Entre a quarta e quinta cruzadas houve algumas expedições militares contra os infiéis. De uma delas, que aportou no Egipto, participou São Francisco de Assis.
Quando São Francisco, movido pelo amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual via ser repudiado pelas hordas de infiéis muçulmanos, que eram combatidos pelos cruzados, aproveitando uma trégua entre os terríveis combatentes, partiu para o deserto com o fito de convertê-los à fé verdadeira, não pela espada, mas pelo amor a Deus e ao próximo, conta-se que assim se sucedeu.
Ia São Francisco pelo deserto quando soldados do sultão local, ávidos de sangue, caíram sobre ele, mas, ao notarem os trajes andrajosos e a pobreza do peregrino, e que não trazia armas, mas somente um tosco bornal e um cajado, decepcionaram-se e, maior que a decepção foi a surpresa quando ele lhes disse quem era, bradando altaneiro: "sou arauto do grande Rei, sou a trombeta do Imperador".
Diante disso, os soldados levaram São Francisco à presença do sultão que, informado de quem se tratava, mas muito desconfiado e como que querendo divertir-se, indagou-o com descrença:
– Então, és arauto de um rei. E que rei é esse, e quais seus objetivos ao enviar-te a nós assim, desta forma vestido e sem aparato militar que demonstre seu poder?
Tirando uma das mãos de seu cajado e apontando para o alto, ao mesmo tempo em que com grande enlevo fitava o imenso céu crepuscular do deserto, São Francisco respondeu calmamente:
– Sou arauto do grande Rei, o Deus de Amor, Senhor de todas as coisas que enviou-nos Seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós em uma cruz. Mas que vencendo a morte pela morte, ressuscitou e subiu aos céus, onde está à direita de Seu Pai. E todo aquele que nEle crer não morrerá, mas terá a vida eterna. Eu vim para trazer-vos esta boa nova, a fim de que vos torneis seus súbditos.
Os mulás presentes indignaram-se e com fortes brados protestaram pela morte do insolente.
Ao ouvir isso, o sultão percebendo que São Francisco era um cristão e admirado com sua coragem e pura intenção, retorquiu:
São Francisco e o sultão ayyubide al-Malik al-Kāmil |
Com um arauto tão solene e convincente nas palavras e actos, esse rei não poderia também, já que é tão grande senhor, demonstrar seu poder e riqueza com um séquito mais poderoso? Pois as tuas palavras também me servem para designar Alá, e, ao invés de Cristo, por que tu não crês no profeta Maomé, o verdadeiro enviado de Deus, e não obedeces ao seus mulás que aqui estão?
Fitando a enorme fogueira que ardia ao lado da tenda, inspirado por Deus, e, vendo que de outra forma não poderia penetrar naqueles corações endurecidos com o suave e salutar dardo do Amor Divino, São Francisco propõe:
O que é o séquito senão a escolta que protege o emissário, por mais indigno que este seja? Ora, façamos pois uma prova e depois ireis me dizer qual é o verdadeiro emissário, Jesus Cristo ou Maomé. Entremos todos, os mulás e eu, nesta flamejante fogueira. Aquele que detiver o verdadeiro mandato, por mais indigno que seja, sairá ileso e demonstrará com isso a verdade que deve guiar todo homem.
O desafio era entre Cristo e Maomé. E São Francisco já largava de lado o bornal e o cajado e preparava-se para entrar no fogaréu, quando, desesperadamente, o líder dos mulás se lança de joelhos ante o sultão clamando em prantos loucos de pavor e pedindo suspensão da prova, enquanto os outros se amontoavam assustados em um canto da tenda. O sultão, conformado, exclama:
É, parece que Alá não foi bem servido hoje! E, voltando-se para São Francisco, suplica-lhe que não entre no fogo, louva-lhe a confiança que depositava em Cristo e, respeitoso e encantado, diz-lhe:
Se outros cristãos dessem o exemplo que tu dás, eu não hesitaria em me tornar cristão também.
Depois disso, faz com que São Francisco seja conduzido em segurança de volta à linhas cristãs.
Conta-se que no leito de morte, o sultão, em seu país, recebeu miraculosa visita de São Francisco, que se encontrava ao mesmo tempo na Itália, e se fez batizar cristão tendo morrido no seio da Santa Igreja.
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