhecidas como abelhões, e abelhas melíferas em várias regiões da Grã-Bretanha, examinando-as para identificar alguma infecção.

"As abelhas melíferas e os abelhões têm níveis muito similares destes patógenos no mesmo local, o que significa que há alguma conexão entre as produtoras de mel e os abelhões", explicou o biólogo.

Por fim, a equipe verificou que as abelhas melíferas e os abelhões coletados no mesmo local tinham mais cepas intimamente ligadas do mesmo vírus do que as abelhas de outro local, um claro indicador de infecção entre as espécies.

Embora não tenham conseguido demonstrar definitivamente que os patógenos passaram das abelhas melíferas para os abelhões e não o contrário, os cientistas afirmaram que isto seria o mais provável e a conclusão mais lógica.

Mais abelhas melíferas do que abelhões se infectaram e as abelhas melíferas infectadas tinham níveis virais mais elevados do que os abelhões.

Sendo assim, segundo Fuerst, "faz sentido modelar o fluxo delas (abelhas melíferas) para os abelhões". 

"A prevalência do vírus é muito mais elevada em abelhas melíferas, portanto é lógico fazer esta previsão, mas não temos absolutamente uma evidência definitiva de que o fluxo vá nesta direção", acrescentou.

Segundo os cientistas, o principal veículo da infecção foi a visita às flores, uma vez que as abelhas entram em contato com as mesmas flores, deixando e transportando patógenos em sua trajetória.

Elas também podem espalhar doenças ao invadir as colmeias umas das outras em busca de mel ou néctar.

O mistério das abelhas melíferas

Os apicultores conseguem tratar as doenças na colmeias, mas os insetos silvestres não podem ser medicados.

"Não podemos sair, procurando ninhos e tratar as abelhas", explicou Mark Brown, colega de Fuerst. 
"Já é um desafio tratar populações selvagens de mamíferos onde há um pequeno número de indivíduos e eles são animais grandes", prosseguiu.

A resposta, portanto, está em evitar a disseminação a partir de colmeias de abelhas melíferas.

"Precisamos de colmeias de melíferas tão limpas quanto possível, de forma que a contaminação do meio ambiente seja mitigada", disse Fuerst.

O declínio na população mundial de abelhas tem sido atribuído a causas diversas, tais como o uso de pesticidas agrícolas, práticas de monocultura que destroem as fontes de alimento dos insetos, vírus, fungos ou ácaros, ou uma combinação destes fatores.

Um informe da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) diz que os insetos polinizadores contribuem com a produtividade de pelo menos 70% dos grandes cultivos humanos.

O valor econômico dos serviços de polinização foi estimado em € 153 bilhões (US$ 210 bilhões) em 2005.

As abelhas, especialmente os abelhões, respondem por 80% da polinização feita por insetos.

"Esta é uma preocupação séria porque elas (as abelhas) fornecem os serviços de polinização do ecossistema, sem o qual perderíamos grande parte dos nossos cultivos e uma grande proporção da nossa biodiversidade natural", disse Brown.
AFP

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