03/07/2014

Artesanato feito por ex-presas no PA é vendido em cidades-sede da Copa


03/07/2014 07h00 - Atualizado em 03/07/2014 07h00


'Ego vai lá em cima', diz artesã que fez itens como tiara, colar e chaveiro.
Peças inspiradas no Brasil são expostas em projeto do Sebrae.

Gabriela GasparinDo G1, em São Paulo
Claudia Ferreira viu na costuma uma forma de se reinserir no mercado de trabalho (Foto: Divulgação/Sebrae-PA)Claudia viu na costura forma de se reinserir no mercado de trabalho (Foto: Divulgação/Sebrae-PA)
Claudia Ferreira, de 45 anos, viveu atrás das grades por três anos no Pará, cumprindo pena por tráfico de drogas, e, desde que saiu da prisão, em 2009, encontrou na costura uma maneira de se reinserir no mercado de trabalho. Com a Copa, artesanatos com restos de tecido produzidos por ela estão sendo vendidos em cidades-sede do Mundial e no aeroporto internacional de Belém (veja endereços no fim da reportagem). É uma forma de obter renda e também de divulgar o trabalho.

“Fico bem maravilhada de saber que o que eu fiz está passando pela mão de outras pessoas de longe. Que estão sendo olhadas, elogiadas. O ego vai lá em cima, é muito bom. (...) No começo parece que a gente tem que abaixar a cabeça. Quando sai, a gente fica envergonhada. Hoje eu penso diferente, porque as pessoas precisam ver o que estamos fazendo. É uma coisa boa, que tem uma esperança na vida”, disse.
Peças expostas no aeroporto internacional de Belém (Foto: Divulgação/Thiago Araújo/Sebrae-PA)Peças expostas no aeroporto internacional de
Belém (Foto: Divulgação/Thiago Araújo/Sebrae-PA)
Junto com Claudia, outras nove ex-presas confeccionaram itens inspirados no Brasil, como colares, chaveiros, camisas, cordões e tiaras, especialmente para a Copa. O grupo trabalha na Fábrica Esperança, uma entidade privada sem fins lucrativos em Belém, que foi concebida pelo governo do Pará para promover a reinserção dos egressos do sistema prisional no mercado de trabalho.
Para a produção das peças, o grupo passou por treinamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-PA).
Saindo do crime
Claudia revelou que foi presa em flagrante quando traficava drogas na tentativa de conseguir dinheiro para pagar um advogado para o marido, que havia sido preso cerca de um mês antes, pelo mesmo crime. “Eu achava que se eu fizesse isso ia ser rápido, que ia me ajudar a pagar o advogado para ele. Aí eu quebrei a cara. Em vez de tentar me ajudar e ajudar ele, eu fiz foi piorar tudo. Ficamos os dois presos”, afirmou.
A gente pensa que já sabe de tudo e não é bem assim, tem muita coisa para aprender"
Claudia Ferreira
Ela tem três filhos, com 12, 15 e 19 anos, e disse que o trabalho na fábrica tem ajudado a manter a renda e pensar sobre o futuro. Recebe um salário mínimo, mas o rendimento aumenta quando faz horas extras. Disse que o marido também já foi solto e está trabalhando por conta, em serviços como o de pedreiro. “Nossa vida voltou ao normal, de cabeça erguida, sem se preocupar, sem ter medo de polícia.”
'Com o tempo a gente vai crescendo', diz Rosely Oliveira  (Foto: Divulgação/Sebrae-PA)'Com o tempo a gente vai crescendo',
diz Rosely Oliveira (Foto: Divulgação/Sebrae-PA)
A costureira afirmou que pretende se profissionalizar cada vez mais e fazer cursos para trabalhar por conta própria – tentou uma vez, mas disse que não deu certo. “A gente pensa que já sabe de tudo e não é bem assim, tem muita coisa para aprender”, disse.
Também artesã do projeto, Rosely Oliveira, de 29 anos, trabalha na fábrica há seis meses. Disse que foi solta em abril de 2013, após ficar presa por cinco anos, também por tráfico de drogas. “Foi um exemplo para mim do que eu nunca mais quero para a minha vida. Eu estudava e trabalhava e fazia de tudo pelos meus filhos, e aconteceu esse fato que virou minha cabeça. Agora a Fábrica Esperança deu essa oportunidade e mudou a minha vida.”

Ela contou que pretende fazer novos cursos para continuar no mercado de trabalho. “Com o tempo a gente vai crescendo. (...) A gente sente orgulho de ver que uma coisa que fez e está sendo divulgada. Fiquei feliz.”
De acordo com dados da Fábrica Esperança, o trabalho da entidade tem ajudado a evitar a reincidência criminal no estado. Em 2006, de 153 ex-presos que trabalham no local, 7,19% voltaram a cometer crimes. Até o final do primeiro trimestre de 2014, a taxa caiu para 0,39% de um total de 257 atendidos.
Exposições da Fábrica Esperança
O artesanato feito pelas ex-presas ficará exposto até o fim da Copa no Rio de Janeiro e em São Paulo, em showrooms com peças de artesãos de todo o Brasil, por meio de um projeto do Sebrae. Os itens também foram expostos em Manaus (até 27 de junho) e ficam até o final de julho no aeroporto internacional de Belém, no projeto Pará Copa, do Sebrae Estadual.
“Estamos aproveitando o grande cenário da Copa do Mundo no Brasil. Os turistas vão a Manaus e querem conhecer o nosso lado da Amazônia. Tem grande fluxo de pessoas”, disse Carmélia Oliveira, gerente de mercado do Sebrae no Pará.
Veja as datas e os endereços:
São Paulo
Até 13 de julho no Shopping Light (Rua Coronel Xavier de Toledo, 23, República)

Rio de Janeiro
Até 15 de julho no Shopping Rio Sul (Rua Lauro Muller, 116, Botafogo)

Aeroporto internacional de Belém
Até o dia 31 de julho, das 8h às 2h, no terraço panorâmico.
Fonte: http://g1.globo.com/economia/pme/noticia/2014/07/artesanato-feito-por-ex-presas-no-pa-e-vendido-em-cidades-sede-da-copa.html


Nenhum comentário :

Postar um comentário