Cerimônia de posse dos 513 deputados federais eleitos no Plenário Ulysses Guimarães. (Foto: Luis Macedo/Agência Câmara) |
Deputados mineiros legislam em causa própria em velocidade recorde,
mas e para nós?
Foi votado na última semana em Belo Horizonte um projeto de auxílio-moradia para os deputados estaduais que, a partir de agora, recebem um acréscimo de R$ 2,85 mil aos seus pobres salários de R$ 25.322,25. Não acho 25 mil reais uma fortuna, nem uma cifra injusta para qualquer trabalhador, seja de que área for. Acontece que, a realidade do país não permite que um representante da população receba mensalmente mais do que grande parte dela não receberá em uma vida. Vou além, ouso dizer que inventaram um benefício chamado “auxílio-moradia” que será, muito provavelmente, revertido em vinhos caros e jantares com os amigos.
Em Água Doce do Maranhão, a renda per capita média é de R$172,55 mensais, cidade mais pobre do país. Na mais rica, São Caetano do Sul, no interior de São Paulo, em média ganha-se R$2.043,74 por mês. Ambas as cifras estão a léguas de distância dos R$25 mil e dos R$28 mil. Segundo apuração feita pelas repórteres Isabella Souto e Juliana Cipriani, do Estado de Minas , 31 dos parlamentares beneficiados é proprietário de imóveis da Região Metropolitana, alguns deles, apartamentos milionários nas regiões com metros quadrados mais caros de BH. Tem parlamentar com imóvel no Lourdes, bem ao lado da Assembleia Legislativa, não me espantaria descobrir que esses também recebem auxílio-transporte para caminharem até o trabalho umas três vezes por semana.
A aprovação do projeto foi em velocidade recorde, enquanto outras questões passam anos em discussão com assembleias sem quórum, 10 dias após a posse, os novos legisladores mostraram toda sua pró-atividade em benefício próprio. Não é preciso ser bom de conta para identificar quão destoante isso está do crescimento de 2,7% do rendimento médio da população nacional no último ano.
A gente paga caro para ser mal representado lá em cima e todos sabemos que isso não é uma realidade apenas mineira, soube por um amigo carioca que no Rio de Janeiro, existe deputado com quatro vales-refeição por dia, porque todo mundo no Brasil almoça quatro vezes diariamente, não é mesmo?
Vale citar que foram 36 votos a favor, 22 contra e 19 se omitiram (conheça aqui os nomes). Adoraria acreditar nas boas intenções desses 22 parlamentares mineiros, mas não consigo ser inocente a ponto de parabenizá-los pela postura sabendo que, provavelmente, trata-se apenas de uma jogada com interesses futuros. Até porque, esses 34 mil anuais não farão tanta diferença na vida de quem recebe pelo menos 420 mil em um ano, fariam para mim e, eventualmente, para você.
Jornalista, especialista em Gestão Estratégica em Comunicação, ambos pela PUC Minas. Trabalhou e é voluntária da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), entidade sem fins lucrativos que visa a humanização no cumprimento da pena e a ressocialização de indivíduos que cometeram delitos. Como funcionária da entidade, tornou-se também voluntária e entusiasta dos Direitos Humanos. Atualmente é assessora de imprensa, tem ainda experiência como community manager, social media e reportagem.
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