Animação que adapta livro de Saint-Exupéry estreia nesta quinta; G1 já viu.
Mark Osborne, de ‘Kung fu panda’, mistura digital e tradicional stop motion.
Há três filmes em “O pequeno príncipe”, e só um deles é bom – os outros dois são razoáveis. A animação que estreia nesta quinta-feira (20) adapta – e meio que recria e meio que se perde irremediavelmente ali pelo fim… – o clássico livro de Antoine Saint-Exupéry, apontado como um favorito de candidatas de concursos de miss.
O primeiro dos três filmes é mais ou menos, e já ali percebemos que o diretor Mark Obsorne (“Kung fu panda”) está mais interessado em fazer bela homenagem que bom cinema. E em fazer as crianças entenderem tudo e garantir o choro dos pais delas. A história, neste princípio, nada tem a ver com a obra inspiradora, é tudo invenção dos roteiristas.
Em cena, uma garotinha oprimida pela mãe obsessiva e histérica, que quer porque quer colocá-la na melhor escola da cidade. Não há smartphones nem computadores em cena, mas a ideia é atualizar o material. Eis então que, muito solitária e soterrada pelas obrigações de estudos preparatórios, a menina conhece o vizinho. Ele é um velhinho que tem a simpatia previsível e irresistível dos desajustados. E que vai, aí sim, apresentar à amiguinha o livro que mudará a vida dela. Surpreendente.
Só que já vimos este filme, e ele era melhor. Chamava “Up – Altas aventuras” (2009). Osborne assume que, sim, “Up” serviu de inspiração para este momento do seu Pequeno Príncipe em que se juntam dois amigos de idades tão diferentes.
Chega-se, enfim, ao segundo dos três filmes que existem em “O pequeno príncipe”. E este vale a pena. Para ilustrar a história que o senhor vai contando à garota, Osborne abandona a animação digital e usa técnica tradicional de animação, stop-motion, filmada quadro a quadro.
Este método quase artesanal é aplicado para apresentar o livro propriamente dito de modo bastante fiel. Lá estão o Pequeno Príncipe e seu planetinha, personagens como a rosa, a cobra, a raposa.
Não faltam, claro, as frases de efeito, aquilo de “o essencial é invisível aos olhos” e “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, na infeliz tradução para o português. Uma mensagem, aliás, habitualmente mal compreendida e, em casos extremos, usada como justificativa por stalkers sentimentais, como Glenn Close perseguindo Michael Douglas em “Atração fatal”.
Osborne e equipe devem ter tido trabalho considerável nesta seção. Trabalho braçal, sobretudo. O problema é quando o time resolve acreditar novamente em trabalho criativo e inventa de “recriar” a trama original. Neste momento, acontece o terceiro dos três filmes de “O pequeno príncipe”, que é a mistura da história da garotinha com a história do livro. Talvez funcionasse separadamente como desenho animado de ação frenética e tensa. Aqui, não.
Em recente passagem pelo Brasil, o diretor brincou que nada lhe dá mais alegria do que ver gente saindo aos prantos de uma sessão de “O pequeno príncipe”. É possível, ou até provável, que isso ocorra, de fato. Mas não é pelo filme em si como um todo, e sim por momentos isolados. Para a sorte de Osborne, ninguém se torna, em tese, eternamente responsável por aquilo que não cativa.
O pequeno príncipe' vale por tributo, mas se perde ao recriar clássico
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