Luzes no céu

Heliomárzio Rodrigues Moreira*

Durante esses últimos meses eu recebi alguns contatos pelas redes sociais indagando sobre o que seriam as luzes no céu avistadas para o lado do poente no comecinho da noite até por volta das 20 horas. Esses objetos são os planetas Vênus (o de maior brilho) e Júpiter (de menor brilho). São os primeiros a aparecerem logo após o por do Sol. Na sua vizinhança há ainda a estrela Regulus (Alfa Leonis), a mais brilhante da constelação de Leão.

 

Foto do autor, em Itapajé – CE.

Em algumas noites a Lua acompanhou a dupla Vênus e Júpiter para embelezar o céu após o ocaso solar. Quando os planetas são visíveis do mesmo lado do céu chama-se isso de conjunção. Assim, no dia 18 deste mês, por exemplo, Júpiter e Vênus estiveram em conjunção com a Lua e juntamente com a estrela Regulus formaram uma “cruz” no céu. Mas isso é apenas uma curiosidade. Esses objetos encontram-se muito distantes um do outro. O que acontece é o efeito de perspectiva para um observador localizado aqui na Terra que terá a ilusão de vê-los angularmente próximos, pois não há percepção de “profundidade”. Aparentemente os astros ficam “avizinhados” um do outro.

A Lua é o objeto celeste mais próximo que se destaca para nós a 384 mil km aproximadamente. Vênus está em torno de 59,1 milhões de km e Júpiter a 932,9 milhões de km. Regulus, que é uma estrela com massa 3,5 vezes superior a do Sol e a principal de um sistema quádruplo, está muito mais distante, a 429,9 bilhões de km de nós, sendo visível como um pequeno ponto branco-azulado. Por essas distâncias podemos compreender o porquê desses astros serem vistos tão pequenos no céu como pontos luminosos e a Lua, o menor deles, parecer maior por estar mais próxima.

Até a primeira semana de agosto ainda veremos a dupla de planetas para o lado oeste, até se esconderem no horizonte e não mais serem visíveis após o por do Sol. Dessa vez Júpiter estará abaixo de Vênus que se move mais rápido em sua órbita. Seu deslocamento aparente entre as estrelas é maior que o de Júpiter.

Conjunção Vênus e Júpiter. No dia 30 de junho de 2015 ocorreu a maior aproximação angular entre eles (foram visualizados no mesmo campo de um pequeno telescópio). Junto ao planeta Júpiter pode-se observar também as luas galileanas Ganimedes, Io, Europa e Calisto como pequenos pontos (de cima para baixo na sequência). Vênus ainda se encontrava abaixo de Júpiter. Foto do autor, em Fortaleza – CE.

Por estarem baixos no horizonte, há alguns efeitos da turbulência atmosférica que podem dar a sensação de que estrelas brilhantes ou mesmo planetas “girem”, mudem de cor, etc., que associados a uma fértil imaginação do observador mais desavisado o faz confundir com os Objetos Voadores Não Identificados, os OVNI. Mas são perfeitamente identificados.

Para o semestre que já iniciou além de Vênus e Júpiter se despedirem na primeira semana de agosto (Vênus voltará a ser visível como astro matutino no final de agosto), seguem algumas datas com fenômenos astronômicos fáceis de acompanhar. São as luzes noturnas mais curiosas no céu do semestre, não vamos confundi-los com outras “coisas”. Aproveitemos para apreciar essas maravilhas da natureza:

29/ago – Lua Cheia. Primeira Super Lua de 3 que ocorrerão em 2015. O que chamam de Super Lua ocorre quando a Lua chega a sua fase de Cheia na sua menor distância à Terra (chamado de perigeu). Nesse caso, a Lua chegará ao perigeu e 20 horas depois alcançará a fase de Cheia.

27-28/set – Evento astronômico do ano para o Brasil: Eclipse lunar total visível em todo o território nacional, com início às 21h11 do dia 27 e término às 03h22 da manhã do dia 28, aproximadamente. O eclipse total da lua será plenamente visível no hemisfério Ocidental, em particular no Brasil e na Europa Ocidental (Portugal). Provavelmente o maior evento astronômico do ano.

28/set – Segunda Super Lua do ano. Na verdade “A” Super Lua do ano, já que ela atinge a fase de Cheia uma hora depois do perigeu.

01/out – De acordo com os modelos de aumento de brilho de cometas, o C/2013 US10 Catalina deve chegar ao seu brilho máximo. Se não faltarem dados nos cálculos, o Catalina deverá ser visível a olho nu.

16/out – Mercúrio atinge a máxima elongação matutina do ano.

26/out – Conjunção entre Júpiter, Vênus e Marte, que nascem antes de Mercúrio que estará muito baixo no horizonte, vindo a fazer parte da conjunção até se perder nos fulgores do Sol.  A imagem abaixo é da madrugada do dia 26 por volta das 4h45 da manhã para Fortaleza.

Fonte: simulador Stellarium

 27/out – Lua Cheia. Terceira (e última) Super Lua do ano, dessa vez a fase de Cheia acontece 23 horas antes do perigeu.

07/dez –  Conjunção da Lua e Vênus. Olhe para o leste pouco antes do nascer do sol.

Fonte: simulador Stellarium

13-14/dez – Chuva de meteoros Gemínidas. Ela é considerada a “rainha” das chuvas, com picos que beiram os 120 meteoros por hora associados à passagem de restos asteroide 3200 Phaeton. Este ano a lua não atrapalhará o evento, mas maiores informações são necessárias sobre as condições de observação dessa chuva para o hemisfério sul.

14/dez – Máximo da chuva de meteoros Geminídeos com uma taxa prevista de 120 meteoros por hora. A Lua estará apenas 12% iluminada, favorecendo a observação.

Fontes: Efemérides adaptadas para o Ceará a partir do site ASTRONOMIAQUI. Dados obtidos do Observatório Nacional. Fotos do autor e imagens do simulador Stellarium.

 

*Professor de Física e Astronomia. Licenciado em Física pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Astrônomo amador de longa experiência na pesquisa, ensino e divulgação da Astronomia. Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Astronomia e Cosmologia (GEPAC), do IFCE e do Clube de Astronomia de Fortaleza (CASF). É o coordenador do Observatório Astronômico do Colégio 7 de Setembro (OA7S). Coordenador da Pastoral da Comunicação da Paróquia de Santo Afonso.

Luzes no céu