22/08/2015

Editorial: O grito dos deserdados

Rádio Vaticana



Cidade do Vaticano (RV) – O drama de homens e mulheres forçados a abandonar suas terras em meio à indiferença e o cinismo chama a atenção novamente do Papa Francisco e da Igreja presente em todo o mundo, que desejam respostas para os sofrimentos indescritíveis que milhões de seres humanos devem suportar. Francisco colocando a mão sobre a dor dessas pessoas escolheu como tema para o 102º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, do próximo dia 17 de janeiro de 2015, “Migrantes e refugiados nos interpelam. A resposta do Evangelho da misericórdia”.


“Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, nos hábitos que anestesiam, no cinismo que destrói. Vamos abrir os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e vamos nos sentir desafiados a escutar o seu grito de ajuda”. A citação da Bula com a qual o Papa convocou o Ano da Misericórdia explica o tema desse Dia dedicado aos migrantes e itinerantes, que tem duas partes.


Na primeira parte uma referência direta aos migrantes e refugiados, isto é aos homens e mulheres obrigados a deixar suas terras, feridos e provados na dignidade, cujo grito deve provocar. Mas a este chamado no tema está relacionado, de modo explícito, à resposta do mundo e em particular da Igreja.


Francisco nos convida durante o Jubileu, que terá início no próximo dia 8 de dezembro, a refletirmos sobre as obras de misericórdia corporal e espiritual entre as quais está a da acolhida aos estrangeiros, os últimos e pequenos nos quais se encontram o próprio Cristo. Por isso, às Igrejas locais, – em vista do dia 17 de janeiro, também data jubilar dedicada a migrantes e refugiados -, a recomendação de programar iniciativas para envolver e sensibilizar as pessoas sobre o tema e realizar sinais concretos de solidariedade que exprimam atenção e proximidade, aproveitando precisamente a ocasião do ano jubilar.


Sobre o cinismo, mas também sobre a urgente necessidade de dar resposta ao problema das migrações é preciso uma reflexão mais profunda por parte de todos. Um dos defeitos do homem – disse à Rádio Vaticano o Presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e Itinerantes, Cardeal Antonio Maria Veglió – “é o de habituar-se, infelizmente a tudo, também às coisas mais trágicas”, como as que estamos vendo com a questão dos migrantes neste momento na Europa. Um exército de deserdados que tenta em todos os modos – em embarcações rudimentares – chegar ao “continente da sua esperança”. Uma esperança que como vimos nos últimos dias, termina nas águas do Mar Mediterrâneo, que se tornou um verdadeiro cemitério.


Por isso, não podemos nos habituar com o que ocorre, com o que vemos e seguimos pelos meios de comunicação: não devemos aceitar de modo passivo, indiferente, que se consumam dramas sem fim, de deserdados “sem casa e sem terra”. Essa situação deve nos interpelar, sacudir a nossa consciência.


Certamente o temor diante de um fenômeno como o da migração – e isso vemos também no Brasil com a presença de muitos haitianos – é normal, pois é um real problema para todos os países e não só para o Brasil. É também normal, na natureza humana porque cada um de nós vive a sua vida, vive no seu paraíso, e quando chegam pessoas desconhecidas nos condiciona, tira a liberdade, nos faz pensar em todas as dificuldades que podemos ter para viver juntos.


Mas devemos ultrapassar a barreira do medo e jamais construir muros. As atitudes extremas nunca ajudam a resolver os problemas.


E a Igreja como deve responder? Ela nos ajuda a jamais esquecer que Jesus está presente entre os pequenos, entre os que sofrem, entre os mais necessitados. Sendo discípula de Cristo, a Igreja é chamada a liberar, a anunciar a libertação daqueles que são prisioneiros das escravidões da sociedade moderna.


Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e vamos nos sentir desafiados a escutar o seu grito de ajuda. Que o grito de milhões de deserdados se torne o nosso grito. (Silvonei José)


 


(from Vatican Radio)



Editorial: O grito dos deserdados

Um comentário :

  1. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e vamos nos sentir desafiados a escutar o seu grito de ajuda. Que o grito de milhões de deserdados se torne o nosso grito. (Silvonei José)

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