13/01/2015

Prosperar sem destruir



Marcus Eduardo de Oliveira





Uma das mais urgentes necessidades em termos de organização da sociedade é a de conciliar desenvolvimento econômico com a promoção do desenvolvimento social, respeitando e resguardando, nessa relação, o meio ambiente.

A ideia central é procurar compatibilizar as dimensões econômica, social e ambiental; ponto de partida para tentar superar o dilema dicotômico entre a necessidade de “crescer” e a urgente condição de “preservar” o equilíbrio ecológico; dito de outra forma, essa dicotomia está presente na questão entre “prosperar” (econômica e socialmente), sem com isso “destruir” (ambientalmente).


Na essência, busca-se alcançar e cumprir três princípios básicos que estão referenciados no Relatório Brundtland (publicado em 1987), também conhecido como “Nosso Futuro Comum”, a saber: i) desenvolvimento econômico (aspiração imanente da humanidade); ii) proteção ambiental (o cuidado para com a nossa Casa Comum, a Mãe Terra); e, iii) equidade social (a inclusão dos excluídos).


Para superar essa dicotomia referenciada tem-se um evidente questionamento do ecologismo sobre a racionalidade econômica, tendo em conta que essa última, pelas lentes do pensamento neoclássico pouco se importa com as consequências (degradação do capital natural) ambientais advindas de políticas macroeconômicas que estimulam, a qualquer custo, o crescimento econômico.


Por sinal, alcançar o crescimento a qualquer monta se transformou numa espécie de obsessão da macroeconomia convencional que ignora os graves distúrbios gerados na biosfera, pondo em risco a base de sustentação da vida, uma vez que, em decorrência da expansão econômica produtiva, os limites biofísicos são completamente desrespeitados. Assim, temos uma atividade econômica dilapidadora do capital natural.


Nesse pormenor, cabe citar uma importante passagem que consta do Manual Global de Ecologia (1993): “A produção de alimentos, energia e artigos industrializados está fortemente relacionada à deterioração do sistema que garante a vida na Terra. Entre 1950 e 1986, quando a população do mundo duplicou, o consumo de grãos aumentou 2,6 vezes, o uso de energia cresceu 3,2 vezes, a potência efetiva da economia quadruplicou, e a produção de bens manufaturados cresceu sete vezes. (…) Atualmente, o ser humano consome em alimentos, direta ou indiretamente, cerca de 40% do total de terras cultivadas no mundo”.


É exatamente por esse tipo de atuação invasiva, quando a atividade humana interfere substancialmente nos ciclos naturais da Terra, que o crescimento econômico não pode continuar sua “jornada” de deterioração dos recursos naturais e dos serviços prestados pela natureza.


Continuar estimulando a aceleração do crescimento da atividade produtiva é aumentar substancialmente a perda de diversidade biológica e dos serviços ecossistêmicos. Não há como escapar dessa verdade: aumentar a produção econômica é, dentre tantos outros possíveis estragos ambientais, sinônimo de “jogar” mais poluição na atmosfera.


Os elevados níveis de poluição e contaminação do ar não deixam dúvidas quanto à reposta que esse tipo de prática econômica expansiva oferece ao meio ambiente.


No mundo, mais de dois milhões de pessoas morrem a cada ano por “respirar poluição”, alojando nos pulmões pequenas partículas (PM 10) geradas pela queima de combustíveis fósseis, além da poluição de ozônio (O3).


Somente na América Latina e no Caribe, a cada ano, morrem aproximadamente 35 mil pessoas devido à contaminação do ar; na Europa, são mais de 150 mil e, no leste da Ásia, mais de um milhão de vidas são ceifadas pelo mesmo motivo.


É no mínimo vergonhoso presenciar que em pleno século 21 ainda se computam vidas perdidas devido à poluição. Por isso, o posicionamento ecológico, ao deixar claro que há limites e medidas restritivas para o aumento da produção econômica, deve estar acima do pensamento econômico tradicional, ferindo assim, para desespero dos economistas tradicionais, o dogma atinente ao crescimento econômico, visto e defendido, erroneamente, como fator preponderante para consolidar a prosperidade de uma sociedade.


Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor, com pós-graduação em Política Internacional e mestrado em Integração da América Latina (USP) | prof.marcuseduardo@bol.com.br.


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