08/10/2015

Dom Aloísio Lorscheider faria 91 anos

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Padre Geovane Saraiva*


Bof“[…] Para aprofundar e anunciar os mistérios da nossa fé é preciso entrar no silêncio de Deus”, dizia Dom Aloísio Cardeal Lorscheider, que pela graça de Deus, se fez discípulo de São Francisco de Assis em toda sua plenitude, ao asseverar sobre o “Poverello d’Assisi”: “Um homem livre, amarrado a ninguém, levando-o a redescobrir a pureza original das criaturas. Indubitavelmente, o Cântico das Criaturas expressa esta liberdade interior e exterior conseguida pelo Santo de Assis. Só uma vida inteiramente aberta a Deus e ao Irmão é capaz de dar à criatura humana o gozo da libertação, que conduz à liberdade pura e santa com que Deus nos criou”.


Que a mística franciscana tão presente na vida de Dom Aloísio, ao mergulhar no Mistério da Encarnação, dom de Deus para o Ceará (Arquidiocese de Fortaleza), pelo anúncio revelador de uma Igreja com rosto verdadeiramente pascal, na mais profunda liberdade e perfeita alegria, nos proporcione gestos concretos, no sentido de desmanchar a montanha do orgulho e do egoísmo, amparados pela simbologia do manto da paz, da justiça, da ternura e da solidariedade.


Um Deus que amou tanto o mundo, a nos presentear com seu Filho único no mistério do Natal (cf. Jo 3,16), deu-nos por 22 anos um amigo, um pastor, um teólogo e um Cardeal, que sabia compreender a realidade na sua conjuntura e, com suas posições bem claras e definidas, nas análises e nas conclusões teológicas pastorais, ao passar às pessoas de boa vontade, um clima que favorecia e gerava uma confiança generalizada. Dom Aloísio nos faz pensar que o consumismo, o egoísmo e o individualismo não podem ofuscar o florescimento da alegria e da esperança dos irmãos e irmãs, ávidos a sempre mais redescobrir, numa bela e maravilhosa aventura, que Deus é amor.


Foi exatamente a virtude da simplicidade e da humildade que o transformou no Cardeal que mais se destacou em todos os Conclaves e Sínodos, dos quais participou, gerando para o mundo inteiro e, especialmente para a imprensa, uma grande expectativa. Sua palavra corajosa e profética era acolhida por todos como uma boa notícia, como uma dádiva que descia do céu! Eis que disse o Senador Pedro Simon a respeito de Dom Aloísio: “[…] sua voz, naturalmente doce, alternava-se quando era preciso confrontar os vendilhões da justiça, quando todos os jardins da democracia corriam o risco de ser alvo de bombas atiradas pelos olhares fixos da repressão. Sua voz ecoou pelos corredores das prisões […]”.


Em Francisco de Assis Dom Aloísio Lorscheider descobriu a verdadeira face de Deus, indispensável no traçado de seus passos, a partir dessa realidade misteriosa, quando o afirma numa tônica poética, com profunda sabedoria: “Sempre fiquei muito impressionado e atraído pelo amor quente e apaixonado que São Francisco dedica a Deus. Parece que no beijo do leproso ele entendeu, como Saulo no caminho de Damasco, a doação total de Deus a nós em seu Filho Jesus Cristo. Custou a Francisco não só descer do cavalo fogoso que no momento montava, mas muito mais do cavalo do orgulho e da vaidade com que ele queria conquistar o título de grande e nobre”.


A espiritualidade franciscana foi imprescindível em todo seu trabalho e na sua caridade pastoral para com os empobrecidos, chegando a se pronunciar, num artigo publicado em 1982, na Revista Grande Sinal: “À medida que passam os anos, São Francisco merece maior atenção. Em nossos dias, sobretudo, com a redescoberta do lugar social do pobre na Igreja e no mundo, o interesse pelos ideais de São Francisco faz-se mais vivo” […].


No mesmo desejo do Cardeal Lorscheider, que foi  o de redescobrir o lugar social dos empobrecidos da Igreja e no mundo, recordo o que o que disse o Papa Francisco, naquela manhã de segunda-feira (08/07/2013), na sua primeira visita em território italiano, que o levou a Lampedusa: uma ilha que faz fronteira entre a África e a Itália, assim se expressou: “Somos uma sociedade que não sabe mais chorar; Senhor, dai-nos a graça de chorarmos pela nossa indiferença, pela crueldade que existe no mundo e em nós”.


*Escritor, blogueiro, colunista, vice-presidente da Previdência Sacerdotal e Pároco de Santo Afonso, Parquelândia, Fortaleza-CE –geovanesaraiva@gmail.com



Dom Aloísio Lorscheider faria 91 anos

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