Igreja > 2014-07-02 17:04:05
Cidade do Vaticano (RV) – Por que este livro não tem na capa uma foto do Papa Francisco? Porque se considerou interpretar deste modo já a partir daqui, aquilo que o seu ser jesuíta afirma e propõe: o fato, isto é, de não se concentrar somente ou muito sobre ele, de não vê-lo como um ídolo, um superstar, ou até mesmo um ícone, um logotipo que retrata um ‘one man show’. A espiritualidade e formação jesuíta é, de fato, anti-idolátrica na raiz. Se contrapõe claramente a todo culto da personalidade e, portanto, a toda perspectiva individualista.
Para fazer somente um exemplo, nas regras da ordem dos jesuítas, as Constituições, está escrito que os jesuítas “são contentes de levar a túnica do Senhor”. Do Senhor. Não a própria. E para que isto seja real – para que, isto é, se formem verdadeiramente para não fazer ídolos de si mesmos – os jesuítas desenvolveram um sistema de educação que tende a “orientar o desejo”, sem reprimir, ao mesmo tempo, as justas ambições, os talentos, as vontades do indivíduo.
Um Papa é um “sacramento”, isto é, um “sinal”, um pouco como uma placa viária que indica a direção para um lugar. Assim, o olhar que agora vou dirigir ao Papa Francisco, terá bem presente o horizonte, o lugar para o qual este sinal dá a direção, e, portanto a atenção. No catolicismo – e muito nos discursos dos jesuítas – o Papa é, de fato, um sinal “visível” de uma realidade maior e mais alta: a “centralidade de Cristo”, característica primária da perspectiva inaciana. Uma característica que faz, sim, com que o jesuíta seja, como disse Francisco, um homem “descentralizado”, no sentido que se propõe “esvaziar-se” na própria individualidade para colocar no centro da própria existência, das próprias ações, meditações, escolhas, reflexões, o Cristo, que assim seja entendido como centro da história e plenamente “presente hoje no mundo (história de Deus que entra na história dos homens). O que significa? Que a espiritualidade jesuíta tem de ser” bem plantada por terra, na história, para buscar Cristo no mundo histórico, atual, aquele em que vivemos.
Por qual razão? Porque o cristão acredita que Cristo seja o Deus que se fez homem. E, portanto, o Cristo mesmo, como homem, experimentou as quedas, as tentações, as angústias de cada ser humano. Neste sentido, a espiritualidade jesuíta potencia aquela espiritualidade geral cristã, no sentido que coloca ênfase, em particular, na humanidade de Cristo. É necessário considerar esta concepção, mesmo se se é ateu ou agnóstico ou, como católicos, adversos ou estimadores do Papa Francisco, para entender aquilo que faz e diz este Pontífice, à luz de sua formação de jesuíta.
De outra forma, se corre o forte risco de sair da estrada e, portanto, de não entender bem uma sua perspectiva que, mesmo complicada de ter sempre presente, não é prescindível. Em outras palavras, se pretendo aproximar Francisco à sua identidade de jesuíta, não posso que não procurar assumir, no plano da abordagem cognitiva, antes de tudo a espiritualidade do jesuíta e sobretudo considerá-la seriamente, no sentido de que devo deixar de lado todo o preconceito de valor, quer esse positivo ou negativo.
Somente assim, acredito, terei uma orientação oportuna – enquanto crítico – à questão.
Vittorio V. Alberti
L'Osservatore Romano
Para fazer somente um exemplo, nas regras da ordem dos jesuítas, as Constituições, está escrito que os jesuítas “são contentes de levar a túnica do Senhor”. Do Senhor. Não a própria. E para que isto seja real – para que, isto é, se formem verdadeiramente para não fazer ídolos de si mesmos – os jesuítas desenvolveram um sistema de educação que tende a “orientar o desejo”, sem reprimir, ao mesmo tempo, as justas ambições, os talentos, as vontades do indivíduo.
Um Papa é um “sacramento”, isto é, um “sinal”, um pouco como uma placa viária que indica a direção para um lugar. Assim, o olhar que agora vou dirigir ao Papa Francisco, terá bem presente o horizonte, o lugar para o qual este sinal dá a direção, e, portanto a atenção. No catolicismo – e muito nos discursos dos jesuítas – o Papa é, de fato, um sinal “visível” de uma realidade maior e mais alta: a “centralidade de Cristo”, característica primária da perspectiva inaciana. Uma característica que faz, sim, com que o jesuíta seja, como disse Francisco, um homem “descentralizado”, no sentido que se propõe “esvaziar-se” na própria individualidade para colocar no centro da própria existência, das próprias ações, meditações, escolhas, reflexões, o Cristo, que assim seja entendido como centro da história e plenamente “presente hoje no mundo (história de Deus que entra na história dos homens). O que significa? Que a espiritualidade jesuíta tem de ser” bem plantada por terra, na história, para buscar Cristo no mundo histórico, atual, aquele em que vivemos.
Por qual razão? Porque o cristão acredita que Cristo seja o Deus que se fez homem. E, portanto, o Cristo mesmo, como homem, experimentou as quedas, as tentações, as angústias de cada ser humano. Neste sentido, a espiritualidade jesuíta potencia aquela espiritualidade geral cristã, no sentido que coloca ênfase, em particular, na humanidade de Cristo. É necessário considerar esta concepção, mesmo se se é ateu ou agnóstico ou, como católicos, adversos ou estimadores do Papa Francisco, para entender aquilo que faz e diz este Pontífice, à luz de sua formação de jesuíta.
De outra forma, se corre o forte risco de sair da estrada e, portanto, de não entender bem uma sua perspectiva que, mesmo complicada de ter sempre presente, não é prescindível. Em outras palavras, se pretendo aproximar Francisco à sua identidade de jesuíta, não posso que não procurar assumir, no plano da abordagem cognitiva, antes de tudo a espiritualidade do jesuíta e sobretudo considerá-la seriamente, no sentido de que devo deixar de lado todo o preconceito de valor, quer esse positivo ou negativo.
Somente assim, acredito, terei uma orientação oportuna – enquanto crítico – à questão.
Vittorio V. Alberti
L'Osservatore Romano
Rádio Vaticano
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