07/02/2014

Castigados com seca, fazendeiros rezam por chuva na Califórnia

Delano (Estados Unidos) (AFP) - O fazendeiro californiano Nathan Carver aperta os olhos, enquanto examina os campos secos onde sua família criou gado por cinco gerações.

Normalmente, estariam cobertos de pasto verde e viçoso. Mas a pior seca em décadas no estado do oeste americano reduziu a terra a uma paisagem lunar, deixando o pai de quatro filhos de 55 anos sem outra opção que não rezar pela chuva.

"Meus avós falavam dos anos do ´Dust Bowl´ nos anos 1930, quando as tempestades de areia deixavam tudo muito seco e difícil. Mas isto é o pior que já vi na vida", admitiu em declarações à AFP, lembrando o fenômeno que ficou conhecido também como tempestade negra, causado por tempestades de areia que assolaram o meio oeste americano durante a Grande Depressão.

No mês passado, o governador Jerry Brown declarou situação de emergência no estado, devido ao que pode vir a ser a pior seca em um século na Califórnia, que castiga inclusive o super-fértil Vale Central.

Sem chuvas significativas desde novembro, as autoridades do estado identificaram 17 comunidades que podem ficar sem água dentro de 60 a 120 dias, se a seca continuar.

Só na última sexta-feira, o Projeto de Água do Estado da Califórnia anunciou pela primeira vez em sua história de 54 anos que não conseguirá prover além do mínimo necessário para manter a saúde pública e a segurança.

Para criadores familiares como Carver, a seca significa nada de pasto para alimentar o gado.

As únicas opções são comprar feno a preços inflacionados - 20% a 30% acima do normal, por causa da demanda - ou vender os animais.

"Muitos fazendeiros estão vendendo seus animais. Porque em algum ponto, se você não tem pasto, não conseguirá comprar o feno para alimentar as vacas", explicou em sua fazenda, perto de Bakersfield. 

De fato, as negociações pareciam animadas no leilão semanal de gado na vizinha Famoso, onde os compradores observavam animais enfileirados à medida que eram conduzidos para venda, com o leiloeiro gritando lances que mudavam a cada momento.

Justin Mebane, gerente-proprietário do Western Stockman´s Market, disse que mais gado está sendo levado para venda, mas as coisas poderiam ficar mais agitadas.

"Esta é apenas a ponta do iceberg", declarou ao jornal local Bakersfield Californian. "Se não tivermos chuva, os fazendeiros vão ter que acabar com o gado". 

Jack Lavers, que está no comitê executivo da Associação de Criadores de Gado da Califórnia (CCA), disse à AFP que mercados de gado como o de Famoso costumavam negociar de 200 a 300 animais por dia.

"Agora são mais de 1.000 cabeças por dia. Esta é toda a venda de alto a baixo no estado", afirmou Lavers, que já reduziu em um terço suas 400 cabeças de gado, admitindo que pensa vender outros 10% a 20% nos próximos dois meses.

"É incrível. O pessoal está vendendo gado o mais rápido que pode, tentando economizar o alimento que tem ou vendendo tudo... Tem sido ruim nos dois últimos anos, mas este ano está realmente pior", acrescentou.

A seca na Califórnia - causada pelo terceiro inverno seguido com média de chuva bem abaixo do normal - também estendeu a temporada anual de incêndios florestais até o inverno, incluindo um nos arredores de Los Angeles, que forçaram milhares de moradores a evacuar suas casas.

Os rios e os reservatórios do estado do oeste americano alcançaram recordes de baixa, com apenas 20% do abastecimento médio normal derivado da água do derretimento da cobertura de gelo, que flui de Sierra Nevada.

De volta ao seu rancho, Carver pode ver os sopés da Sierra longe ao leste. Toda primavera, ele conduz suas 250 cabeças morro acima para pastagens mais férteis antes de trazê-las de volta para temperaturas mais quentes no inverno.

Antes da Corrida do Ouro

Um de seus ancestrais começou a criar gado ali em 1837, quando suas terras ainda ficavam no Oeste Selvagem, antes mesmo da Corrida do Ouro. Por isso, a ameaça trazida pela seca representa um duro golpe. 

Apesar da crise atual, o vaqueiro está determinado a passar o negócio da família a um de seus quatro filhos - três rapazes e uma moça - quando ele se aposentar.

"Será muito difícil sobreviver a esta seca, não apenas no sentido físico e monetário, de comprar feno e alimentar as vacas e tudo o que vem com isto. Também é muito difícil do lado mental e emocional", acrescentou.

"Todo dia eu tenho que vir aqui fora alimentar as vacas e ver este solo marrom e seco e isso pode ser deprimente de desencorajador", prosseguiu.

Apesar das dificuldades, ele promete lutar, ajudado pela sabedoria e pelo conhecimento, passado por "nossa família, as gerações da nossa família que vieram antes de nós... E nossa fé em Deus".

"Nossa esperança na chuva é o que mantém nossos fazendeiros em suas terras", afirmou, acrescentando: "Os fazendeiros são eternos otimistas. Sempre esperam que o próximo ano será melhor".
AFP
Dom Total

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