Padre Geovane
Saraiva*
Jesus é o Filho amado do Pai a conduzir os passos da humanidade. Confesso
que me esforço para ser seu seguidor, tendo-o como Senhor de minha vida e de
minha história, embora nem sempre corresponda bem dentro daquilo que diz o apóstolo
dos gentios: "Não faço o bem que quero; mas o mal que não quero" (Rm 7,
19). Contudo, sempre e cada vez mais me convenço que a palavra de Deus é uma
arma poderosíssima e gosto muito do Salmo 65, quando diz: “Que toda a terra se
prostre diante de vós, ó Deus, e cante louvores ao vosso nome, Deus
altíssimo!”.
É a palavra de
Deus que nos convida a realizar seu projeto de amor nas circunstâncias mais
diversificadas. Confesso também do meu limite, de não gostar de tirar férias, de
não procurar visitar lugares novos, conhecer pessoas e realidades diferentes,
de fazer coisas fora de minha rotina e do meu dia a dia. Também não gosto de viajar. Por outro lado, noto claramente como as
pessoas ficam para cima e transfiguradas quando viajam, seja de automóveis ou
de avião, quando vão de férias e se deparam com realidades novas. Como é
maravilhoso! Certa ocasião, há quatro anos, vindo de Cascavel-PR, encontrei em
Cumbica, aeroporto de Guarulhos-SP, Dr. Evilberto Freitas e Dra. Emair Borges,
médicos e amigos, voltando de Paris, os quais, com enorme alegria e satisfação,
falaram-me da belíssima viagem, usando a expressão: “um verdadeiro banho
civilização!”.
Mesmo sem gostar de avião e não ser de meu feitio viajar de férias,
dos dias 21 a 24 do mês de janeiro deste ano de 2014, estive na cidade de
Ilhéus, no sul da Bahia. Confesso que foi para mim um verdadeiro banho de cultura,
porque não dizer também de civilidade, olhando pelo lado histórico, cultural e
religioso. E eu na qualidade de padre da Igreja Católica, escritor, colunista e
blogueiro, tenho muito que aprender de uma cidade da altura de Ilhéus, nas suas
profundas marcas históricas e raízes culturais, cantada em versos e prosas, no
cenário nacional.
Ao chegar a
Ilhéus, tive a preocupação de dar um profundo mergulho no contexto histórico na
terra de Jorge Amado, alhures, parafraseando o poeta e escritor cearense Gonzaga
Mota, “além de gostar, sou um curioso”. Daí o cuidado de visitar com um olhar
de curioso os pontos principais da cidade cacaueira, a saber: Vesúvio, Academia
de Letras de Ilhéus, Casa Jorge Amado, Bataclan, Cartório Sá Barreto, Catedral São
Sebastião, a Igreja de São Jorge dos Ilhéus e a Igreja do colégio da Piedade -
construção – belíssima (idos de 1920), das irmãs Ursulinas, em estilo gótico, a
cidade histórica de Olivença. Link: http://fgsaraiva.blogspot.com.br/2014/02/pe-geovane-saraiva-em-iheus.html
Na Academia de
Letras de Ilhéus comprei um ótimo livro, “Minha Ilhéus”, de José Nazal Pacheco
Soub, não somente pela sua dissertação, profundamente pedagógica, para aqueles
que desejam melhor conhecer a história da Capitania de São Jorge dos Ilhéus, doada
a Jorge de Figueiredo Correia, assinada em Évora, aos 26 de junho de 1534, mas
também pelo seu conteúdo fotográfico, seu rigor técnico, obra que apresenta a
realidade daquela cidade, sobretudo, no século 20, época de grande influência
literária, personificada no imortal dos imortais, Jorge Amado; ao mesmo tempo
em que coincide com o apogeu da chamada, “civilização do cacau”. Na página 123
encontra-se uma fotografia da visita de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir
ao Porto de Ilhéus em construção, acompanhados de Jorge Amado e Zélia Gatai,
aos 19 de agosto de 1960.
Um capítulo, das
páginas 84 a 94, conta resumidamente a história da Igreja Católica, através da diocese
de centenário de Ilhéus. Aos 20 de outubro de 1913, o Papa Pio X erigiu a
diocese de Ilhéus, com a bula Majus
animarum bonum, isto é, para o bem maior das pessoas, por solicitação do
então Arcebispo Metropolitano da Bahia, Dom Jerônimo Tomé da Silva, concomitante
com as dioceses de Barra e Caetité, passando o Estado da Bahia, por esse
procedimento do Sumo Pontífice, a contar com quatro circunscrições
eclesiásticas ou dioceses.
Ademais, mesmo
sem esquecer-me das belíssimas praias da terra de Gabriela, Cravo e Canela,
ainda me detive superficialmente, sobre os nove bispos, os quais estiveram à
frente daquela diocese centenária, voltando minha atenção para o 2º bispo, Dom
Eduardo José Herberhold (1931-1939), um franciscano alemão, considerado um
homem de Deus, concretamente nos gestos de profunda caridade pastoral, além de
ser um verdadeiro pai para os padres. Outro Franciscano, também alemão, marcou
forte presença naquela Igreja do sul da Bahia, Dom Valfredo Bernard Tepe, o 8º
bispo (1971-1995). Entre as muitas iniciativas, fundou a Escola de Teologia
para os Leigos, estimulou as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Movimento
Cursilho de Cristandade (MCC), Encontro de Casais com Cristo (ECC), sem
esquecer a fundação do Seminário Maior de Ilhéus, significando que na diocese
de São Jorge dos Ilhéus existe a escola de formação para os sacerdotes e demais
dioceses do sul da Bahia.
Foram dias de
graças e bênçãos! Que o bom Deus me dê sempre mais olhos para ver melhor dias
de viagem como algo maravilhoso! De férias, ainda mais, inigualáveis! Conhecer
novos lugares, novas realidades, culturas e pessoas, é de verdade um banho de
civilização. A partir do esforço da vivência da nossa fé cristã, num desejo de
guardar no mais íntimo do íntimo a realidade bela de uns dias de férias, de
acordo com o que nos assegura o Apóstolo Paulo: “Tudo é vosso. Mas vós sois de
Cristo!”. Assim seja!
*Padre
da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, articulista, blogueiro, membro da
Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos
Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal
- Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com
Nenhum comentário :
Postar um comentário