10/08/2015

Eu sou o Pão da Vida


Ele é o filho de José; Ele vem do Pai e é o sustento, o alimento da nossa vida, de nossa existência.




Por Cardeal Orani João Tempesta*


A Liturgia da Palavra do XIX Domingo do Tempo Comum esteve centralizada na leitura do evangelho da multiplicação dos pães. Estamos lendo aos domingos o capítulo 6º do Evangelho de João. Jesus reclama porque os judeus não quiseram compreender o sinal da multiplicação. Claramente, Ele afirma: “Eu sou o pão que desceu do céu! Quem dele comer, nunca morrerá”!


Eis aqui a grande revelação do Senhor! Os interlocutores de Jesus só conseguem ver a superfície, somente compreendem que Ele é o filho de José; não percebem, não creem que Ele vem do Pai, como alimento de nossa existência: Ele é o sustento, o alimento da nossa vida. Afinal, que é viver? Será simplesmente existir, respirar, sobreviver de qualquer modo, sem rumo, sem sentido, sem uma finalidade para a existência? Que vida seria essa? Pois bem, Jesus afirma que Ele dá o sustento verdadeiro à nossa vida; com Ele, a vida tem sentido, tem rumo, tem razão de ser; com Ele, descobriremos porque vivemos, descobrimos de onde vimos e para onde vamos, descobrimos que somos amados! Eu sou o pão da vossa vida! Precisais mais de mim que vosso corpo do pão de cada dia. Quem come desse pão que sou Eu, isto é, quem se alimenta de meu amor, de minhas palavras, de meu caminho, nunca viverá uma vida de mentira, de ilusão, de morte; antes, viverá de verdade.


Basta pensarmos na situação de Elias, na primeira leitura de hoje. Ele tinha vencido os profetas de Baal no monte Carmelo. Jezabel, a rainha idólatra, tinha prometido vingança e queria matá-lo. O profeta sentiu medo e fugiu, procurando esconder-se no deserto para encontrar inspiração e consolo no monte Sinai, o Monte de Deus. E lá vai Elias… Mas o caminho longo, os dias quentes do deserto, a solidão, a tensão da fuga, tudo isso traz desânimo e depressão ao profeta.


A vida lhe parece dura, amarga, sem sentido. Cansado, ele se rende e pede a morte: “Agora basta, Senhor! Tira a minha vida, pois não sou melhor que meus pais… Sou igual a todo mundo, não sou a palmatória do mundo… Cansei! Quero morrer”! Quantas vezes somos como Elias, quantas vezes a existência nos pesa, o sentido da vida parece nos esconder; quantas vezes parece que apenas sobrevivemos, mas não temos ideia para onde vai o caminho… O desengano do profeta é tão profundo que ele, deprimido, cai no sono. E o Senhor envia-lhe um anjo: “Levanta-te e come’! E ele viu junto à sua cabeça água e um pão assado… ‘Ainda tens um longo caminho a percorrer’. Elias levantou-se, comeu e bebeu e, com a força desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus”.


Caríssimos, também nós estamos a caminho, também nós precisamos de um pão como o de Elias. Em tempos de tantos falsos profetas, ao nos cansarmos, como Elias, temos o alimento que nos dá vigor no deserto da vida.


Esse pão o Senhor nos dá, esse pão é o próprio Cristo, que hoje nos diz: “Eu sou o pão da vossa vida”! Infelizmente para nós, caríssimos, nos iludimos, procurando saciar nossa fome de vida com coisas que não alimentam o coração. É aquela antiga queixa de Deus, pela boca do profeta Isaías: “Ah! Todos que tendes sede, vinde à água. Vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; comprai sem dinheiro e sem pagar, vinho e leite. Por que gastais dinheiro com aquilo que não é pão, e o produto do vosso trabalho com aquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me com toda atenção e comei o que é bom. Escutai e vinde a mim, ouvi-me e havereis de viver”! (Is 55,1-3).


O Senhor revela: “O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo”! É surpreendente, é inesperado! Aqui, o Senhor está falando claramente da Eucaristia: Eu sou o pão da vossa vida, eu vos alimento de vida e de sentido de viver; e eu fico entre vós, fico convosco, alimento-vos de um modo que não esperáveis; minha união convosco é total, absoluta: eu vos dou verdadeiramente minha carne, meu corpo morto e ressuscitado, como vida da vossa vida! Meus irmãos, não pode haver maior dom, maior intimidade, mais revigorante alimento! São muitos os que murmuravam no passado e muitos também hoje, mas Cristo, nosso Deus, que tem palavras de vida eterna e para quem nada é impossível, nos garante: “O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo”!


A Eucaristia, comunhão no santíssimo Corpo do Senhor, não somente é alimento para o nosso caminho, não somente o sustento da nossa vida, não somente é penhor de vida eterna, como também nos dá a graça que nos faz ser um só corpo em Cristo. Eis, que mistério tão profundo: comungando do Corpo do Senhor na Eucaristia, nós nos tornamos cada vez mais unidos no corpo do Senhor, que é a Igreja! Comunguemos, pois, e teremos força para viver o belo caminho que a segunda leitura deste domingo hoje nos aponta: “Vivei no amor, como Cristo nos amou e se entregou a si mesmo a Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor”. Eis aqui: a nossa participação no sacrifício eucarístico de Cristo, a nossa comunhão no seu corpo sacrificado e entregue amorosamente devem nos levar a um novo modo de viver, um modo que consiste na docilidade ao Espírito do Senhor morto e ressuscitado, que significa comunhão com Deus e com os irmãos.


Quem se alimenta desse Pão não contrista o Espírito Santo e é bom um para com o outro, imitando o Senhor, vivendo no amor e perdoando: “Sede bons uns para com os outros, sede compassivos; perdoai-vos mutuamente, como Deus vos perdoou por meio de Cristo”!



CNBB 07-08-2015.

*Cardeal Orani João Tempesta é arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ).


Eu sou o Pão da Vida

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