27/08/2014

Sociedade: «Ritmo alucinante» ameaça equilíbrio familiar e comunitário


A psicóloga Helena Marujo considera que medidas como a redução do número de dias de férias são fruto de um mundo atual que sacrifica aspetos “vitais” do ser humano a todo um conjunto de “metas” sociais ou econômicas.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, a professora do Instituto de Ciências Sociais e Políticas salienta que, apesar de a sociedade estar a caminhar para uma “visão oposta”, o tempo de férias continua a ter grande importância e “é preciso sublinhar isso”.
O “ritmo alucinante” que está a ser imposto às pessoas não prejudica apenas a sua saúde física e psicológica mas coloca em causa todo um conjunto de equilíbrios familiares.
“Hoje temos vidas muito intensas, muito desgastadas e desgastantes, que nos retiram muitas vezes tempo para aquilo que é o essencial, que são os bens relacionais, estar com as pessoas importantes da nossa vida”, aponta a docente.
Com a pressão diária que existe em “não parar”, em cumprir “objetivos” traçados, há mesmo o perigo das pessoas “desligarem” de tudo aquilo que foram construindo com aqueles que lhes são mais próximos.
Daí que, mesmo podendo parecer um paradoxo, o tempo de férias seja um período onde acontecem “mais separações conjugais” e se verifica um “aumento de processos de divórcio”.
De repente, “pessoas que normalmente se cruzam meia dúzia de horas por dia, se tiverem sorte”, têm de reaprender a estarem juntas, a fazerem coisas em conjunto, a cuidarem dos filhos a tempo inteiro.
“Podem ser momentos de grande tensão e conflitualidade. Por isso tem que haver estratégias de gestão desses momentos, dessas horas”, realça Helena Marujo.
Em termos gerais, ressalva a psicóloga, as férias têm “vantagens inegáveis” quer para o “reequilíbrio” das pessoas quer também para uma “gestão melhor” do stresse, “dos momentos difíceis e dos desafios”.
Por um lado possibilitam a cada um cuidar melhor de si, fazer “exercício físico, comer melhor”, no fundo ter mais “respeito pelo corpo”, coisa que nem sempre é possível no período de trabalho.
O tempo de descanso funciona ainda como “um afastamento, um olhar para a vida com uma serenidade e distância que permite tomar decisões ou reformular hierarquias”.
Como “sugestões obrigatórias”, Helena Marujo deixa o “contacto com a natureza”, essencial num mundo cada vez mais “urbanizado”, e sobretudo que as pessoas “procurem concretizar nas férias projetos e paixões que às vezes sejam difíceis de pôr em prática durante o ano de trabalho”.
E depois durante o resto do ano há sempre a possibilidade de realizar umas “micro férias”.
“Às vezes um sábado relaxante, descontraído, no contacto com a natureza, ou com a cultura ou com os amigos, pode ir ajudando a ter uma espécie de bombas de oxigénio”, conclui.
PR/JCP
Agência Ecclesia

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