30/04/2014

A coragem de pedir muito aos jovens

João Paulo II conquistava-os justamente porque era ousado e exigente em suas propostas.
João Paulo II, entre os jovens: pedir muito é que os conquistava.
Por Dom Murilo Krieger*
A canonização do papa João Paulo II nos tem levado a recuperar imagens, discursos e atitudes daquele nosso irmão polonês que conquistou o mundo. Quem acompanhou de perto o seu pontificado guarda belas lembranças de suas viagens, de uma determinada audiência pública de que participou ou, se teve o privilégio de um encontro pessoal, de uma palavra que ele disse com amor e humor.
De minha parte, quero ressaltar os encontros de João Paulo II com os jovens. Quando eu o via no meio deles, ficava impressionado com a alegria que os jovens manifestavam, com a disposição para o diálogo que transbordava do coração do papa, com o ambiente de identificação que imediatamente se criava. Parecia que víamos um avô querido no meio de uma multidão de netos. O papa João Paulo II demonstrava rejuvenescer no meio dos jovens. O que me surpreendia, porém, mais que tudo, era a coragem que ele tinha de pedir muito aos jovens.
Para responder ao desejo de felicidade que eles manifestavam, João Paulo II apontava-lhes as Bem-aventuranças: "O homem é feito para a felicidade. A sede de felicidade de vocês é, portanto, legítima. Para esse seu desejo Cristo tem a resposta. Pede-lhes, porém, que confiem nele. A alegria verdadeira é uma conquista que não se alcança sem uma luta longa e difícil. Cristo possui o segredo da vitória” (Toronto, 2002).
Em 1998, em Roma, havia confiado aos jovens uma missão: a de se tornarem, na aurora do novo milênio, “testemunhas corajosas do Evangelho”. Afinal, cabe-lhes ser “sal da terra e luz do mundo”, chamados não só a encontrar Cristo, mas a “dar testemunho de sua presença na sociedade contemporânea e se tornarem construtores da civilização do amor e da verdade”.
Voltando às Bem-aventuranças: João Paulo II assegurava aos jovens que elas apresentam o mapa do caminho da felicidade. As oito propostas de Cristo são as setas que indicam a direção a seguir. “É um caminho que sobe, mas Ele percorreu esse caminho por primeiro. Ele está disposto a percorrê-lo com vocês, tanto que disse um dia: 'Quem me segue não caminha nas trevas' (Jo 8,12). É caminhando com Cristo que se pode conquistar a alegria, a verdadeira! Justamente por essa razão ele lhes repete também hoje um anúncio de alegria: “Bem-aventurados!...”
Em qualquer lugar e situação, os jovens o aplaudiam, convictos de que estavam ouvindo palavras de um profeta, de alguém que não procurava o aplauso fácil. João Paulo II os conquistava justamente porque era ousado e exigente em suas propostas. Era isso mesmo que eles queriam: buscavam palavras de vida – palavras que fossem capazes de dar uma nova orientação a seus passos. Voltavam, então, para casa, dispostos a viver segundo o que lhes havia sido proposto. Como poderiam se esquecer, por exemplo, da cruz que lhes era apontada? "Olhem para ele: Jesus não se limitou a pronunciar as Bem-aventuranças, mas as viveu. Percorrendo a sua vida, relendo o Evangelho, ficamos maravilhados: o mais pobre dos pobres, a pessoa de coração mais puro e misericordioso é justamente ele, Jesus. As Bem-aventuranças nada mais são do que a descrição de um rosto: o seu rosto! A alegria que as Bem-aventuranças prometem é a alegria mesma de Jesus: uma alegria procurada e encontrada na obediência ao Pai e no dom se si aos irmãos."
A canonização do papa João Paulo II serve de advertência e lição para todos os que são chamados a caminhar com os jovens, e a educá-los: porque sabia lhes pedir muito é que os atraia e conquistava. Mas, não nos esqueçamos de que ele os conquistava e atraia não para si, mas para Jesus Cristo, "o verdadeiro Mestre, o único que apresenta uma mensagem que não muda, mas que responde às expectativas mais profundas do coração dos jovens".
Agradeçamos a Deus o presente que, na pessoa de Karol Wojtyla – agora, S. João Paulo II -, Ele deu à nossa geração. Agradeçamos, também, por Angelo Giuseppe Roncalli – agora, S. João XXIII, "o Papa Bom" Ambos são provas de que Deus continua amando e acompanhando o mundo com um carinho especial.
CNBB, 29-04-2014.
*Dom Murilo Krieger é arcebispo de Salvador (BA).

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