06/05/2014

Cariocas tentam manter tradição na Copa

Apesar do desânimo provocado pelos protestos, moradores ainda buscam decorar as ruas para jogos.
Ruas do Rio são decoradas para Copa do Mundo 2014.

Os protestos e as críticas contra os altos gastos com a Copa do Mundo provocaram um clima de desânimo em muitos cariocas. O sentimento se refletiu no atraso na decoração de ruas, mantida apenas com trabalho voluntário e doações da própria comunidade. Em alguns locais, os preparativos foram simplesmente cancelados. Mesmo assim, grupos de moradores lutam contra a apatia e mantêm a tradição de embelezar a vizinhança, com fitas e bandeirolas, além da pintura de muros e asfalto.

Na rua Pereira Nunes, em Vila Isabel, zona norte da cidade, o trabalho está 50% concluído, apesar dos organizadores reconhecerem que muitas pessoas ficaram desanimadas por causa das denúncias de gastos excessivos nas obras para a Copa. 

"Temos a tradição de enfeitar a rua desde 1990 e estamos muito animados. Mas quanto às outras ruas, acreditamos que seja essa coisa da corrupção, dos protestos, do movimento de 'não vai ter Copa'. Nós também somos contra a corrupção e a roubalheira dos estádios. Mas, uma vez que vai ter Copa, vamos comemorar", disse o vendedor de planos de saúde Victor Marques, um dos organizadores da decoração.

As pinturas dos muros ficam a cargo do tatuador Ricardo Melo, que também coordena a decoração feita no asfalto, com a ajuda de voluntários. Na tarde de hoje (5), ele deu os últimos retoques em uma pintura retratando o jogador Neymar afastando o fantasma da Copa de 1950, quando o Brasil perdeu para o Uruguai. "Ninguém está a favor das coisas que estão acontecendo, da saúde do jeito que está, da educação do jeito que está. Só que a decoração da rua é uma cultura que nós temos há muito tempo. Eu faço os desenhos aqui desde a Copa de 1998", disse Ricardo, que no total está pintando oito muros.

Outro ponto tradicional das festas de rua durante a Copa é o largo formado pelas ruas Alzira Brandão e Conde de Bonfim, na Tijuca, também na zona norte. Batizado de Alzirão, o espaço chega a receber até 12 mil pessoas em dias de jogos do Brasil. Este ano, um impasse com a Fifa gerado pela cobrança de uma taxa que poderia chegar a R$ 28 mil, atrasou a decoração, que ainda nem começou a ser feita.

Os organizadores se animaram, na última sexta-feira (3), quando o prefeito Eduardo Paes disse de que não haveria cobrança em festividades populares. Agora, eles prometem começar a decoração a partir do próximo dia 12. A expectativa é que o trabalho seja concluído uma semana após o início.

"Este ano esperamos cerca de 12 mil pessoas. Teremos um telão de 24 metros quadrados. É o dobro da Copa passada e com mais resolução", contou Guilherme Teixeira, um dos organizadores do Alzirão, que este ano terá 10 mil metros quadrados de pinturas e 16 quilômetros de fitas e bandeirolas verde e amarelas cobrindo o local. Tudo emoldurado por uma grande bandeira do Brasil.

"O Alzirão acontece há 36 anos e tem que existir independentemente de críticas à Copa. É um momento histórico do país, de ter uma Copa do Mundo aqui. E o Alzirão vai ser a única sensação de boa parte da população de poder sentir o gosto da Copa. Muita gente tentou comprar ingresso e não conseguiu. E qual o local que sobrou para todos irem? Só as festas de exibição pública", destacou Guilherme.
Agência Brasil

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