16/06/2015

O que está acontecendo com a religião?


Esta ausência nos está dizendo aos gritos que a religião anda desorientada, perdida.




O mais importante é a ética da honestidade, a decência e a honradez.



Por José María Castillo*


Chama a atenção o fato de que, neste momento – quando em nosso país [Espanha] estão sendo decididas coisas tão importantes para tanta gente –, a religião esteja tão ausente. Ao menos, pelo que se diz e se ouve, a impressão que se pode ter (e é inevitável) é que não se tem em conta o tema da religião.


Não se ouve os bispos falarem em público sobre este assunto. Os políticos, quando fazem alusão ao tema é para referir-se aos acordos do Estado com o Vaticano, para dizer que aborto sim, aborto não, ou em outros casos (em minoria) para elogiar ou atacar os homossexuais e suas pretensões. Já sei que tudo isso pode e deve ser mais matizado. Mas, em todo o caso, o que está acontecendo com a religião para que esteja tão ausente do que está acontecendo em nossa sociedade?


Como é lógico, não é este o lugar nem o momento para dar-se ao trabalho de escrever uma análise aprofundada sobre um assunto tão complexo. Mas há uma coisa (pelo menos uma) em relação à qual não posso me calar. Esta ausência chocante, este silêncio, da religião na Espanha (e na Europa), quando estão sendo tomadas decisões que serão determinantes, para o bem ou para o mal e talvez para muitos anos, nos está dizendo aos gritos que a religião anda desorientada, perdida, na sociedade espanhola. Muitas coisas podem ser discutidas no que se refere ao que acabo de dizer. Mas há algo que está fora de dúvida.


A religião dá uma importância maior aos seus ritos e às suas normas do que à ética proposta pelo Evangelho. Seguramente, em teoria, haverá muita gente que não está de acordo com o que acabo de dizer. Mas, aqui não estou falando das teorias que cada qual tenha ou possa ter.


Aqui estou falando do que estamos vivendo, do que acontece e daquilo que todos estão vendo. A verdade é que, excetuando-se o caso exemplar do Papa Francisco (e mais alguns clérigos), sem poder remediá-lo, temos a sensação de que o espantoso tema da corrupção econômica e política, que nos atropela e nos oprime, parece não preocupar muito os “homens da religião”.


Não é este um dos fenômenos mais graves que estamos enfrentando? Não chegou a hora de dizer aos profissionais da religião que a coisa mais essencial na vida – e, portanto, na própria religião – não são os rituais e as cerimônias, mas a ética da honestidade, a decência e a honradez?



Religión Digital, 14-06-2015.

*José María Castillo: teólogo espanhol.


http://www.paroquiasantoafonso.org.br/?p=15468

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