20/06/2015

Editorial: Mudar de rumo

Rádio Vaticana



 Cidade do Vaticano (RV) – “Esta encíclica dirige-se a todos: rezemos para que todos possam receber a sua mensagem e crescer na responsabilidade para com a casa comum que Deus nos confiou”: palavras do Papa Francisco no Angelus do último domingo (14), quando recordou o anúncio da publicação da Carta Encíclica sobre o cuidado da criação, que ocorreu na última quinta-feira (18). Era grande a expectativa da apresentação deste texto do Papa Francisco, como ele mesmo disse para ajudar a promover uma maior atenção de todos sobre o meio ambiente. O nome da Encíclica ‘Laudato si, sobre o cuidado da casa comum’ por si só já nos remete a uma tradição dentro da Igreja. A expressão ‘Laudato si’ vem do  ‘Cântico das Criaturas’, de São Francisco; a invocação “Louvado sejas, meu Senhor”, que recorda que a terra, a nossa casa comum, “se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços”.


A encíclica é o grau máximo das cartas pontifícias. A palavra ‘encíclica’ vem do grego e significa ‘circular’; carta que o Papa enviava às Igrejas em comunhão com Roma, com um âmbito universal, onde empenha a sua autoridade como primeiro responsável pela Igreja Católica. O Papa mais prolífico neste tipo de cartas é Leão XIII, com 86 encíclicas – embora muitos desses textos fossem, nos nossos dias, classificados como Cartas Apostólicas ou Mensagens; São João Paulo II escreveu 14 Encíclicas e Bento XVI três.


Mas o que levou o Papa Francisco a dedicar meses de trabalho a um tema que quase todos os dias está presente nos nossos noticiários, nas nossas conversas, ou seja, o meio ambiente. Certamente tocou e toca seu coração o fato de que nós “herdeiros deste grande jardim”, não estamos tratando a Criação como se deve, e consequentemente também não estamos tratando como se deve o próprio homem.


Ao longo do texto da Encíclica – um documento em “sintonia com a Doutrina Social da Igreja”, Francisco apresenta o âmago da sua Laudato si: “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai nos suceder, às crianças que estão crescendo?” Esta pergunta não toca apenas o meio ambiente de maneira isolada, porque não se pode pôr a questão de forma fragmentária, e isso conduz a interrogar-se sobre o sentido da existência e sobre os valores que estão na base da vida social: “Para que viemos a esta vida? Para que trabalhamos e lutamos? Que necessidade tem de nós esta terra?”: “Se não pulsa nelas esta pergunta de fundo,–  escreve o Pontífice  –  não creio que as nossas  preocupações ecológicas possam surtir efeitos importantes”.


O Santo Padre chama a atenção para o fato de que a terra maltratada e saqueada se lamenta e os seus gemidos se unem aos de todos os abandonados do mundo. Francisco convida a ouvi-los, exortando todos e cada um – indivíduos, famílias, coletividades locais, nações e comunidade internacional – a uma “conversão ecológica”, segundo a expressão de São João Paulo II, isto é, a “mudar de rumo”, assumindo a beleza e a responsabilidade de um compromisso para o “cuidado da casa comum”.


O Papa Francisco se dirige certamente aos fiéis católicos, mas se propõe “especialmente entrar em diálogo com todos acerca da nossa casa comum”: o diálogo  percorre  todo o texto da Encíclica.


A proposta da Encíclica é a de uma “ecologia integral, que  inclua  claramente as dimensões humanas e sociais”, indissoluvelmente ligadas com a questão ambiental. Nesta perspectiva, o Papa Francisco propõe empreender em todos os níveis da vida social, econômica e política um diálogo honesto, que estruture processos de decisão transparentes, e recorda que nenhum projeto pode ser eficaz se não for animado por uma consciência formada e responsável. A ecologia integral torne-se um novo paradigma de justiça, porque a natureza não é uma “mera moldura” da vida humana.


Francisco nos diz que devemos olhar para a Criação, mas também devemos olhar para ela com algo que inclui o desenvolvimento humano. Não se trata somente da proteção da Terra, da água, do céu e do ar, mas também do homem. Por isso é necessário um trabalho conjunto para criar uma ecologia humana sustentável.


Dois temas que na sua complexidade centralizam a atenção pois em qualquer modo ameaçam o bem-estar da humanidade de hoje e do futuro: temas que tocam o abismo entre ricos e pobres e o abismo entre o homem e natureza.


Na sua Encíclica o Papa Francisco chama a atenção de todos, cristãos e não cristãos, à responsabilidade do cuidado da Criação. A Criação é um dom de Deus que dever ser amada e respeitada por todos e Francisco, junto com a Igreja Católica que ser uma voz profética para lançar um apelo à justiça, ao desenvolvimento sustentável, à boa governança e à tutela dos pobres.


Então, como fundamento de tudo, como pedras miliares estão o cuidado, a compaixão, a humildade, o respeito, a reverência e o amor. Promover semelhantes comportamentos é crucial para o bem do futuro, e Francisco e toda a Igreja quer participar neste trabalho, neste caminho, com a convicção de que todos juntos podemos tutelar o mundo em que vivemos, e nele o homem, feito à imagem e semelhança do Deus criador.


Esta nossa ‘casa’ – disse Francisco na última quarta-feira durante a audiência geral – está sendo arruinada e isso prejudica a todos, especialmente os mais pobres. “Portanto, o meu apelo é à responsabilidade, com base na tarefa que Deus deu ao ser humano na criação: ‘cultivar e preservar’ o ‘jardim’ em que ele o colocou”. Boa leitura a todos! (Silvonei José)


 


(from Vatican Radio)



http://www.paroquiasantoafonso.org.br/?p=15709

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