17/08/2015

Dom Cláudio: REPAM quer ser um serviço válido para as grandes questões da Amazônia

REUTERS633931_Articolo


Manaus (RV) – Os passos para consolidar a Rede Pan-Amazônica é um dos objetivos do encontro que reúne em Manaus, a partir desta segunda-feira (17) até o dia 22, o Comitê Executivo da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM). Dom Cláudio Hummes, Presidente da Comissão para a Amazônia da CNBB, presente no encontro, falou dos desafios da Rede e da finalidade do encontro:


“A finalidade é organizar um pouco mais a sua própria estrutura, através de comitês, os comitês nacionais, o comitê central, a presidência desta rede. Quer organizar um pouco mais as competências, porque nós ainda não temos estatuto, então esta organização está se tornando agora já urgente um pouco mais. Em segundo lugar, é ver a caminhada que já foi feita até aqui, portanto de implantação, porque ainda estamos a caminho, ela ainda não está plenamente, digamos assim, desenvolvida. Tanto assim, que ainda não tivemos encontro com os bispos dos outros países não brasileiros, de fora do Brasil. Estes outros oito países. Esta reunião que vai ser feita em novembro, em Bogotá. Então estamos de fato a caminho. No entanto, o que nós estamos vendo, é que continua um grande entusiasmo, muita, muita decisão de continuar este trabalho e vendo como ele de fato hoje é urgente e necessário para a Pan-Amazônica, para se poder de fato fazer um trabalho mais de conjunto, um trabalho em que nós nos apoiamos mais, em que nós nos iluminamos também mutuamente e que também temos projetos comuns para toda a Amazônia. Entre este, este organizar, ainda refletir sobre estes aspectos todos é o que é o grande objetivo aqui desta reunião e nós pensamos que ela é muito importante e que nós devemos sair daqui com algumas coisas já bem estabelecidas”.


RV: Nós estamos a praticamente um ano da criação da REPAM, que realizou-se em Brasília em setembro passado. No encontro será feita uma avaliação da caminhada até aqui. O senhor poderia destacar alguns momentos e passos importantes dados neste um ano?


“Sim. Certamente alguns encontros foram fundamentais para se continuar este trabalho e o próprio comitê central que está, digamos assim, organizando os eixos fundamentais de atuação da REPAM em toda esta região. E sobretudo esta decisão que foi tomada de fazer um encontro com os Bispos não brasileiros, destas outras oito nações, que também tem região amazônica, portanto nesta Pan-amazônica, e de fazer esta reunião em Bogotá. Por que em Bogotá? Primeiro se pensava em fazer em Manaus, depois  decidimos e entendemos que era melhor fazer em Bogotá, porque estes países todos, este bispos, têm menos familiaridade com Manaus e com o Brasil. Então, fazer em Bogotá, onde fica o CELAM, estes bispos se sentirão muito mais em casa, poder ir lá para Bogotá, na sede do CELAM, para podermos então propor e discutir esta fundação da REPAM, da Rede, e de como ela pode ser um serviço também para o trabalho deles na sua região amazônica. Então esta foi uma decisão que a meu ver, foi muito importante em termos, digamos assim, de acolher melhor, desde o início, estes bispos que ainda não tinham nenhum contato maior com este caminho todo que levou à fundação da Rede. Então esta foi uma das coisas importantes. Outra atividade que se realizou foi a presença da Rede no encontro que houve na Organização dos Estados Americanos, onde esteve um dos nossos representantes, indo levar a questão dos direitos humanos aqui da região, sobretudo em relação aos indígenas, aos ribeirinhos e tudo mais. E foi uma presença que foi portanto assinalada, foi muito bem acolhida, foram muito bem acolhidos.  Este foi um dos passos que foi feito. E outro, que nós também estaremos agora que o Papa irá aos Estados Unidos, nós também estaremos lá presentes nestes dias em que ele estará em Washington e em New York. Também por causa, mais uma vez por causa dos direitos humanos, para que a nossa presença assinale também de novo às Organizações das Nações Unidas, nesta questão indígena, sobretudo a questão dos direitos humanos de modo geral nesta região. E não é apenas os indígenas, mas também a questão do tráfico humano, que é uma outra questão muito séria também aqui na Amazônia. Então o fato de o Papa estar alí e nós estarmos junto, isto também assinalará esta, digamos assim, este apoio que o Papa continua nos dando a este trabalho todo e nós achamos isto tudo muito importante.


RV: São bem nove países envolvidos na Rede Pan-Amazônica. Quais tem sido as maiores dificuldades encontradas na consolidação da Rede, pensemos à questão das distâncias, às dificuldades de comunicação pelas dimensões da Amazônia, entre as dioceses….


“Em alguns países as Conferências Episcopais estão começando a fazer um programa especial, específico para a sua área amazônica, estão mais assim, digamos, no começo deste trabalho. Então aí, nós de fato conseguir fazer este trabalho junto com eles e de integrá-los na Rede sem prejudicar e sem, digamos assim, ser um peso para o trabalho deles. Mas caminhando junto com eles na medida em que eles também estão fazendo este caminho, caminharmos juntos, muito mais do que querer propor o que tem que fazer, enfim, tudo isto. Pois se trata de uma rede. Eu sempre digo que a REPAM não é uma Conferência Episcopal Pan-Amazônica, ela é uma rede de apoio entre as Igrejas e a sociedade e o povo, nas suas grandes questões, também nas suas grandes aspirações no futuro. Então isto é um dos, digamos assim, desafios que nós temos. Certamente um desafio também é a comunicação. Mas isto também aqui no Brasil é igual. Mesmo os nossos bispos, aqui da floresta e outros lugares mais distantes. Não é fácil esta comunicação e manter viva esta consciência da existência da REPAM e dizer que a REPAM é um serviço que pode e quer ser um serviço que os ajude e não os atrapalhe no seu caminhar. Entre isto, certamente nós temos estes desafios da distância, a questão do tempo e do espaço, que aqui domina muito. Exatamente porque são regiões ainda pouco povoadas, relativamente. Então isto tudo são situações com que se pode e deve contar, sem sonhar com um mundo diferente, não, é este aqui, esta é a Amazônia de hoje que nós temos e é nesta Amazônia que nós devemos ser um serviço válido para as grandes questões. São alguns dos desafios. Outra coisa que ultimamente tem se integrado e tem se trazido para dentro da Rede, mas que já existia antes, são as questões da Igreja e a mineração. Houve já vários encontros, tanto do CELAM como da CLAR também, a questão do problema da mineração na Pan-Amazônia. E isto também está sendo agora acompanhado pela Rede. Tanto assim que agora também já houve uma reunião sobre Igreja e mineração em Brasília, onde também a Rede estava envolvida”.


RV: A REPAM, neste sentido, tem desafios importantes pela frente, até porque mexe com grandes interesses econômicos, como a mineração, por exemplo…


“Exatamente. Mas como diz o Papa, nós queremos ser simples e queremos ser abertos ao diálogo, sem deixar de ser proféticos. Quer dizer, aquilo que tem de ser denunciado, não podemos deixar de fazê-lo. Mas também não nos furtar de escutar mesmo os que pensam diferente de nós. E isto é muito importante. A REPAM também quer fazer isto. O Papa é sempre muito aberto e isto o Papa sempre diz: nós temos que ouvir os que pensam diferente, os que oferecem resistência. Também a eles nós devemos ouvir e cresce com este, digamos, cresce a intenção de entender por que estas pessoas e instituições tem tais resistências, enfim. Quais os motivos que há por detrás, para de fato se poder fazer um diálogo válido, que não seja superficial. E a REPAM, certamente, quer trilhar este caminho, com muita simplicidade e com os recursos que ela tem, mas ela tem este espírito de ser aberta, também de discutir, não apenas denunciar, mas também de discutir os vários projetos de desenvolvimento, enfim, e outras questões que afetam,  digamos, problematicamente esta região toda, os grandes problemas. Mas este espírito aberto, o Papa nos ensina muito. Ser profetas não significa apenas denunciar, mas significa também ser abertos, escutar, ouvir, e, enfim, ser até às vezes capaz de se enriquecer com o diálogo e ter posições mais lúcidas e objetivas do que simplesmente denunciando”.


RV: Em se tratando de Papa Francisco, podemos dizer que a Encíclica Laudato Si vai totalmente de encontro aos objetivos da REPAM…


“Para nós foi um presente caído do céu, de fato. Para todo mundo. Sempre digo que não é um documento somente para a Igreja, só para a Amazônia, é para o mundo inteiro e a sociedade de modo geral, está acolhendo bem o que ele colocou. Dificilmente você encontra alguém que tenha propostas que contradizem frontalmente, enfim, mas tem isto também. Mas ela está sendo bem acolhida, sobretudo pela sua…ela é carismática, ela tem uma visão ampla, ela tem uma visão global, ela tem uma visão que ultrapassa o econômico, o social, cultural, para ser também e ter uma visão ética sobre estas questões, uma visão religiosa sobre estas questões todas, pois envolve o ser humano em toda a sua integralidade. E também o planteta em toda a sua integralidade, e não só florestas, etc, biodiversidades, mas sobretudo o ser humano que está alí, as populações que estão alí, as populações originárias que viveram e vivem ainda nas florestas e que nos podem de fato ajudar a entender tudo isto. Então, acho que a Encíclica realmente foi uma luz num momento muito problemático, o Papa diz que é urgente, não se pode mais esperar, já devia ter sido feito e portanto, se ter coragem para tomar decisões que vão revolucionar um pouco a forma da economia, da produção, da distribuição, do cuidado com a natureza, com a água, com o ar, com a terra, a contaminação, o lixo, enfim, enfim. E sobretudo, então, também a vegetação, a preservação das florestas, das árvores, que são a grande riqueza que sustenta o planeta no seu dia-a-dia”.


RV: No dia 19 será lançada uma edição conjunta da Laudato Si editada pela REPAM, a CNBB e Arquidiocese de Manaus….


“É uma iniciativa muito importante, porque hoje em dia, facilmente você é levado de novidade para novidade. Então de repente apareceu a Laudato Si, todo mundo se entusiasmou, leu, etc, achou muito válida, mas depois dos acontecimento o mundo continua, traz outros acontecimentos, os noticiários estão cheios de outras coisas e você, a cada dia, passa para um outro capítulo, por assim dizer, vira a página e tem outra coisa. Então, manter viva a presença e  a luz desta Encíclica, também no meio de nosso povo, levá-la ao conhecimento, levá-la a que sociedade toda se interesse, sobretudo as nossas comunidades, as nossas famílias se interessem, porque elas todas têm, digamos, desafios éticos a realizar, porque interessante é que o Papa aponta quanta coisa eu pessoalmente posso fazer, quanta coisa minha família pode fazer, quanta coisa minha comunidade, minha paróquia, a minha escola, a minha cidade podem fazer em relação a tudo isto. Realmente, assim, é muito concreto. Então, manter viva esta presença da Encíclica no meio do nosso povo é um desafio constante que nós temos que sempre de novo retomar e se não retoma ela acaba aos poucos sendo atropelada e, enfim, enterrada, por tantas outras coisas”. (JE)



Dom Cláudio: REPAM quer ser um serviço válido para as grandes questões da Amazônia

Nenhum comentário :

Postar um comentário