02/08/2014

A verdade dói


Há dias tive uma sã discussão com um amigo meu, médico e escritor, que defendia com afinco um tradicional ditado muito utilizado na nossa aldeia, ditado esse que moldou os comportamentos de muita gente: «A verdade dói». É um adágio que justifica diretamente o mal-estar com que fica uma pessoa depois de ouvir uma «hipotética» ou «relativa» verdade. 

Acredito profundamente que a dor bem assumida leva qualquer um ao crescimento pessoal, mas este processo envolve outras dimensões e reflexões da própria vida que não têm nada a ver com a dor que pode provocar uma verdade mal comunicada ou pessimamente transmitida. A habilidade na comunicação é fundamental quando se quer transmitir uma mensagem carregada de autenticidade.

A sinceridade, a coerência e veracidade das nossas palavras, a honestidade, são qualidades muito bem conceituadas na sociedade. Porém, já muitas vezes me interroguei se a «sinceridade», alicerçada na minha verdade, parcial e subjetiva, não teria um limite perante alguém que tem os mesmos direitos, condições e condicionamentos do que eu. A situação piora ainda mais quando o alicerce da suposta verdade é um preconceito ou um «zum-zum» lançado aos nossos ouvidos por um terceiro. De que sinceridade e verdade podemos falar se nem sequer somos honestos com a nossa própria perceção da realidade?

Lembro-me de ter lido um livro de um autor francês que dizia mais ou menos isto: ser sincero não é dizer ou exprimir tudo aquilo que pensamos, mas sim não usar argumentos contrários daquilo que pensamos e acreditamos. Com isto quero dizer que muitas vezes confundimos sinceridade com o ato de valentia de dizer ao outro, na sua cara, tudo o que pensamos sem a necessidade de medir ou avaliar o impacto que a «hipotética honestidade» pode provocar na pessoa que escuta. «Apesar de doer, o que te digo é para o teu bem» ressoa dos lábios de quem muitas vezes esquece que não tem a verdade absoluta ou não se questionou ainda sobre que tipo de «bem» pode surgir de uma transmissão falida que só provoca feridas. 

Quem em nome da sinceridade e honestidade diz tudo o que pensa e não mede as palavras, só procura a prática de um hábito que gera bem-estar pessoal a si próprio, um bem-estar diretamente proporcional à dor e à ferida de quem escuta.

A verdadeira e correta verdade dita ao outro é aquela que é filtrada pelo prisma da assertividade. Dizer as palavras certas, à pessoa adequada e no momento justo, é fundamental para ajudar os outros a crescer na liberdade, porque a verdade bem dita liberta e faz crescer qualquer pessoa.


Fátima Missionária

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