21/10/2014 | domtotal.com
Ao final da missa de beatificação de Paulo VI, uma cena expõe o racha interno na Igreja Católica.
Por Franca Giansoldati
Os maus humores permanecem. Agitam-se sob a superfície. Imperceptíveis como movimentos telúricos registrados com o sismógrafo. Nuances. Como o fato de que nesse domingo (19), ao término da missa de beatificação de Paulo VI, no adro de São Pedro, nem todos os cardeais presentes esperaram para cumprimentar Francisco.
Geralmente, isso ocorre. Os purpurados colocam-se em fila, esperando pacientes a sua vez para dar uma palavra de apoio ao pontífice, um aperto de mão, uma frase de circunstância, uma frase sussurrada por um pedido.
Nesse domingo, isso não ocorreu, alguns cardeais fugiram antes, mas se celebrava um momento importante, o fim do Sínodo sobre a família, um caminho in itinere ao qual é pedida a contribuição de todos.
Quem estava na praça assistiu à cena, notando que, junto ao papa Francisco, faltavam o cardeal alemão Müller, prefeito da Congregação da Fé, o cardeal norte-americano Burke, chefe da Signatura Apostólica, o austríaco Brandmüller. Isto é, os cardeais que, mais do que todos, se expuseram nesses dias contra a abertura do Sínodo.
Às vésperas do Sínodo, eles assinaram uma espécie de manifesto que continha as razões do "não" à comunhão para os divorciados.
Deserções
A visão exposta enquadrou a Igreja em uma jaula doutrinal dificilmente modificável de acordo com os impulsos do tempo. "Não se muda a fé a golpes de maioria." O livro criou as bases para um movimento de oposição bem mais amplo entre os padres sinodais.
Os outros dois signatários, Caffara e De Paolis, no entanto, ao término da missa, esperaram para apertar a mão de Bergoglio; Caffara até com um abraço vigoroso.
O cardeal Ruini, que estava presente no rito, também não se aproximou do papa no fim da missa. O cardeal Bertone foi um dos últimos a abraçar Francisco.
Os movimentos telúricos em curso indicam que a divisão na Igreja existe e é forte, como ficou claro a partir desse pequeno – mas nada insignificante – episódio. Além disso, Burke, em uma entrevista ao National Catholic Reporter, confirmou que havia sido demitido do Vaticano e que, em breve, irá deixar a Signatura Apostólica.
Conservadores
Se os conservadores custam para conter o seu próprio desconforto, os progressistas também fazem de conta que estão satisfeitos, como o cardeal Kasper, principal promotor do "sim" à comunhão aos divorciados, uma das questões que não passou.
"Eu não estou desapontado. Só se discutiu, e agora se aprofundará a questão. Eu não falei no Sínodo, não quis incentivar a minha tese. Veremos. Eu estou tranquilo. Vamos avaliar, vamos discutir nas Igrejas locais, nas Conferências Episcopais. É um problema que continua em aberto. Isso vai acabar nos documentos do próximo Sínodo. A discussão agora se transferirá também para o nível dos países individuais. Depois, veremos."
Il Messaggero, 20-10-2014.
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