21/09/2014

Não desvirtuar a bondade de Deus

Devemos aprender a não confundir Deus com nossos esquemas estreitos e mesquinhos.
Diante de Deus, apenas cabe a confiança.
Jesus, durante sua trajetória profética, insistiu reiteradas vezes em comunicar sua experiência de Deus como um “mistério de bondade insondável” que quebra todos nossos cálculos. Sua mensagem é tão revolucionária que depois de vinte séculos ainda há cristãos que não se animam a levá-la a sério.

Para contagiar a todos sua experiência de Deus Bom, Jesus compara sua atuação com a conduta surpreendente do dono de uma vinha. Até cinco vezes o próprio dono vai em busca dos novos diaristas para contratá-los para sua vinha. Não parece estar muito preocupado da rendição no trabalho. O que ele deseja é que nenhum diarista fique um dia a mais sem trabalho.

Por isso, no final da jornada, ele não lhes paga adaptando-se ao trabalho realizado por cada grupo. Apesar de que seu trabalho foi muito desigual, ele entrega para todos uma moeda de prata: simplesmente aquilo que uma família de camponeses da Galileia precisava cada dia para viver.

Quando o porta-voz do primeiro grupo protesta porque os últimos foram tratados da mesma forma que eles que trabalharam mais que ninguém, o dono da vinha responde-lhe com estas palavras admiráveis: “Você está com ciúme por que estou sendo generoso?”. Você vai impedir-me com seus cálculos mesquinhos de ser bom com aqueles que necessitam de seu pão para jantar?

O que está sugerindo Jesus? É um Deus que não atua com os critérios de justiça e igualdade que nós temos? É verdade que Deus, mais que estar medindo os méritos das pessoas, sempre busca responder desde sua Bondade insondável à nossa necessidade profunda de salvação?

Confesso que sinto uma grande pena quando encontro boas pessoas que imaginam Deus dedicado a tomar nota cuidadosamente dos pecados e dos méritos dos seres humanos para retribuir a cada um segundo o que ele merece. É possível imaginar um ser mais inumano que alguém dedicado a isto desde toda a eternidade?

Crer num Deus, Amigo incondicional, pode ser a experiência mais libertadora que seja possível imaginar, a força mais vigorosa para viver e para morrer. Pelo contrário, viver ante um Deus justiceiro e ameaçador pode converter-se na neurose mais perigosa e destruidora da pessoa.

Devemos aprender a não confundir Deus com nossos esquemas estreitos e mesquinhos. Não devemos desvirtuar sua Bondade insondável misturando os rasgos autênticos que provêm de Jesus com os traços de um Deus justiceiro colhidos do Antigo Testamento. Diante do Deus Bom revelado em Jesus, o único que cabe é a confiança.
Instituto Humanitas Unisinos
*José Antonio Pagola é teólogo. O texto é baseado no Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 20,1-16 que corresponde ao 25º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico.

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